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Como o Batman trocou sua faceta cafona do seriado da TV pelo lado mais sombrio?

Por| 16 de Junho de 2020 às 12h53

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Warner Bros
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Os mais jovens não devem saber disso, mas a figura do Batman que temos atualmente era bem diferente nos anos 1960. Embora o personagem seja misterioso por natureza, foi naquela época que Adam West e Burt Ward protagonizaram um seriado de sucesso, cheio de diversão — e onomatopeias. Acontece que, como era uma atração para “a família toda”, suas tonalidades, digamos, mais sombrias, foram substituídas por sorrisos e cacarecos engraçados. Então, muitos leitores de hoje poderiam se perguntar: como foi que o Homem-Morcego (e o Robin) deixaram para trás essa imagem e se tornaram os sisudos e complexos vigilantes de hoje em dia?

Bem, esse é, na verdade, um caso exemplar para explicar como os quadrinhos se moldaram de acordo com os movimentos sociais no mundo desde 1930. Naquela década, o Superman carregava elementos da Queda da Bolsa de Valores de 1929 como um ser onipotente capaz de nos trazer esperança. Nos anos 1940, o Capitão América trazia temas sobre a Segunda Guerra Mundial e o Batman era filhote da literatura pulp e das histórias noir da época da Lei Seca nos Estados Unidos.

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No final dos anos 1960, o Batman estava em crise porque seus quadrinhos estavam presos à imagem de Adam West. Embora a série tenha popularizado o personagem e seja divertida, é muito infantil e deixa para trás toda a aura de mistério e investigação que estão no núcleo do herói. É aí que entram em ação nomes que estão atualmente na galeria das lendas dos quadrinhos norte-americanos: Julius Schwartz, Carmine Infantino, John Broome, Gardner Fox e especialmente a dupla Denny O’Neil — que infelizmente nos deixou recentemente aos 81 anos — e Neal Adams.

Rumo ao Cavaleiro das Trevas

“Cheguei para Julius (Schwartz) e pedi para fazer uma história do Batman. Ele mandou ir embora de seu escritório. Mas, depois, pediu ajuda para criar algo para o personagem, que na época tinha seu seriado encerrado. Nessa época, o Batman andava de dia por aí com uma cueca sobre a calça. E nenhuma criança se perguntava: ‘mãe, por que esse cara está usando cueca sobre a calça?’. Bem, o Batman rasteja à noite, nas sombras. E não de dia por aí com uma cueca sobre a calça (risos)”, disse Neal Adams ao se lembrar daquele período, durante um painel na Comic Con Experience (CCXP), em São Paulo, no ano passado.

Essa era a imagem que Batman tinha na época. O roteirista Denny O’Neil começou fazendo mudanças em Duas-Caras e no Coringa, tornando-os mais verossímeis e mortais. Ao lado de Neal Adams e Dick Giordano, trouxe de volta a tragédia ao cotidiano do Homem-Morcego. Em Detective Comics #395, os autores trocaram a zombaria e a cafonice da série de TV pela compulsão obsessiva em combater o crime, como forma de esconder na escuridão sua alma despedaçada e seu coração cicatrizado pela morte de seus pais.

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O Coringa, que graças à atração televisiva e à famigerada censura do Comics Code Authority se tornou realmente um palhaço cheio de piadinhas, tornou-se o assassino cruel e caótico que conhecemos atualmente a partir de Batman #251, no arco chamado “The Joker’s Five Way Revenge” (ou “A Vingança de Cinco Vias do Coringa” na tradução livre). Esse novo Palhaço do Crime voltou às suas raízes homicidas, enquanto tentava matar vários membros antigos de sua gangue que poderiam tê-lo denunciado.

Essa versão mais séria do Coringa permaneceu nos quadrinhos por toda essa época e muito depois, inclusive nas versões dos filmes de Tim Burton e Christopher Nolan. O vilão revisado de O'Neil e Adams é o mesmo que atiraria em Barbara Gordon e mataria o segundo Robin, Jason Todd, em duas das histórias mais traumáticas e violentas do Palhaço do Crime.

Revitalização foi profunda

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O'Neil, Adams e Giordano não apenas “legitimaram” o Coringa, como também reintroduziram e modernizaram o Duas-Caras em Batman #234, de 1971. Além de revitalizar esses vilões e cimentá-los como alguns dos membros mais importantes da galeria de Batman, o trio também criou um dos adversários modernos mais importantes do personagem, o imortal Ra's al Ghul, em Batman #232.

O’Neil e Adams repetiram a parceria de sucesso em outros arcos icônicos, como o da viagem do Lanterna Verde e do Arqueiro Verde pela América dos anos 1970; e o clássico encontro entre Superman e Muhammad Ali. Nem sempre isso foi reconhecido na época. “Mas o que fizemos, eu e Denny, mudou o jeito de fazer quadrinhos para sempre”, gabou-se Adams, na CCXP 2019. E ele tem razão.

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Não fosse pela dupla, talvez demorássemos mais tempo ou tivéssemos uma concepção completamente diferente do Batman. E se temos uma versão que atualmente vive se reinventando como detetive, herói, lenda e homem, é porque lá atrás essas pessoas se esforçaram para trazer de volta os principais elementos da criação de Bob Kane e Bill Finger.

Com informações do CBR