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Biobots, os microrganismos que surgem de células de corpos mortos

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Kriegman et al./PNAS
Kriegman et al./PNAS

Uma espécie de terceiro estado dos organismos veio para desafiar as noções clássicas sobre a vida e a morte, sempre vistas como opostos — é uma nova forma de organização multicelular descoberta por cientistas, algo notado ao estudar células depois da morte de certas criaturas, que se tornam "robôs orgânicos".

A chave está nas novas funções assumidas pelos organismos multicelulares, ou seja, diferentes das suas funções predeterminadas pela natureza (como órgãos transplantados ou a metamorfose de borboletas). Um exemplo de “terceiro estado” é visto nas células da epiderme retiradas de embriões mortos de sapos, que se adaptam a novas condições em laboratório, no pós-vida.

Essa nova organização celular ganha o nome de xenobots, ou biobots, e seu descobrimento fez os cientistas se perguntarem: o que faz com que algumas células continuem funcionando após a morte de um organismo? Algumas das respostas estão publicadas na revista científica Physiology, por cientistas da Universidade do Alabama e Instituto de Pesquisa Beckman.

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Biobots e o terceiro estado da vida

Segundo a pesquisa, algumas células ganham novas funções contanto que ainda tenham nutrientes, oxigênio e bioeletricidade (ou instruções bioquímicas). Os “robôs biológicos” fazem coisas novas, e, no caso das células de embriões de sapo, usam os cílios — pequenas estruturas semelhantes a capilares — para se locomover, estrutura anteriormente usada para transportar muco.

Curiosamente, eles também conseguem fazer o que se chama autorreplicação cinemática, ou seja, replicam sua estrutura e função sem crescer em tamanho.

O comportamento foi visto, inclusive, em células pulmonares humanas solitárias: elas conseguem se juntar na forma de organismos multicelulares diferenciados, capazes de navegar pelos arredores e consertar a si mesmos e neurônios danificados nas proximidades.

Muitos mecanismos estão envolvidos na capacidade de tecidos e células de organismos mortos se reorganizarem e ganharem novas funções. Os mais importantes são as condições ambientais, atividade metabólica e técnicas de preservação, embora a ciência ainda não saiba exatamente como as combinações dessas variáveis permitem a “sobrevida” subsequente.

Uma teoria envolve os canais das membranas exteriores das células, que servem como circuitos elétricos e podem permitir a comunicação entre cada célula e determinar suas funções, como crescimento e movimentação. Embora ainda seja um mistério, o mecanismo mostra como as células conseguem se adaptar e transformar, o que pode ajudar em tratamentos no futuro.

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No caso das células humanas, como as pulmonares, os novos organismos são chamados de antrobots, e poderão ser usados para levar medicamentos a tecidos sem desencadear resposta imune, ou serem levados a dissolver placas arteriais em pacientes com aterosclerose, por exemplo.

Como vivem apenas entre quatro e seis semanas, tais células não sobrevivem o suficiente para se tornarem invasivas, se tornando ideias para a função.

Fonte: Advanced Science, Physiology