Alien finalmente corrige seu maior delito cronológico após 45 anos
Por Claudio Yuge | •
Alien: Romulus reacendeu o interesse dos veteranos e despertou a curiosidade de uma nova geração pela franquia, e, mesmo com várias produções aproveitando o hype para ampliar a mitologia da série, há uma treta de bastidores que explica o fato de haver tantos problemas de tom e continuidade. E aí a 21th Century Fox aproveita uma solução que tem se mostrado eficaz para Star Wars e Predador para adiantar esse processo fora das telonas, mais exatamente nos quadrinhos.
A franquia sempre sofreu com um problema que agora fica mais escancarado, principalmente porque há uma grande necessidade de revisar adequadamente a cronologia. Com mais produções em andamento no cinema e no streaming, é preciso conectar toda a trama de uma maneira menos confusa e caótica.
Os planos da Disney/21th Century Fox envolvem um universo compartilhado retroalimentado pela integração transmídia, assim como a Lucasfilm, a Marvel Studios e a DC Studios vêm fazendo com suas propriedades em histórias que interagem, complementam-se e preenchem/revisam lacunas fora das telonas com ajuda de gibis, séries live-action, animações, games e livros.
Há uma peculiaridade sobre a razão de Ridley Scott ter abandonado sua criação que virou um clássico instantâneo em 1979 — explico tudo bem mais detalhado sobre isso nesta matéria sobre a vontade do diretor em converter Alien em Prometheus. E isso tem a ver com os problemas de continuidade, inclusive um elemento da mitologia que chegou a ser introduzido no primeiro filme, mas foi descartado na edição final antes de chegar aos cinemas.
E é justamente isso que não faz sentido em Aliens, O Resgate que acaba de ser reparado na HQ que serve como uma conexão entre o final de Alien e o começo de Alien: Romulus: se o Xenomorfo original aparentemente morreu, como o segundo mostra um exército dessas criaturas sendo que na primeira parte não havia uma Rainha Xenomorfa para gerar os chamados “Ovomorfos” capazes de criar um novo rebento Facehugger horrível?
Qual é o delito cronológico de Alien?
Bem, só para refrescar a memória, o Alien original de 1979 valorizava muito mais o poder ameaçador de uma máquina assassina extraterrestre astuta e cheia de recursos. No final do filme, a heroína Ripley (Sigourney Weaver) consegue ejetá-la da nave Nostromo para o espaço, onde, aparentemente, a criatura morre.
Atenção para spoilers de Alien: Romulus #1!
Já no filme Alien: Romulus ficamos sabendo que “Big Chap”, como é chamado o primeiro Xenomorfo visto na franquia, conseguiu se alojar na resina de uma pedra espacial. Isso o manteve em um estado de animação suspensa. Contudo, os incautos pesquisadores da Estação Renascença encontraram a peça e tiveram a brilhante ideia de tirar a fera da soneca, apenas para serem dizimados.
Em Alien: Romulus #1, lançado recentemente, a trama mostra mais detalhes de como Big Chap arregaçou a tripulação inteira em um verdadeiro festival de assassinatos. Os quadrinhos, em seguida, mostram que o Xenomorfo original foi utilizado em experimentos de engenharia reversa executada pelo oficial de ciências sintéticas, Rook.
No filme, Rook é quem extrai aquela gosma escura chamada de Black Goo, em um dos Facehuggers — essa parte do filme já conecta a trama com a substância apresentada em Prometheus para recombinar DNA herdado de Alien.
Ou seja, a sobrevivência do Big Chap depois de ser ejetado da Nostromo no Alien original é que permitiu a Rook fazer os experimentos que reiniciaram o ciclo vital do Xenomorfo.
Além disso, no final de Romulus vemos uma horripilante recombinação da gosma escura injetada em uma mulher grávida, em uma das cenas mais estranhas e aterrorizantes do cinema. Essa festa da meleca preta recombinada promiscuamente desde a chegada do Big Chap serve como uma ótima e coerente explicação para a presença de tantos Xenomorfos em Aliens, O Resgate, incluindo uma variação que se tornou a Rainha Xenomorfa.
Romulus também mostrou como o ciclo de vida do Alien se tornou muito mais veloz a cada cepa desde Covenant. No filme original até tinha uma cena deletada envolvendo Ovormorfos, o que explicaria tanto bicho lazarento na sequência. Contudo, somente agora, com essa HQ, é que a escorregada na graxa finalmente ganha um conserto decente para delito cronológico, após “apenas” 45 anos.
Podem apostar que vamos ver mais soluções para as várias tonhadas na continuidade que a franquia cometeu nessas quase cinco décadas de cabeçonas fálicas com mandíbula gotejante guardando uma boquinha redundante louca para moer humanos e jorrar perdigotos derretedores de coisas e pessoas.
Leia mais: