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Cirurgião salvou inúmeras pessoas devido a acidente que mudou sua personalidade

Por| Editado por Luciana Zaramela | 06 de Junho de 2022 às 13h38

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twenty20photos/Envato
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Stephen Westaby é um cirurgião cardíaco pioneiro: ele ajudou a desenvolver e melhorar bombas cardíacas e corações artificiais, além de operar mais de 12.000 corações, salvando 97% dos pacientes — mas tudo isso graças a ter batido a cabeça aos 18 anos. O acidente, à primeira vista preocupante, mudou a personalidade do médico, uma reviravolta que ele encara como essencial para sua iniciativa na vida.

A vida do médico foi marcada pela morte do avô, que sofreu uma série de infartos ao longo da vida e faleceu na presença do pequeno Stephen, que viu o ente querido cianótico, sem poder respirar, entrando na ambulância. Foi o avô que notou a ambidestria do britânico, quando o ensinou a pintar e o percebeu ter habilidade com ambas as mãos.

Junto à perda do avô, outra coisa influenciou na decisão da carreira médica: quando tinha 7 anos, Stephen viu uma máquina coração-pulmão funcionar na série Your Life in Their Hands (Sua vida nas mãos deles), da BBC, que o maravilhou e o determinou a escolher a cardiologia.

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Mudando a cabeça

Nem tudo foi determinado na infância do médico: segundo ele, cirurgiões precisam ter o temperamento certo — coisa que não tinha. Stephen era tímido e modesto, sem grandes pretensões, algo que poderia atrapalhar em uma carreira que exige responsabilidade no pós-operatório de bebês, coragem para explicar a uma família que seu ente querido faleceu ou enfrentar um apocalipse na emergência.

Quando teve a oportunidade de estudar em Cambridge, ele recusou, acreditando que estaria deslocado na prestigiada universidade. Foi, então, para a Charing Cross Medical School, em Londres, onde pensou que teria — e teve, no início — uma vida universitária monótona. Mas Stephen resolveu começar a jogar rúgbi, e, em 1968, saiu em turnê contra outros times junto a seus colegas, quando tinha 18 anos.

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Enfrentando um time da Cornualha, ele foi atingido com força na cabeça, fraturando o osso frontal. Os companheiros da universidade só o levaram para o hospital após uma rodada de bebidas em um pub local, um desmaio e uma noite de sono, da qual acordou muito doente. Na primeira noite no hospital, ele flertou com a enfermeira e respondeu agressivamente quando tentaram atendê-lo. Nada parecido com o rapaz tímido e introvertido que era.

A pequena rachadura no crânio, revelada pelos raios-X, afetou a área cerebral responsável pelo raciocínio crítico e prevenção de riscos, deixando-o desinibido, irritável e, de vez em quando, agressivo. Testes psicológicos revelaram uma pontuação alta no "inventário de personalidade psicopata", que o psicólogo informou ser normal em grandes realizadores e, particularmente, em cirurgiões — ou seja, nada preocupante.

O esperado era que Stephen voltasse ao normal com o fim do inchaço, o que não aconteceu: ele ficou menos inibido e com menos medo para o resto da vida, relatando parecer imune ao estresse. Logo, se tornou secretário social da faculdade, organizando festas, e virando capitão de rúgbi e críquete. Com coordenação, destreza manual e, agora, ousadia, ele tinha tudo para ser um cirurgião muito bem-sucedido.

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Corações mecânicos

Então foram quatro décadas operando corações: ele se especializou em cirurgia pediátrica, desenvolvendo um método de cirurgia cardíaca sem cuidados intensivos, mas não parou por aí. Transplantes de coração são difíceis, já que precisam da morte de alguém para obter o órgão, e Stephen achava que uma solução melhor poderia existir.

Em 1993, ele conheceu Robert Jarvik, engenheiro que trabalhava com corações artificiais e inventou uma bomba que ajudava a circular o sangue. O agora Dr. Westaby ajudou a descobrir uma forma de mantê-la funcionando, o que Jarvik não havia conseguido, e criaram juntos o Jarvik 2000, turbina miniaturizada movida a bateria.

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O primeiro paciente a possuir a máquina foi Peter Houghton, à época com 59 anos, que lembrou muito o avô do Dr. Westaby quando entrou em seu escritório, em uma cadeira de rodas, com lábios azuis, barriga e tornozelos inchados. Isso despertou, no médico, uma enorme vontade de ajudar, e ele conseguiu fazê-lo: Peter viveu por mais 8 anos com o aparelho, mais do que qualquer usuário de coração artificial na época.

O ciclo se completou quando, em 2004, o Dr. Westaby foi convidado por produtores televisivos a estrelar um episódio de Sua vida nas mãos deles — o mesmo que inspirou sua carreira décadas atrás. Muito feliz em estrelar no programa, a fama do profissional saiu dos círculos médicos para a TV: com 73 anos, ele é celebrado como pioneiro e inovador na sua área, pela qual é eternamente apaixonado.

Fonte: BBC