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Relógio do Juízo Final: conheça a "continuação" de Watchmen que salvou a DC

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DC Comics
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Quando a DC Comics anunciou Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock) em 2017, a proposta parecia ousada: unir o mundo autoral e crítico de Watchmen ao cânone tradicional da editora. Mas para compreender o real impacto da minissérie, é preciso revisitar os anos que a antecederam — especialmente a fase editorial batizada de Os Novos 52, marcada por uma abordagem mais sombria e pelo apagamento de gerações inteiras de heróis. Relógio do Juízo Final não foi apenas um encontro entre universos; foi também um movimento para restaurar memórias e símbolos que haviam sido descartados.

Bem, antes de falarmos sobre a trama em si, é preciso contextualizar o que estafva acontecendo com a DC. A editora não vinha conseguindo atualizar com sucesso seus personagens e os eventos estavam cada vez mais repetitivos e caça-níqueis — no final das sagas tudo voltava à estaca zero, sem grandes consequência. A editora ainda vivia esse cenário tendo que assistir de camarote a Marvel Comics e reerguendo e se tornando uma máquina de fazer dinheiro com o Marvel Studios,  que ajudou a atualizar suas franquias.

A solução foi apostar também em um universo compartilhado com os cinemas e relançar a linha editorial. Assim, em 2011 nasciam os chamados Os Novos 52: 52 títulos reiniciados, novos uniformes, mudanças de origem e uma tentativa de atualizar personagens para uma nova geração. O resultado, porém, trouxe consequências negativas, que se agravaram com a caracterização baixo-astral e violenta do Universo DC nos filmes de Zack Snyder — veja bem, em Batman vs Superman: A Origem da Justiça o Homem-Morcego violou dezenas de vezes sua regra primordial de "não matar" e usar armas de fogo; e o Homem de Aço simplesmente quebrou o pescoço de um dos únicos sobreviventes de seu planeta natal, que, mesmo sendo vilão, jamais receberia esse tratamento nos quadrinhos.

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O tom sombrio tornou-se dominante também nas páginas d'Os Novos 52.  Casais clássicos — como Superman e Lois Lane — foram separados, equipes de legado desapareceram e grupos históricos como a Sociedade da Justiça da América e a Legião dos Super-Heróis foram simplesmente apagados da cronologia — ou seja, acabaram,com o amor, a família e o legado, que é principal característica do Universo DC desde a Era de Prata dos Quadrinhos, nos anos 1950.

A estratégia pode ter atraído novos leitores no início, mas deixou órfãos os fãs mais antigos, que viam nessas heranças o coração do Universo DC. Décadas de histórias interligadas, relações familiares e sucessões de manto foram sacrificadas em nome de uma reformulação que acabou esvaziando a mitologia da editora.

A solução, então, foi buscar em uma das melhores histórias da DC Comics os motivos de tudo estar tão distorcido n'Os Novos 52. E, para isso, Geoff Johns convocou Gary Frank para reproduzir o mesmo estilo de narrativa original, como uma sequência espiritual de Watchmen que integra os personagens originais de Alan Moore e Dave Gibbons à continuidade do Multiverso DC — e isso já atiçou os fãs, com a famosa pergunta sendo respondida: "Quem vigia os vigilantes?". "A Liga da Justiça".

Relógio do Juízo Final trouxe de volta o coração e alma da DC

Foi nesse cenário que surgiu Relógio do Juízo Final, escrito por Geoff Johns e ilustrado por Gary Frank. Mais do que um crossover entre Watchmen e a Liga da Justiça, a minissérie de 12 edições foi pensada como o clímax da fase Renascimento (Rebirth), iniciada em 2016.

A trama apresenta Ozymandias em busca do Doutor Manhattan, cuja capacidade de manipular a realidade serve como metáfora para explicar os apagamentos da saga Ponto de Ignição (Flashpoint) e de Os Novos 52. Ao longo da história, descobre-se que foi a interferência de Manhattan que eliminou décadas da linha temporal — justificando a ausência da Sociedade da Justiça, da Legião e até mesmo dos Kents na vida do Superman.

No desfecho, Manhattan devolve essas memórias e reposiciona o Superman como o centro absoluto da continuidade. A manobra funcionou como um mecanismo narrativo para “reparar” as falhas do reboot e devolver ao Universo DC seu senso de legado.

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Apesar da importância editorial, a minissérie não escapou de polêmicas. Watchmen sempre foi visto como uma obra fechada, e a decisão de utilizar seus personagens em um contexto mainstream dividiu opiniões. Houve quem elogiasse a ambição de Johns, que procurou dialogar com os temas da HQ de Alan Moore e Dave Gibbons em vez de simplesmente copiá-los.

Por outro lado, críticos apontaram que a inserção de figuras como Rorschach e Doutor Manhattan no universo regular da DC representava uma apropriação indevida de um material concebido como autoral — Alan Moore, que já tinha ficado possesso com adaptações e outros derivados em quadrinhos, ficou ainda mais furioso e simplesmente nem quer mais estar associado à obra. Ainda assim, para a editora, o objetivo principal não era apenas revisitar Watchmen, mas usar seu peso simbólico para legitimar a reconstrução da cronologia.

Relógio do Juízo Final recuperou o legado 

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Ao devolver a continuidade perdida, Relógio do Juízo Final abriu caminho para a volta da Sociedade da Justiça, da Legião dos Super-Heróis e do conceito de heróis que passam seus mantos para novas gerações. Esse resgate permitiu à DC reposicionar seu universo como um palco de memória, legado e herança — pilares que sempre diferenciaram a editora.

Na prática, a minissérie funcionou como um divisor de águas: reconheceu que Os Novos 52 havia fracassado em manter a essência da marca e entregou uma narrativa capaz de restaurar o equilíbrio entre modernidade e tradição.

Relógio do Juízo Final foi um projeto ambicioso, marcado por atrasos de publicação e críticas sobre ritmo e excesso de personagens. Mas, ao colocar o restabelecimento do legado como prioridade, tornou-se uma obra-chave para a fase mais recente da DC.

Se o Os Novos 52 buscaram romper com o passado, Relógio do Juízo Final provou que, para a DC Comics, a memória é parte fundamental da identidade de seus heróis. O relógio não tocou apenas para anunciar o apocalipse — ele soou para lembrar que tradição, história e herança são elementos inegociáveis no Universo DC.

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