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Decisão sobre anúncios políticos coloca Facebook contra a opinião pública

Por| 28 de Outubro de 2019 às 21h30

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Decisão sobre anúncios políticos coloca Facebook contra a opinião pública
Decisão sobre anúncios políticos coloca Facebook contra a opinião pública
Tudo sobre Facebook

Entre o final de setembro e o início de outubro, o Facebook confirmou uma informação que deixou muita gente preocupada: a de que, apesar de a empresa investir bastante em formas de conter o compartilhamento de fake news e campanhas de desinformação, a rede social não vai exigir que perfis e páginas de partidos políticos ou de candidatos sejam obrigados a passar por checagem de fatos em seus anúncios.

Mesmo com a mudança, o Facebook garante que ninguém, nem mesmo perfis ligados a figuras políticas, conseguiria usar a rede social para criar anúncios cujo objetivo é reduzir o número de eleitores que comparecem às urnas. Mas parece que mesmo essa regra não está sendo seguida, pois o Washington Post descobriu, na semana passada, uma campanhas de anúncios voltados para eleitores do Arizona contendo mensagens que falavam que essas pessoas tinham problemas em seus registros de eleitores. E o pior de tudo: a origem deste anúncio foi um comitê de ação política (PAC) que apoia o presidente Donald Trump.

No total, foram encontradas mais de vinte mensagens similares que foram exibidas como anúncios no Facebook para eleitores do Arizona nos últimos cinco meses, todas postadas pelo mesmo comitê. Perguntado sobre o caso, o Facebook se limitou a dizer que iria remover quatro das mensagens encontradas, e que as outras iriam passar pela verificação de uma empresa de fact-checking para decidir se seriam removidas.

Contra a parede

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Esse é apenas o mais recente caso de campanhas políticas tentado utilizar o Facebook como uma plataforma para amedrontar e enganar eleitores, e é uma das maiores preocupações de veículos de imprensa e do Congresso dos EUA com a aproximação das eleições de 2020. Em 2016, nas últimas eleições presidenciais, o Facebook muito usado para campanhas de desinformação que acabaram manipulando indiretamente o resultado das votações, e o medo é de que a empresa esteja se prestando ao mesmo papel para a eleição do ano que vem.

Essa preocupação foi um dos motivos que levou o CEO da rede social, Mark Zuckerberg, a comparecer para depoimento diante do Congresso dos Estados Unidos na quarta passada (23). Durante o inquérito, a representante Alexandria Ocasio-Cortez, do Partido Democrata, perguntou para Zuckerberg se, por exemplo, ela resolvesse criar um anúncio falso no Facebook falando sobre como algum candidato do Partido Republicano apoiou o Green New Deal (um projeto de ruptura do atual sistema econômico feito de maneira drástica para se impedir a piora dos efeitos do aquecimento global, e que é visto como uma afronta ao modo de vida americano pelos apoiadores do Partido Republicano), se o Facebook teria alguma ferramenta para impedi-la de fazer isso.

Zuckerberg afirmou que não saberia responder isso a ela naquele momento, mas que provavelmente ela conseguiria rodar esse anúncio na rede social sem grandes problemas. E a ideia logo foi colocada à prova: um comitê de ação política de apoio à candidatos de esquerda resolveu testar o Facebook criando uma campanha difamatória afirmando que Lindsay Graham, uma das figuras conservadoras mais importantes do Partido Republicano, apoiava o Green New Deal.

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Essa postagem foi criada e então postada em forma de anúncio no Facebook, que usou suas ferramentas de checagem para marcá-la como falsa e remover a campanha da plataforma. Perguntado sobre o porquê de esse conteúdo ter sido revisado, mas as postagens que vieram do PAC ligado à Donald Trump não, um porta-voz do Facebook confirmou aquilo que já se suspeitava: a postagem com mentiras sobre Graham passou pelo mecanismo de checagem da plataforma por ter sido criada por um grupo político independente, mas se essa criação fosse de alguém com ligações diretas à Ocasio-Cortez, o Facebook não teria tomado qualquer medida para evitar que essa mensagem falsa se espalhasse.

Não se sabe exatamente por que o Facebook resolveu mudar essas políticas da rede social, já que, até o fim de setembro, todos os anúncios da plataforma tinham o conteúdo checados, independente de quem fizesse a postagem. Apesar de não confirmar os motivos da mudança, ela ocorreu na mesma semana que a senadora Elizabeth Warren apareceu pela primeira vez no topo das pesquisas para quem será o representante do Partido Democrata nas eleições presidenciais de 2020. Warren é a candidata que, em um áudio vazado no começo deste mês, Zuckerberg afirma que deve ser parada a qualquer custo, pois uma das principais plataformas da campanha dela é criar legislações para diminuir o poder de monopólio que o Facebook possui sobre o ecossistema das redes sociais.

Outro ponto interessante é que, na mesma semana da mudança, Zuckerberg teve uma reunião à portas fechadas na Casa Branca com o presidente Donald Trump, e nenhuma das partes revelou o que foi discutido no encontro.

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Problemas internos

Mas não é apenas a opinião pública e o Congresso que estão em cima do bilionário por conta dessa decisão: os próprios funcionários do Facebook não estão nada satisfeitos com isso. De acordo com o revelado pelo New York Times nesta segunda-feira (28), mais de 250 funcionários da empresa assinaram uma petição pedindo pelo retorno de um maior rigor na política de anúncios da empresa.

A petição, que foi compartilhada no chat interno do Facebook, afirma que liberdade de expressão é diferente de pagar para dizer o que quiser, alertando que as campanhas de desinformação acertam de forma indireta até mesmo aqueles que não estão nas redes sociais, e que a atual política de não efetuar qualquer tipo de checagem nas publicações de candidatos à eleição é uma afronta a todos os valores da empresa, pois, ao invés de proteger os usuários da plataforma, o Facebook está dando carta branca para que políticos falem o que acharem melhor sem precisar comprovar nada, e afirmando indiretamente que todo e qualquer conteúdo postado por campanhas políticas é de confiança, mesmo com os inúmeros exemplos apenas da última eleição no país provando que isso não é verdade.

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A sugestão dos funcionários é simples: apenas voltar às regras antigas e obrigar os políticos a passarem pelo mesmo tipo de checagem que qualquer outra página ou perfil do Facebook. Outra sugestão dada pela petição é criar regras para que qualquer anúncio de campanha política fosse identificado visualmente como sendo uma propaganda política (para evitar, por exemplo, que as campanhas tentem passar maior credibilidade se passando por artigos da imprensa), e ainda que qualquer perfil vinculado a um político não tenha acesso a algumas opções de definição de público muito específicas (para evitar que o mesmo político crie campanhas com mensagens totalmente diferentes voltadas para grupos distintos da mesma região, como forma de manipular a imagem pública do candidato).

Até o momento, o Facebook não se pronunciou sobre a petição.

Fonte: Ars Technica