Casos misteriosos de hepatite em crianças: o motivo, segundo especialistas
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Nas últimas semanas, uma onda de casos misteriosos de hepatite começou a afetar crianças nos Estados Unidos e na Europa. Especialistas apontam que a condição parece estar associada com os vírus que causam sintomas do resfriado, conhecidos como adenovírus humanos (HAdV). Normalmente, esse tipo de agente infeccioso não causa complicações graves aos pacientes.
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Segundo as autoridades de saúde do Reino Unido, 108 casos de inflamação súbita no fígado estão em investigação. Até o momento, a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (Ukhsa) contabiliza que oito crianças precisaram de transplante de fígado devido à hepatite misteriosa. Em média, a condição está afetando quem tem entre um e cinco anos.
Afinal, o que é hepatite?
Vale explicar que a hepatite é o termo bastante amplo, usado para descrever a inflamação do fígado. "Geralmente, é o resultado de uma infecção viral ou dano hepático causado pelo consumo de álcool", detalha o Serviço Nacional de Saúde (NHS), no Reino Unido. Como as crianças não foram expostas ao álcool e nem a outras drogas, acredita-se que a causa seja um vírus.
Na medicina, são conhecidos cinco tipos principais de hepatite, como A, B, C, D e E. No entanto, nenhum deles, até agora, parece ter causado a inflamação do fígado observada nas crianças. É neste contexto que os especialistas buscam comprovar que um adenovírus está relacionado com os casos.
Qual a origem dos casos de hepatite em crianças?
As análises ainda estão em andamento, mas "o gatilho mais provável" dos casos misteriosos de hepatite em crianças é a infecção de um adenovírus, explica Susan Hopkins, consultora médica da Ukhsa, para o canal BBC. Isso porque 77% dos casos em investigação testaram positivo para alguma forma de adenovírus.
Sobre a questão das crianças transplantadas, a especialista lembra que "transplantes nessa faixa etária são extremamente raros, por isso, estamos preocupados e queremos entender por que isso está acontecendo e o que mais podemos fazer".
Para que o comportamento da infecção tenha se modificado nas crianças, a equipe de pesquisadores britânicos sugere que o adenovírus possa ter sofrido uma série de mutações, o que provocou esta maior capacidade em gerar inflamações no fígado.
Outra suposição sobre o maior risco da infecção está relacionada às medidas que foram adotadas contra a covid-19, como o distanciamento social. Em tese, o fechamento de escolas e a redução do contato social poderiam ter levado crianças pequenas a serem expostas ao adenovírus um pouco mais tarde em suas vidas, o que desencadeou as atuais complicações.
Por enquanto, os especialistas não observam relações com a covid-19 e nem com os imunizantes. Isso porque nenhuma das crianças que desenvolveram a hepatite misteriosa estava vacinada.
Como prevenir casos de hepatite?
Para evitar casos de hepatite relacionados com os adenovírus, os médicos explicam que é necessário manter as práticas de higiene adotadas durante a pandemia, como lavar sempre as mãos, com água e sabão. Também é válido não manter contato próximo com outras crianças que apesentam sintomas gripais.
Além da questão de higiene, os pais e responsáveis podem se atentar para alguns sinais e sintomas da inflamação do fígado, como:
- Icterícia (olhos e peles amarelados);
- Urina escura;
- Comichão na pele (coceiras);
- Dor muscular;
- Perda de apetite;
- Febre.
Em caso de dúvidas, o indicado é sempre buscar o auxílio de um profissional de saúde, como o pediatra da criança. Até o momento, o Brasil não relatou nenhum caso similar aos que são observados na Europa e nos Estados Unidos.