Casos leves de covid podem gerar névoa mental pós-recuperação
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Cientistas dos Estados Unidos descobriram que casos leves e assintomáticos da covid-19 também podem afetar a saúde do cérebro, de forma duradoura. Quando afetados, os pacientes podem enfrentar problemas de memória e ainda apresentar perda da função executiva. O quadro é conhecido como névoa mental e é comum em casos de covid longa.
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Publicado na plataforma BioRxiv, o preprint — estudo ainda não revisado por pares — foi desenvolvido por pesquisadores de diferentes instituições dos EUA, como a Universidade Stanford e a Universidade Yale.
Névoa mental e sequelas no cérebro
Segundo os autores do estudo, as pessoas que tiveram a covid-19 "frequentemente apresentam sintomas neurológicos persistentes, incluindo comprometimento da atenção, concentração, velocidade de processamento de informações e memória". Em outras palavras, trata-se da névoa mental.
"Essa síndrome cognitiva da covid longa compartilha muitas características com a síndrome da Insuficiência cognitiva pós-quimioterapia (PCCI)", comentam. Isso porque alguns pacientes que tratam o câncer também precisam lidar com alguns desdobramentos, no caso, da terapia. Em inglês, o termo popular para a condição é chemobrain.
Agora, os cientistas norte-americanos descobriram que esses efeitos podem afetar também aqueles indivíduos que tiveram casos leves ou assintomáticos da covid-19. “As descobertas apresentadas aqui ilustram semelhanças impressionantes entre a neurofisiopatologia após a terapia do câncer e após a infecção por SARS-CoV-2, e elucidam déficits celulares que podem contribuir para sintomas neurológicos duradouros após uma infecção leve por SARS-CoV-2”, alertam os autores.
Estudando as sequelas da covid
No estudo, a equipe usou um modelo animal, mais especificamente, roedores. A partir do experimento em que as cobaias foram infectadas pelo vírus, foi possível observar a "diminuição acentuada" de novos neurônios sendo gerados na região do hipocampo apenas uma semana após a infecção.
Segundo os pesquisadores, a condição persistiu por pelo menos sete semanas no cérebro dos animais. Vale explicar que a geração de neurônios, nesse local, está relacionada à memória.
Além disso, os cientistas examinaram o tecido cerebral de nove pessoas com covid-19 que morreram no início de 2020. Nas amostras do tecido, marcadores de inflamação estavam "robustamente elevados".
Por fim, o grupo estudou 46 voluntários com quadros da covid longa, sendo que a maioria do grupo não foi hospitalizada. Os participantes foram divididos em dois grupos: aqueles com alterações cognitivas e sem nenhuma alteração. Os indivíduos com alteração apresentavam níveis elevados de uma proteína associada à inflamação no sangue, o que confirma o risco potencial de sequelas da covid-19, independente do quadro apresentado.
Fonte: BioRxiv