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YouTube sabia de conteúdos tóxicos e escolheu não fazer nada a respeito

Por| 02 de Abril de 2019 às 18h15

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YouTube sabia de conteúdos tóxicos e escolheu não fazer nada a respeito
YouTube sabia de conteúdos tóxicos e escolheu não fazer nada a respeito
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Se hoje o YouTube possui um enorme problema com conteúdo de fake news e com discursos de ódio à minorias, não foi por falta de aviso que a coisa chegou no ponto em que está hoje.

De acordo com o depoimento de diversos funcionários e ex-funcionários da companhia à Bloomberg, há anos que eles vêm alertando os executivos da empresa sobre os perigos de se permitir que vídeos de teorias da conspiração, fake news ou de integrantes de grupos extremistas que pregam o ódio e a morte a opositores políticos. E, de acordo com esses mesmos funcionários, os executivos da empresa escolheram deliberadamente não interferir nesses conteúdos porque eles eram considerados bons para engajar o público, o que reflete diretamente no lucro obtido pela empresa.

De acordo com os relatos, há anos existe um “cabo de guerra” entre funcionários e executivos sobre qual deveria ser o posicionamento da empresa em relação a esses conteúdos, e que pelo menos cinco funcionários sênior em cargos importantes abandonaram seus empregos por conta da recusa do YouTube em garantir que vídeos de conteúdo extremo ou grotesco não pudessem ser postados na plataforma.

A escolha de não mexer com esses conteúdos — que foram se espalhando e hoje estão tão destacados que é praticamente impossível de assumir uma posição neutra quanto a eles — se deve principalmente ao lucro. Apesar de tóxicos, esses vídeos sempre geraram muito engajamento, visualizações e cliques para o YouTube, o que se converte diretamente em lucro para a empresa. Apesar da Alphabet não revelar as receitas do YouTube em seus relatórios fiscais, estima-se que o site arrecade pouco mais de US$ 16 bilhões por ano.

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Os depoimentos ainda revelam como o YouTube sabia que as ideias de seus colaboradores eram boas, mas resolveu não implementá-las por receio de que isso fosse afetar seus rendimentos. Por exemplo, em janeiro deste ano o YouTube revelou que não iria mais colocar videos de teorias da conspiração ou de grupos extremistas em sua lista de recomendados, mas essa foi uma ideia ventilada por um engenheiro a executivos da empresa anos atrás, como forma de evitar que esses tipos de vídeos se tornassem um problema na plataforma, mas que na época foi completamente rejeitada.

Respondendo à reportagem da Bloomberg, uma porta-voz do YouTube negou que algumas das coisas ditas nesses depoimentos eram verdadeiras, mas confirmou que nenhuma dessas preocupações chegou ao conhecimento da CEO Susan Wojcicki, e que a empresa coloca mesmo o engajamento do público para com os vídeos acima de todas as outras preocupações.

Atualmente, o YouTube tem travado uma “guerra” contra videos de grupos extremistas e teorias da conspiração, desde janeiro não colocando mais vídeos do tipo na lista de recomendados ao final de cada vídeo, além de ter contratado ainda mais moderadores e investido no desenvolvimento de uma IA para detectar esse tipo de conteúdo nocivo. Apesar disso, a empresa não está removendo esses conteúdos da plataforma — apenas deixando de monetizá-los e não os recomendando para quem não procura esse tipo de coisa. Mas ainda é possível encontrar diversos vídeos de teoria da conspiração e até mesmo de grupos neonazistas ao utilizar a barra de buscas do site.

Fonte: Bloomberg