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Algas do litoral brasileiro podem virar potencial remédio contra leucemia e HIV

Por| Editado por Luciana Zaramela | 12 de Janeiro de 2022 às 09h40

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Twenty20photos/Envato Elements
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Moléculas de algas que se acumulam no litoral brasileiro podem ser usadas no desenvolvimento de potenciais remédios, como fórmulas contra a leucemia e o HIV, segundo pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). Durante o estudo preliminar, foram avaliados os potenciais benefícios das algas arribadas, ou seja, aquelas que são carregadas pelo oceano até a costa e que costumam ser reconhecidas pelo mau cheiro.

Hoje, a maioria das prefeituras de regiões costeiras removem e incineram essas algas arribadas e todo o potencial terapêutico é perdido. É o que aponta a tese de doutorado da bióloga Talissa Harb, do Instituto de Biociências (IB) da USP.

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Durante o estudo, Harb investigou as propriedades químicas e bioativas de extratos naturais de 15 amostras de algas. As amostras foram coletados nos estados do Espírito Santo, Ceará e Paraíba. Além do uso farmacêutico, existem potenciais aplicações para a indústria de alimentos e de cosméticos.

Propriedades das algas

Segundo a pesquisadora, a ideia do estudo era entender as propriedades bioativas e a composição química de macroalgas arribadas do litoral, identificando possíveis aplicações comerciais. “As algas arribadas são um recurso que pode gerar empregos e benefícios econômicos para as comunidades locais e para a indústria comercial”, explica para o Jornal da USP.

Para o projeto, as espécies de algas foram divididas em três principais categorias, determinadas pela cor (pigmento) que apresentavam:

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  • Algas pardas: Dictyopteris jolyana, Dictyopteris polypodioides e Zonaria tournefortii;
  • Algas vermelhas: Agardhiella ramosissima, Alsidium seaforthii, Alsidium triquetrum, Osmundaria obtusiloba, Botryocladia occidentalis, Spyridia clavata e Gracilaria domingensis;
  • Algas verdes: Codium isthmocladum.

Potenciais remédios contra HIV e leucemia

Quando a atividade antiviral das substâncias presentes nos extratos das macroalgas foi analisada, a pesquisadora identificou o potencial para o desenvolvimento de futuros medicamentos em diversas espécies.

Por exemplo, o extrato aquoso de Codium isthmocladum e os extratos metanólicos de D. jolyana, Z. tournefortii, Alsidium seaforthii, Spiridia clavata e O. obtusiloba demonstraram ser altamente promissores na inibição da transcriptase reversa. Essa enzima é comumente encontrada em retrovírus — um grupo de vírus de RNA —, como o HIV.

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Agora, os extratos de Z. tournefortii, A. seaforthii e C. isthmocladum demonstraram uma alta atividade citotóxica contra cepas de células tumorais de leucemia e de câncer de cólon. A partir dessa descoberta inicial e feita in vitro, novos estudos precisam averiguar, de fato, a capacidade de instrumentalizá-las para o tratamento destas doenças.

Ação antioxidante

Durante o estudo, a bióloga verificou também a atividade antioxidante de algumas dessas algas, principalmente nas espécies de algas pardas. É importante explicar que antioxidantes podem ser usados na prevenção de algumas doenças, como artrite, arteriosclerose e catarata.

Caso a pesquisa avance, as algas brasileiras originariam antioxidantes naturais. Atualmente, a maioria dos antioxidantes usados têm origem sintética e podem apresentar alguns efeitos colaterais, como problemas no fígado e até câncer.

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Vale destacar que o estudo recebeu financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha.

Fonte: Jornal da USP e Banco de Teses