Publicidade

Cientistas conseguem reviver células oculares cinco horas após sua morte

Por| Editado por Luciana Zaramela | 16 de Maio de 2022 às 17h10

Link copiado!

Twenty20photos/Envato Elements
Twenty20photos/Envato Elements

Cientistas da Universidade de Utah conseguiram, liderados pela pesquisadora Fatima Abbas, devolver a vida a células oculares cinco horas após a morte de um doador de órgãos. Embora estudos anteriores já houvessem restaurado atividades elétricas em olhos, o sucesso era muito limitado e nunca havia sido atingido na mácula, parte da retina responsável pela visão central e por enxergar detalhes e cores.

Segundo os pesquisadores, a ideia era investigar como os neurônios morrem e como seria possível revivê-los. A retina humana foi utilizada como um modelo do sistema nervoso central, onde experimentos de reversão da morte cerebral neuronal foram realizados. O estudo foi publicado na última quarta-feira (11) na revista científica Nature.

Continua após a publicidade

Revivendo órgãos

Para alguns órgãos do corpo humano, a doação é relativamente simples: rins e fígados podem ser colocados no gelo por horas, por exemplo, o que desacelera o dano causado pela falta de oxigênio e permite transplantes. Tecido do sistema nervoso central, no entanto, "estraga" após menos de quatro minutos, dificultando qualquer manipulação depois da morte do paciente.

O novo estudo, no entanto, desafia a inviabilidade de órgãos contendo células nervosas essenciais para seu funcionamento. No começo dos estudos, os cientistas até conseguiam reviver as células fotorreceptoras, mas enfrentavam problemas sérios: não era possível fazer todas as camadas do centro da retina conversarem entre si, como ocorre em uma retina viva.

Os pesquisadores notaram, então, que o problema era a privação de oxigênio, o que os levou a procurar uma maneira de compensar essa falta: um dos co-autores, Frans Vinberg, desenvolveu uma unidade de transporte especial que restaurava o oxigênio e outros nutrientes nos olhos retirados de doadores nos 20 minutos seguintes à morte.

Continua após a publicidade

Além disso, Vinberg criou um aparelho que consegue estimular as retinas a produzir atividade elétrica e medir a resposta que o tecido apresentava a esses estímulos. Graças a isso, foi possível, pela primeira vez na ciência, medir os sinais de ondas B do centro da retina de olhos humanos após a morte. As ondas B são sinais elétricos associados à saúde das camadas internas da retina em olhos vivos.

Estimular a produção de sinais de ondas B em olhos mortos significa que as camadas da mácula estavam se comunicando novamente, como fazem para nos ajudar a enxergar quando estamos vivos, o que é um grande passo na ciência. Até o momento, definimos parcialmente a morte como um estado de morte neuronal irreversível, ou, ao menos, assim se pensava: se for possível restaurar neurônios ao seu estado vivo, isso pode implicar em uma nova definição do que se considera "morto".

As implicações na saúde incluem também, é claro, a possibilidade de desenvolver tratamentos para pacientes com doenças maculares, como a degeneração decorrente da idade. Futuros estudos acerca de doenças neurodegenerativas no restante do corpo também poderão ser feitas, apontam os cientistas.

Continua após a publicidade

Tangencialmente, os pesquisadores também creem ter encontrado o mecanismo responsável por limitar a velocidade da visão central nos seres humanos, além de ter dado abertura para o desenvolvimento de terapias visuais sem ter de realizar experimentos em primatas não-humanos ou mesmo humanos, já que será possível realizar testes em olhos já mortos. Camundongos de laboratório, por exemplo, não tem mácula, impossibilitando a testagem nesses roedores.

Fonte: Nature