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Cientistas descobrem como "ler a mente" de uma água-viva

Por| Editado por Luciana Zaramela | 02 de Dezembro de 2021 às 08h30

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Uriel Soberanes/Unsplash
Uriel Soberanes/Unsplash

Em busca de entender como as águas-vivas Clytia hemisphaerica se comportam, um grupo de cientistas da Caltech tentou ler a mente desses animais — mesmo que eles não tenham cérebro. Com algumas mudanças genéticas, os pesquisadores conseguiram observar os neurônios microscópicos dessa criatura minúscula. Os resultados foram publicados na revista científica Cell.

Para a pesquisa, a equipe usou um kit de ferramentas para modificar geneticamente a C. hemisphaerica para fazer com que seus neurônios brilhem individualmente com luz fluorescente quando ativados. Como a água-viva é transparente, os pesquisadores conseguiram observar a luz da atividade neural do animal enquanto ele fazia as coisas do dia a dia: agarrar e comer presas. De maneira simplificada, era como se a equipe pudesse ler a mente do animal enquanto ele age naturalmente.

Mas, como a criatura não tem cérebro, uma complexa rede de neurônios por todo o corpo — que tem cerca de 1 centímetro de diâmetro — substitui a necessidade de um órgão centralizado. Para ter uma noção de comparação, o cérebro humano tem 100 bilhões de neurônios, fazendo 100 trilhões de conexões; enquanto a C. hemisphaerica tem 10 mil células neurais — algo que facilitou a visualização no microscópio.

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Lendo a mente das águas-vivas

Depois de desenvolver as ferramentas genéticas para trabalhar com o animal, os pesquisadores examinaram primeiro os circuitos neurais ocultos ligados ao comportamento alimentar da água-viva. Por exemplo, quando ela agarra um camarão em um de seus tentáculos, ela dobra o corpo para levar o membro à boca e a inclina em direção à base ao mesmo tempo.

O objetivo da equipe era entender como o cérebro da água-viva, não centralizado e simétrico, coordena essa dobra direcional do corpo. Um minuto depois de serem expostas aos alimentos, o experimento mostrou que 96% das águas-vivas tentaram a "transferência de alimento para a boca" e 88% tiveram sucesso. Praticamente todos os camarões de água salgada foram eventualmente comidos pelas criaturas que usam esse comportamento alimentar.

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Ao avaliar as reações em cadeia brilhantes que ocorrem nos neurônios dos animais enquanto comiam, os cientistas entenderam que uma sub-rede de neurônios que produz o neuropeptídeo (uma molécula neural específica) é responsável pelo dobramento do corpo. Em contrapartida, o ato de nadar e se dobrar não foi afetado, sugerindo que outros tipos de células neurais controlam esses comportamentos, conforme escreveram no artigo.

Mais do que isso, ainda que a rede de neurônios no animal parecesse difusa e desorganizada, os pesquisadores descobriram um grau surpreendente de alinhamento que só se tornou visível com o sistema fluorescente.

A anatomia da água-viva

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Os pesquisadores mostram que neurônios da C. hemisphaerica estão conectados em uma rede com formato semelhante ao de um guarda-chuva. Essas células neurais são divididas em fatias, quase como uma pizza.

Cada tentáculo da água-viva é conectado a uma dessas fatias. Assim, quando os braços da água-viva detectam e capturam a presa, como o camarão, os neurônios daquela parte são ativados em uma sequência específica — o que fazia com que aquela região do sistema dobrasse para dentro, levando o alimento à boca.

O estudo também avaliou como os neurônios que controlam a boca se comunicam com os neurônios que controlam os tentáculos da água-viva e vice-versa. Para isso, os pesquisadores removeram cirurgicamente certas partes do corpo do bicho.

Eles descobriram que quando as bocas das águas-vivas foram removidas, as C. hemisphaerica continuaram tentando passar comida de seus tentáculos para suas bocas inexistentes. O contrário também aconteceu: quando os tentáculos foram retirados, os extratos químicos de camarão introduzidos em um tanque faziam a boca se curvar para a fonte de alimento.

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As descobertas sugerem que certos comportamentos de água-viva são coordenados por diferentes grupos de neurônios organizados funcionalmente, localizados ao redor da circunferência da "pizza". Os cientistas acreditam que compreender como os tentáculos, o corpo e a boca se coordenam pode ajudar a entender problemas mais complexos sobre como o sistema nervoso das águas-vivas funciona.

Fonte: Cell