Coronavírus: plataforma brasileira informa risco de COVID-19 em cada região
Por Fidel Forato |

No combate ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), boas iniciativas têm surgido para agrupar dados e informações sobre a COVID-19, buscando conscientizar a população sobre a infecção respiratória. É o caso da plataforma desenvolvida em um projeto de iniciação científica na Universidade Federal do Paraná (UFPR) pelo estudante de medicina Faissal Nemer Hajar.
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Programador autodidata, Hajar construiu um site para mapear casos da COVID-19, a partir de relatos de colaboradores espalhados pelo Brasil — até o momento, foram quase 170 mil pessoas. Além disso, o projeto Juntos Contra o COVID usa dados de geolocalização para entender como essa doença infecciosa se espalha e, assim, permite que um usuário saiba qual é o risco de contrair o vírus em uma determinada região.
Como é?
Dependendo exclusivamente de quem participa, são os próprios usuários que alimentam a plataforma. Dessa forma, devem informar sexo, idade e endereço onde vivem, além de algumas informações complementares, como se tomaram a vacina da gripe ou ainda se foram testados para a COVID-19. Também devem ser colocados sintomas compatíveis com os da infecção pelo coronavírus, como febre.
O usuário é questionado sobre problemas de saúde, se entrou em contato com casos suspeitos ou confirmados da COVID-19 e se viajou para algum local onde há a chamada transmissão comunitária (onde o vírus circula livremente). Para responder a estas questões, o usuário deve fornecer seu e-mail, que é mantido em sigilo.
A partir do levantamento desses dados, um algoritmo identifica em qual das três categorias de risco a pessoa se encaixa e também a identifica no mapa do site, de acordo com as seguintes classificações:
- Graduação de baixo risco (azul): indivíduos assintomáticos sem histórico de contato com o vírus. Entretanto, essas áreas ainda podem ter o vírus presente, já que existe a possibilidade de infecção ativa assintomática;
- Graduação de risco médio (amarelo): indivíduos com sinais e sintomas de infecção respiratória, mas que não viajaram para regiões onde há transmissão comunitária, não têm certeza se entraram ou não em contato com pessoas suspeitas ou pessoas confirmadas para a COVID-19. Logo, isso pode se tratar de transmissão comunitária do coronavírus, bem como uma infecção por outro vírus;
- Graduação de alto risco (vermelho): indivíduos que apresentam sintomas da infecção pelo coronavírus e relatam terem entrado em contato com casos confirmados ou suspeitos da infecção — ou até mesmo viajaram para um local onde existe transmissão comunitária. Dessa forma, o Ministério da Saúde gradua esses indivíduos como suspeita para COVID-19. Ademais, indivíduos que já testaram positivo para o vírus também entram na graduação de alto risco.
Já o usuário que apenas acessa o site pode checar no mapa quantos pontos azuis, amarelos e vermelhos existem em uma região. Dessa maneira, pode entender se está em uma área de risco para a COVID-19 ou não. "Queremos conscientizar as pessoas sobre a presença do coronavírus onde elas moram. Mas a gente ressalta que, mesmo onde só há pontos azuis, não significa que o vírus não esteja presente, porque até 30% das infecções podem ser assintomáticas", explica o estudante Faissal para a BBC.
Coleta dos dados
Todas as informações compartilhadas estão sendo reunidas em uma base de dados que, posteriormente, será disponibilizada publicamente e assim poderá ajudar em estudos sobre a pandemia do coronavírus. No entanto, a forma de contribuição (só dados colaborativos) pode limitar o mapeamento de risco às áreas que tiveram acesso ao projeto, como os grandes centros urbanos.
Além disso, o epidemiologista Lúcio Botelho, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ressalta que pessoas saudáveis podem se sentir mais motivadas a participar do projeto que aquelas que foram contaminadas.
"Como a participação é voluntária, você fica dependente de uma pessoa querer ou não colocar os dados, e as pessoas têm uma tendência maior de informar voluntariamente algo que é bom do que algo que é ruim", explica Botelho. Dessa forma, o mapa pode indicar menos casos do que os que existem, na realidade, em uma região. Para o médico "uma forma de corrigir isso seria agregar ao mapa dados de outras fontes".
Em busca de financiamento
Sabendo das limitações da iniciativa, o grupo que conta com a participação do estudante Hajar e de outros colaboradores procura alternativas para aprimorar o site, como a de atualizar a plataforma com dados oficiais. Além disso, aumentar a visibilidade do site tornará as informações sobre o coronavírus exibidas pelo mapa mais precisas. Para essa nova etapa, a equipe procura financiamento.
Com um aumento significativo do número de colaborações nos últimos dias, o espaço para armazenamento nos servidores que armazenam as informações dos participantes, doado pela Amazon, uma dos patrocinadoras da iniciativa, se esgotou.
Por enquanto, a coleta de novas informações foi temporariamente interrompida, até o levantamento de novos recursos. "Queremos voltar a funcionar normalmente nos próximos dias", avisa Hajar.
Para conferir a plataforma Juntos contra o COVID, clique aqui.
Fonte: BBC