6 lições que o filme do Lanterna Verde tem que aprender com Top Gun: Maverick
Por Claudio Yuge |
Top Gun: Maverick é até agora a maior bilheteria dos cinemas no ano. A ação aérea, que traz de volta um dos mais famosos personagens de Tom Cruise — e da própria cultura pop —, é a maior bilheteria do ano, com mais de US$ 800 milhões (R$ 4,3 bilhões) em todo o mundo, superando o blockbuster marvete Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. O filme é uma das raras exceções em que a sequência é tão boa (ou até superior) que o primeiro longa, de 1986. E, curiosamente, ensinou algumas lições que a Warner Bros deveria ter aprendido antes de produzir a fracassada adaptação Lanterna Verde, de 2011.
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Como sabemos, a história que trouxe o Lanterna Verde Hal Jordan na pele de Ryan Reynolds não conseguiu transmitir exatamente por que o personagem é um dos mais queridos dos fãs de quadrinhos. Com uma trama preguiçosa, o roteiro tentou incluir muita coisa que não foi bem resolvida e acabou se perdendo em sequências estranhas, que nos gibis até funcionam, mas que nas telonas deveriam ter sido melhor pensadas — como o fato de o herói sair de uma lanchonete no meio da noite, ir para o centro do universo e voltar para dormir em casa como se estivesse dando um rolezinho no bairro. Além disso, as cenas de ação e combates aéreos deixaram bastante a desejar.
A vida como piloto de testes é uma parte importante na construção do personagem. A jornada do impulsivo e temperamental Hal Jordan tem a ver com o aprendizado sobre como enfrentar seus medos e superar a dificuldade de se relacionar com outras pessoas. Os ambientes disciplinados das Forças Aéreas e da corporação policial intergalática dos Lanternas Verdes são muito ricos e interessantes para a evolução do herói.
E, curiosamente, Top Gun: Maverick traz tudo o que faltou no filme do Lanterna Verde. Abaixo, listamos seis coisas que a DC Films precisa aprender quando quiser realmente trazer Hal Jordan de volta para o cinema do Universo Estendido DC (DCEU, na sigla em inglês).
Talentoso, impulsivo e solitário
Todo mundo que conhece Hal Jordan, sabe que uma de suas principais características é ser tão impulsivo quanto habilidoso. Em muitas situações isso o torna o mais corajoso e audacioso Lanterna Verde da Tropa — há várias histórias em que ele descobre coisas que ninguém mais sabia, justamente porque nunca tinha tido capacidade ou bravura suficiente para isso.
Contudo, esse comportamento às vezes acaba o levando a fazer algumas decisões duvidosas, o que acaba afastando as pessoas que ele ama; e muitas, muitas vezes, provoca sua expulsão da Tropa dos Lanternas Verdes.
Maverick também age de maneira parecida no filme, e uma das principais semelhanças com Hal Jordan já aparece no começo do longa, em que ele desafia os limites ao tentar bater a marca de pilotar a mais de 10 vezes superior à velocidade do som — o famoso Mach 10.
Manobras aéreas reais
Um dos aspectos mais impressionantes de Top Gun: Maverick são as manobras aéreas, que, embora não tivessem os atores realizando as proezas, quase tudo ali foi gravado sem o uso de efeitos especiais. O resultado ficou tão verossímil que vê-los no ar passa a impressão de que a realidade não seja tão diferente daquilo — e os próprios pilotos de verdade já disseram isso ao assistir ao longa de Tom Cruise.
O filme Lanterna Verde, de 2011, até flerta com algum tipo de ação aérea, mas isso acontece muito rapidamente. E, comparadas com as cenas de Top Gun: Maverick, as que foram protagonizadas por Ryan Reynolds parecem coisa de parque de diversões. Ou seja: se Hal Jordan voltar para as telonas, seria importantíssimo a DC Films pensar em algo semelhante ao filme de Tom Cruise para as sequências no ar.
