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Avental de chumbo pode não ser mais necessário em radiografias

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Alexandre Mesquita/Universidade de Caxias do Sul/YouTube
Alexandre Mesquita/Universidade de Caxias do Sul/YouTube

Todos que já fizeram um exame de raio-x devem se lembrar das excentricidades da experiência — ter de se vestir com um avental de chumbo enquanto o radiologista responsável vai para trás de uma cabine antes de iniciar o procedimento, por exemplo. A ideia por trás do uso do avental seria proteger o corpo, e especialmente os órgãos reprodutivos, da radiação usada no método. Mas será que o avental protege mesmo? Pois hoje sabemos que não, e que a vestimenta ainda atrapalha o processo.

O primeiro fator é que a dose de radiação usada em um exame comum de raios-x é muito baixa, com chances ínfimas de causar problemas ao corpo humano. Já que a exposição não é considerável, a redução providenciada pelo avental de chumbo é mínima, com um impacto pouco significativo. Por isso, várias organizações médicas têm recomendado descontinuar a prática em departamentos de radiologia, o que vem sendo aplicado em diversos países.

Um exemplo é a Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, que parou com a prática em 2022. Ao site Live Science, o professor assistente de radiologia Stephen Graves contou que a radiação usada em exames dentais e do tórax via raios-x é a mesma que recebemos com exposição à radiação de fundo, tanto de fontes geológicas quanto cósmicas.

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Isso quer dizer que a natureza e seus minerais já emitem um pouquinho de radiação, além da que vem do espaço, não afetando significativamente o corpo humano — que já é um pouco radioativo por si só. Segundo o médico, um exame nos expõe a uma dose similar à experienciada durante um voo transatlântico, por conta de radiação cósmica. Ainda temos exposição à radiação não-ionizante, ou seja, de baixa frequência, por celulares, televisões e microondas, por exemplo.

O avental de chumbo não ajuda — e ainda atrapalha

A proteção oferecida pelo chumbo, na verdade, acaba saindo pela culatra no caso do avental. O metal possui uma alta densidade, tornando difícil a penetração pela radiação. Justamente por isso, a exposição baixa acaba obscurecendo os exames, atrapalhando a leitura e requerendo, por vezes, a repetição dos mesmos, segundo Graves. Isso acaba duplicando a exposição, piorando a situação.

Além disso, não há pesquisas que mostrem danos às células reprodutivas o suficiente para causar defeitos de nascença ou outros problemas de gravidez pela exposição à radiação de exames. Até mesmo estudos nos descendentes de sobreviventes das bombas atômicas que tiveram seus órgãos reprodutivos expostos à radiação mostraram ausência de problemas, sugerindo que as gônadas não precisam de proteção extra na hora um exame por raio-x.

Estudos ainda mostram que a exposição radioativa por radiografias, tomografias computadorizadas e raios-x não apresentam doses altas o suficiente para oferecer riscos a fetos, também retirando a necessidade de aventais para grávidas e recém-nascidos. Todas essas evidências levaram a um comunicado pela Associação Americana de Físicos na Medicina (AAPM) sugerindo descontinuar o uso da indumentária de chumbo devido aos benefícios “inexistentes”, em suas próprias palavras.

Seguindo a organização, outros grupos médicos como instituições de radiologistas da Europa também sugeriram não utilizar mais aventais de chumbo, como compilado por um estudo de 2021. O progresso na questão, no entanto, ainda é lento, já que é difícil convencer pacientes de que o equipamento de proteção não é mais necessário — afinal, foram os próprios físicos e radiologistas que os convenceram de sua necessidade há alguns anos.

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Rebecca Milman, chefe da divisão de ciências radiológicas na Universidade do Colorado, comentou ao Live Science que parte essencial dessa conversa é a percepção dos riscos oferecidos pela radiação. É preciso informar os pacientes de forma clara e significativa para que entendam os reais riscos e benefícios, ou falta deles, em práticas laboratoriais.

Radiologistas, afinal, ainda precisam usar proteção ou ir para salas isoladas para exames por conta de sua exposição prolongada, uma diferença de risco não tão óbvia para muitos pacientes. Necessidades de diferentes pacientes também precisam ser levadas em consideração, por exemplo, caso repetidos exames sejam necessários. Cada caso é um caso, e informação é essencial por todo o processo, reforça Milman.

Cabe a cada país e sua respectiva agência reguladora de saúde determinar, com base em estudos e evidências científicas, quando e se o paciente ainda deve usar o avental de chumbo antes do procedimento de imagem. No Brasil, o recomendado pelas autoridades competentes (Portaria /MS/SVS nº 453) é que os aventais ainda estejam disponíveis para uso de profissionais e pacientes, inclusive com protetores de tireoide, em setores de radiodiagnóstico.

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Fonte: Insights into Imaging, The Loop, Orthopedics, Journal of Clinical Orthopedic Trauma, RERF, ACOG, EBSERHAmerican Journal of Roentgenology 1, 2,  AAPM com informações de Live Science