Cientistas observam interior do cérebro de pessoa com Alzheimer
Por Nathan Vieira |
Como é o cérebro de uma pessoa com Alzheimer? Essa é uma questão que serve como base para diversos estudos científicos. No caso de um novo artigo publicado na Nature, os pesquisadores se concentraram em fazer recriar a estrutura molecular 3D do cérebro de pessoas com a condição.
Os modelos 3D incluíram duas proteínas associadas ao Alzheimer: beta-amiloide e tau. Por conta disso, agora temos uma visão muito detalhada de como elas estão organizadas, até em detalhes microscópicos.
Para o estudo, os pesquisadores usaram uma série de técnicas avançadas de imagem para escanear tecido cerebral de pacientes com Alzheimer, incluindo tomografia crioeletrônica, que usa leituras de feixes de elétrons para mapear estruturas 3D de tecido.
A técnica em questão permite imagens sem fixação química ou desidratação que interrompa a estrutura do tecido biológico, o que significa que os cientistas agora podem reconstruir volumes 3D de tecido com resoluções um milhão de vezes menores que um grão de arroz.
Estrutura molecular 3D
Ao observar essas proteínas, os pesquisadores esperam entender melhor como os aglomerados de proteína são formados e como eles impactam o cérebro.
Os cientistas encontraram uma mistura de estruturas microscópicas semelhantes a fios chamadas fibrilas e outras estruturas nas proteínas beta-amiloides. Em proteínas tau, havia aglomerados de filamentos em linhas retas.
Embora os aglomerados fossem semelhantes entre si, havia diferenças em como os filamentos tau eram orientados e torcidos e no tamanho das fibrilas beta-amiloides. Confira abaixo as estruturas:
É a primeira vez que cientistas conseguem observar essas proteínas neste nível de detalhe. Agora que a técnica demonstrou funcionar, a ideia dos cientistas pode ser testada em mais doadores.
No futuro, a técnica pode revelar mais sobre como essas diferentes proteínas aparecem nos diferentes pontos da progressão do Alzheimer.
Proteínas tau e beta-amiloide
A beta-amiloide forma placas entre os neurônios e interfere na comunicação celular. Paralelamente, a proteína tau, que normalmente estabiliza os microtúbulos nos neurônios, pode sofrer modificações anormais e agregar-se em emaranhados neurofibrilares dentro das células nervosas, comprometendo o transporte intracelular.
Esses dois processos (a formação de placas de beta-amiloide e os emaranhados de tau) estão associados à morte neuronal e à perda de sinapses, levando aos sintomas característicos do Alzheimer, como perda de memória e declínio cognitivo.
Por isso, vários estudos tentam entender essas proteínas sob a premissa de desvendar o Alzheimer e desenvolver tratamentos. No ano passado, tivemos o primeiro remédio que silencia a proteína tau.
Fonte: Nature