ButanVac é segura e gera boa resposta imune contra covid, mostra estudo
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 29 de Setembro de 2021 às 12h30
De olho na segunda geração de vacinas contra o coronavírus SARS-CoV-2 — aquelas que serão usadas nas doses de reforço —, o Instituto Butantan trabalha, em parceria com outros centros de pesquisa, no desenvolvimento do imunizante ButanVac. Da Tailândia, chegam os primeiros resultados de Fase 1 da potencial vacina contra a covid-19.
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Publicado como preprint — estudo sem revisão por pares — na plataforma MedRxiv, os ensaios clínicos de Fase 1 da ButanVac demonstraram que a vacina é segura e altamente imunogênica. Participaram deste estudo pesquisadores da Universidade Mahidol, de Bangkok, da Icahn School of Medicine do Hospital Mount Sinai, de Nova Iorque, e da Universidade do Texas, em Austin.
Metodologia
O estudo foi randomizado e controlado por placebo. Segundo os autores, todas as formulações testadas da vacina foram bem toleradas nos 210 voluntários, sendo 82 homens e 128 mulheres entre 18 e 59 anos. Os voluntários do estudo receberam duas doses do imunizante com intervalo de 28 dias.
Efeitos adversos foram relatados em menos de um terço dos participantes, e os sintomas mais frequentes foram: dor e sensibilidade no local da aplicação (mais comuns nos que receberam a maior dosagem); fadiga; cefaleia (dor de cabeça); e mialgia (dor muscular). Além disso, "não houve nenhum evento adverso sério relacionado à vacina", segundo os autores.
Vale destacar que o imunizante é chamado, internacionalmente, de NDV-HXP-S e está sendo testado também no Vietnã, além da Tailândia e do Brasil.
Resposta imunológica da ButanVac
No estudo, os cientistas afirmam que foi possível observar uma resposta imunológica significativa duas semanas após a aplicação da segunda dose da vacina. Mais especificamente, os participantes que receberam a dosagem de um micrograma (1 µg) apresentaram uma concentração média de imunoglobulinas IgG anti-S de 151,7 BAU/ml (unidades de anticorpos de ligação por mililitro).
Agora, nos voluntários que receberam 1 µg e adjuvante (substância que intensifica o potencial imunogênico da vacina), a concentração era de 199 BAU/ml. Para dosagens maiores, os indicadores foram de 228 BAU/ml (3 µg), 356,8 BAU/ml (3 µg e adjuvante) e 479,8 BAU/ml (10 µg).
“Mostramos que a vacina candidata NDV-HXP-S inativada tem um perfil de segurança aceitável e é altamente imunogênica. Esta vacina pode ser produzida a baixo custo em qualquer instalação projetada para a produção da vacina inativada do vírus da influenza”, explicam os autores no artigo.
A partir destes resultados, as formulações de 3 µg e 3 µg mais adjuvante foram selecionadas para serem avaliadas na próxima etapa do ensaio clínico, ou seja, a Fase 2.
Como funciona a ButanVac?
Para imunizar contra o coronavírus, a ButanVac adota um vírus responsável pela Doença de Newcastle (DNC) — que não provoca sintomas em seres humanos, mas atinge aves — como vetor viral inativado. Dessa forma, o vírus da DNC é editado geneticamente e tem incluído no seu material genético fragmentos do vírus da covid-19 para que, assim, desencadeie uma resposta imunológica contra o coronavírus no futuro. A estratégia do vetor viral também é adotada pela Covishield (Oxford/AstraZeneca) e pela fórmula da Janssen (Johnson & Johnson).
Vale explicar que a potencial vacina é resultado de um consórcio internacional que tem, como produtores públicos, o Butantan, o Instituto de Vacinas e Biologia Médica do Vietnã e a Organização Farmacêutica Governamental da Tailândia. Além disso, a tecnologia do uso do vírus da doença de Newcastle foi desenvolvida por cientistas na Icahn School of Medicine no Mount Sinai, em Nova Iorque. Já as proteínas S estabilizadas do vírus SARS-CoV-2 utilizadas na vacina, com tecnologia HexaPro, foram desenvolvidas na Universidade do Texas, em Austin.
Testes da vacina do Butantan no Brasil
No Brasil, os ensaios clínicos da ButanVac estão em andamento. A etapa A da Fase 1 é realizada em Ribeirão Preto (SP), Guaxupé (MG), São Sebastião do Paraíso (MG) e Itamogi (MG). Novos voluntários ainda podem participar do estudo. Para isso, é preciso ter mais de 18 anos, nunca ter tido covid-19, não ter sido vacinado contra o SARS-CoV-2, não ser alérgico a ovos e frango e não estar grávida ou ser lactante. Em seguida, na etapa B, poderão participar inclusive pessoas vacinadas ou que já tenham sido infectadas.
Para acessar o estudo tailandês completo sobre a ButanVac, clique aqui.
Fonte: Instituto Butantan