Elenco de primeira escolhido a dedo
Tom Cruise caprichou na escolha dos atores que seriam seus colegas de trabalho em Top Gun: Maverick. Miles Teller é um dos melhores de sua nova geração, e ficou perfeito no papel do filho de “Goose”, o ex-parceiro de Maverick, que morreu no primeiro filme de 1986; Glen Powell é o contraste ideal para o personagem de Teller, como seu rival na academia; Monica Barbaro traz a presença feminina que não havia no longa original entre os pilotos; e Jennifer Connely faz até os nostálgicos esquecerem a Charlie de Kelly McGillis.
Lanterna Verde até tinha atores de primeira, a exemplo de Blake Lively, Peters Sarsgaard, Mark Strong, Tim Robbins e Angela Basset, além do próprio Ryan Reynolds. Mas faltou química entre muitos do elenco — talvez por conta do roteiro, que não ajudava muito também. Escolher pessoas a dedo, que possam interagir com tanta energia como em Top Gun: Maverick, é essencial para um filme de Hal Jordan.
Conflitos e superação pessoal
Um dos aspectos mais interessantes de Hal Jordan reside no fato de que ele precisa muito mais lidar com seus próprios sentimentos do que exatamente com os inimigos, para conseguir vencê-los. Superar a solidão e a morte do próprio pai faz parte de sua jornada. Jordan mostra que não é destemido; pelo contrário, ele tem medo como todo mundo. Mas enfrentar é o que o torna especial.
Em Top Gun: Maverick também vemos o protagonista de Tom Cruise tendo que superar coisas do passado que o assombram até os dias atuais. E isso também envolve ser mais falível em seus relacionamentos amorosos, assim como mais compreensivo com a nova geração de pilotos. Embora Lanterna Verde tenha tocado nesses assuntos, tudo foi muito raso no filme de Ryan Reynolds.
Rivalidades que viram respeito
Uma das coisas mais legais de Top Gun, seja no antigo ou no novo, é ver que duas pessoas extremamente competitivas e talentosas, mesmo sendo rivais, talvez não se tornem as melhores amigas, mas podem nutrir muito respeito uma pela outra. Isso aconteceu no passado entre Maverick e Iceman (vivido por Val Kilmer), e, no novo, ocorre ente Rooster (Miles Teller) e Hangman (Glen Powell).
Nas tramas de Hal Jordan, ele também tem pilotos rivais nas Forças Aéreas dos Estados Unidos; e na própria Tropa dos Lanternas Verdes ele tem vários desafetos, principalmente por conta do que ele fez na época em que era o vilão Parallax. Ter algo na linha “rivalidade que vira respeito” é algo que os fãs do Lanterna Verde esperam em uma próxima adaptação.
Legado
O lado mais emocionante de Top Gun: Maverick está na relação que o protagonista de Tom Cruise tem com o Rooster de Miles Teller. Ele é o filho de um amigo que morreu em combate no primeiro filme, algo que Maverick se sente culpado e o afasta de Rooster. Mas, com o tempo, e com o conselho do amigo de “velha guarda”, o Iceman de Val Kilmer, Maverick passa a entender que não é mais sobre ele; e sim sobre o legado, a nova geração.
A Tropa dos Lanternas Verdes trabalha muito em direção ao legado, que está no próprio DNA da DC Comics. Assim como os Gladiores Esmeralda, a editora tem vários Flash, a Batfamílias, os seguidores de Superman, entre outros, que também se preocupam em treinar e deixar a mensagem clássica de seus ideais para as próximas gerações.
Lanterna Verde até toca no assunto, mas torna tudo muito complicado, querendo explicar décadas de mitologia em um filme de menos de duas horas. O ideal seria ter focado mesmo na construção de Hal Jordan e introduzir a ideia do legado, que poderia ser então desenvolvido em mais filmes e na TV — algo que deve acontecer direito com a nova série dos Gladiadores Esmeralda no HBO Max.