Coronavírus tem incidência maior no Norte e Nordeste do Brasil, diz estudo
Por Fidel Forato | 01 de Junho de 2020 às 17h02
Casos do novo coronavírus (SARS-CoV-2) seguem em escalada no Brasil. Segundo os dados apresentados ontem (31) pelo Ministério da Saúde, o país já ultrapassa a marca dos 500 mil contaminados pelo vírus. Agora, um estudo da Fiocruz Pernambuco aponta para um maior crescimento das taxas de incidência da COVID-19 em estados do Norte e Nordeste, com aceleração dessas taxas acima do resto do país.
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Elaborada pelo pesquisador Wayner Vieira, do departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco, a análise com os dados do coronavírus no país retrata um deslocamento da maior incidência da COVID-19 entre os estados brasileiros, começando com a epidemia nos estados do Sudeste e migrando para o Norte e o Nordeste.
Treze estados dessas duas regiões tiveram crescimento da taxa incidência, ou seja, do número de casos divididos para cada um milhão de habitantes, aumentando mais que a média brasileira. Em dois deles o aumento foi de quase 50 vezes em maio desse ano, como Tocantins (49,8 vezes) e Sergipe (47,8). Além disso, as taxas de Alagoas, Pará e Paraíba cresceram mais de 20 vezes.
Já Roraima, Piauí, Acre, Maranhão, Amazonas e Amapá cresceram mais de 10 vezes. Bahia, Roraima, Ceará e Pernambuco viram a taxa aumentar em nove vezes. No mesmo período, a média do crescimento no Brasil foi de sete vezes. Nesse sentido, o Rio Grande do Norte foi o único estado do NE abaixo desse número, com 6,6 de crescimento de casos de coronavírus.
Histórico da COVID-19 no BR
Na análise, o pesquisador da Fiocruz considera alguns fatores para a maior incidência atual de casos da COVID-19 e no movimento migratório do coronavírus. No primeiro momento, a pandemia atingiu o país em áreas “menos pobres”, com a COVID-19 sendo trazida por viajantes que circularam pela China, Europa e posteriormente América do Norte para o eixo Rio-São Paulo, Distrito Federal, distrito industrial de Manaus, Fortaleza e Recife (as duas últimas cidades foram incluídas pela atividade do turismo intenso).
Até 19 de abril, dos dez estados com a maior taxa de casos por milhão de habitantes, destacavam-se três da região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo) e uma unidade do Centro-Oeste (Distrito Federal), quatro do Norte (Amazonas, Amapá, Roraima e Acre) e duas do Nordeste (Ceará e Pernambuco).
Já ao analisar o período até 19 de maio (um mês depois), dos dez estados com maior taxa, nove pertencem às regiões Norte (Amazonas, Amapá, Pará, Paraná e Acre) e Nordeste (Ceará, Pernambuco, Maranhão e Sergipe), sendo que o único do Sudeste passa a ser o Espírito Santo. Em outras palavras, a epidemia migra para regiões com menor PIB (produto interno bruto).
Nesse intervalo de um mês, o Amazonas passou de uma taxa de 493 casos por milhão de habitantes em abril, para 5.300 em maio. O Amapá passou de 492 para 5.100. Roraima, de 366 para 3.277 e Ceará, de 356 para 3.078. Na comparação, estados com mais recursos parecem menos atingidos pela pandemia, como por exemplo o Paraná, onde a taxa passou de 86 para 217, e o Rio Grande do Sul, de 75 para 329.
“Esse crescimento acelerado no Norte-Nordeste não pode ser explicado tão somente por questões de momento, existe uma lacuna de desenvolvimento nesses estados, refletida por exemplo pelo IDH (Índice de desenvolvimento Humano)”, explica o pesquisador Wayner. “O IDH reflete um passivo social, humano, existente. Os estados onde as taxas mais aumentaram são os mais pobres. Com a interiorização da COVID-19 que está acontecendo, essa situação tende a ser observada com mais intensidade”, conclui.
Fonte: Agência Fiocruz