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Saiba por que Ridley Scott tentou converter a franquia Alien em Prometheus

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21th Century Fox/Disney
21th Century Fox/Disney

Quando Alien chegou aos cinemas em 1979, o jovem diretor Ridley Scott não imaginava que seu Xenomorfo se tornaria uma franquia. Atualmente, é mais do que isso, pois tem uma mitologia própria e está prestes a se conectar completamente como um universo compartilhado transmídia. E, para que isso aconteça adequadamente, a conexão entre as produções precisa trazer coerência a uma das continuidades mais zoadas do cinema.

A franquia sempre sofreu com um problema que agora fica mais escancarado. Além dessa necessidade de os conteúdos de Alien estarem bem interligados em um ecossistema com a cronologia coesa, o próprio Scott vem revelando detalhes dos dois maiores erros que já cometeu como produtor no início da carreira e até quando voltou a dirigir filmes da franquia que criou.

Scott deu duas entrevistas recentemente admitindo que se arrepende profundamente de não ter batalhado para ter direitos autorais de Alien e Blade Runner. Ao The Hollywood Reporter, ele disse o seguinte: "Eu deveria ter garantido, como [Steven] Spielberg fez com Jurassic e tudo o que ele faz, e James Cameron fez com o que ele tem. Ressuscitei uma franquia Alien morta com Prometheus e Alien: Covenant, e nós deveríamos ter reintegrado a propriedade naquele momento, e não o fizemos, porque alguém foi descuidado".

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Em seguida, à Vanity Fair, ele revelou que não deveria ter sido tão relapso e submisso aos parceiros executivos que tinha em seus primeiros anos de carreira. "A maioria dos diretores em Hollywood — certamente, digamos, no meu nível — não deixa essas coisas passarem. Mas fiz Alien como meu segundo filme, então não tive muita escolha. E Blade Runner foi meu terceiro filme. Então, não tive escolha porque meus parceiros eram muito difíceis. Foi meio que 'Bem-vindo a Hollywood.'"

E isso explica muita coisa na caótica cronologia de Alien, assim como várias decisões questionáveis nas sequências e erros de continuidade bizarros. E mais: também deixa nas entrelinhas a razão de ele ter teimado tanto em converter Alien em Prometheus, e de ter deixado os Xenomorfos de fora de seu retorno para a franquia no cinema. 

O mau desenvolvimento da franquia Alien 

Quando Alien estreou no final dos anos 1970, em um período de efervescência da cultura sci-fi e do cinema de terror, logo se tornou um clássico instantâneo. Mesmo com um orçamento de filme independente, Scott trouxe uma ambientação intimista e claustrofóbica em uma narrativa labiríntica e perturbadora. O ritmo escalando como os batimentos cardíacos rumo a um iminente infarto e personagens cínicos com moral dúbia completaram uma das maiores pérolas do gênero.

Com isso, a 20th Century Fox logo pensou em uma sequência. E daí James Cameron assumiu a direção em um filme que também é bom, mas que trazia um tom completamente diferente do anterior. Em vez de uma criatura aterrorizante e sorrateira encurralando nossos medos em corredores capazes de desorientar qualquer um, o Alien se multiplicou em uma espécie de praga em colmeia. A dificuldade que Ripley teve de fugir de uma criatura tão ameaçadora quanto astuta, acabou se dissolvendo em atmosfera de filmes de ação com o machão de bazuca e metralhadora atirando e explodindo tudo o que aparecesse pela frente, como se estivesse enfrentando insetos irrelevantes.

Do hiato entre Aliens, O Resgate e a continuação, entre 1986 e 1992, a franquia retornou com David Fincher trazendo alguns lampejos da atmosfera original, em Alien 3. Mas os personagens pouco cativantes e o roteiro completamente previsível não estavam à altura de sua narrativa visual, e, embora muita gente seja fã deste capítulo, a maioria já dava como certo o fim dessa jornada.

Os quadrinhos publicados nessa época, reforçados pelos games e livros, até mantiveram os fãs interessados. Entretanto, a direção pobre de Jean-Pierre Jeunet e o roteiro ruim decretaram a morte temporária da franquia. Scott nem mesmo considera Alien: A Ressurreição como canônico.

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Então, observe bem essa trajetória. As perguntas que rondavam esse desenvolvimento precário e caótico eram: por que Scott abandonou sua criação? Por que a ambientação, a tonalidade, a cronologia e a continuidade são tão mal pensadas e desconexas desse jeito?

Aí voltamos para o começo: como Scott não tinha assegurado direitos autorais ou controle criativo, ele simplesmente ficou afastado, enquanto os executivos da 20th Century Fox brisavam em decisões questionáveis para a franquia.

A tentativa de reinício com Prometheus

Eis que, em 2012, depois de tanta gente clamar pelo retorno de Scott para Alien, os fãs foram surpreendidos com uma produção que trazia vários elementos da franquia em um projeto misterioso. O diretor jurava do começo até a estreia, e posteriormente, que não era para considerar um novo capítulo da mitologia que criou.

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Scott foi bastante verbal sobre isso na época, tentando dissociar a todo custo Prometheus de Alien. Não sabemos detalhes contratuais, contudo, agora, faz sentido que ele nem mesmo tenha usado Xenomorfos. Os elementos ligados à mitologia anterior eram mostrados com certa discrição, sem aparente conexão direta com as criaturas assassinas ou as histórias anteriores.

O diretor não chegou a confirmar isso oficialmente, contudo, dá para concluir que ele estava tentando criar uma nova franquia que pudesse retomar suas criações em uma linha com os devidos direitos autorais e controle criativo.

Mas a conexão com a trama de Alien, assim como diversos elementos e ambientação; narrativa e personagens, foram naturalmente demolindo qualquer tentativa de disfarce descarado que Scott tentou usar com truques cosméticos que foram completamente ineficazes no papel de se tornar um derivado independente capaz de roubar a parcela de público e pedaços de suas próprias criações.

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Então, já reconhecendo que sua manobra executiva falhou, ele admitiu de uma vez e, aparentemente, conseguiu alguns acordos para retornar para Alien, mesmo sem o controle absoluto das decisões sobre o universo em construção.

O “universo Alien” em construção com Romulus

E, aqui estamos, com Alien: Covenant marcando o retorno de Scott como diretor e produtor em 2017, e uma espécie de soft reboot com Alien: Romulus, de Fede Alvarez. Fica claro que Ridley agora acertou algum termo para manter a franquia em uma direção mais homogênea; e que Romulus, inclusive nos quadrinhos, também tem o papel de solucionar problemas de continuidade e de reformular ambientação e personagens de forma a atualizar a série para uma nova geração.

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E aí, resta aguardarmos para ver o que Scott planejou para seu próximo filme da franquia, já em desenvolvimento; e para a série Alien: Earth, que estreia no ano que vem. A partir de Romulus veremos lacunas sendo preenchidas e tramas revisadas, para finalmente termos um universo compartilhado transmídia que esteja conectado de forma coerente na cronologia e continuidade. 

Pelo menos é o que esperamos.

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