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5 séries de sucesso que dialogam com HQs famosas

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ABC/Fantagraphci
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Alguns filmes e séries de sucesso, mesmo que não tenham uma conexão direta, dialogam de forma intrigante com HQs famosas. São produções de diferentes mídias que vieram de contextos, épocas e núcleos criativos distintos; mas “conversam” tão bem que esse flerte chega a ser confundido com “adaptação acidental” ou “coincidência cósmica”. Abaixo estão algumas obras audiovisuais que combinam tanto com gibis cultuados que deveriam vir juntas no streaming, nas salas de cinema, ou nas bancas.

Antes de mais nada, vale lembrar que a Sétima e a Nona Arte possuem elementos linguísticos que as tornam “irmãs”. O Cinema é a arte sequencial dinâmica, que explora o drama por meio da atuação e aproveita bem os recursos audiovisuais na construção do fluxo cronológico da narrativa.

Já os Quadrinhos são a arte sequencial estática, que promove um constante exercício de criatividade. Isso acontece entre os espaços em branco entre os quadros. Isso obriga nossa imaginação a completar, apenas com os estímulos da visão, as lacunas temporais e os outros sentidos, como o som, por exemplo, por meio da simbiose entre palavras e imagens.

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As obras que escolhi abaixo não são adaptações, nem possuem ligações diretas entre si. Os autores talvez até se conheçam ou tenham noção da existência uns dos outros; e, em alguns casos, possivelmente beberam de fontes semelhantes.

Mas, com certeza, nenhum deles queria intencionalmente dialogar de maneira tão íntima como acabaram fazendo. E por que viajei nisso? Bem, porque sou fã de todos, e, quando consumi essas obras, lembrei imediatamente um do outro.

E, o mais importante: essa lista talvez deixe os fãs de seriados curiosos pelas “adaptações acidentais” de suas produções favoritas, assim como pode fazer o mesmo com os leitores. Melhor ainda, de repente pode despertar o apetite dos que ainda não degustaram nada disso. Então, sem mais delongas, vamos às cinco séries de sucesso que dialogam com HQs famosas.

5 séries de sucesso que dialogam com HQs famosas

Para facilitar, as séries estão descritas com uma breve sinopse. Em seguida, detalho os elementos que se conectam com os quadrinhos, que, para não deixar o texto muito extenso e chato, não me aprofundei tanto no enredo.

Aí vai de cada um buscar mais detalhes nas próprias obras — sem preguiça:

Twin Peaks/Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro

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Você já tentou desenhar um sonho ou um pesadelo ao acordar? É uma tarefa muito difícil, mas David Lynch é mestre em arremessar a mente das pessoas em uma espiral onírica que transforma a investigação do assassinato da jovem Laura Palmer em uma jornada intrigante e perturbadora. Mistério, suspense e drama estão envoltos em enigmas surrealistas em uma atmosfera melancólica, cínica e decadente, que revela a podridão de uma pequena cidade que, por trás da fachada das “famílias de bem”, esconde o lado mais perverso do ser humano. O flerte com o sobrenatural completa a narrativa cheia de simbolismos, que mantém a trama ecoando nas nossas mentes e convida os espectadores a preencherem o enredo com fragmentos de subtexto à sua maneira.

Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro foi lançada em capítulos da revista Eightball, entre 1989 e 1993, antes mesmo de Twin Peaks, que teve sua primeira temporada transmitida em 1990. A trama gira em torno da investigação de um snuff movie, gênero extremo que envolve mortes reais. Os personagens bizarros e a coleção de enigmas remetem imediatamente à obra de David Lynch.

Só cuidado para não emendar a HQ com muitos capítulos de Twin Peaks porque você provavelmente vai ficar desnorteado por algumas horas.

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Mindhunter/Batman

A série idealizada por David Fincher, lançada pela Netflix em 2017, mostra como o FBI teve que se aprimorar para capturar e compreender um tipo de criminoso que, a partir de 1977, começou a pipocar recorrentemente por todos os cantos dos Estados Unidos: o serial killer. Os agentes especiais Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany) unem esforços com a doutora Wendy Carr (Anna Torv) para desenvolver os primeiros passos da psicologia criminal, o único método capaz de arranhar a imprevisibilidade dos homicidas.

Bill e Holden têm uma dinâmica muito parecida com a de Batman e Robin, principalmente o Homem-Morcego mais velho e cansado de Batman: O Cavaleiro das Trevas e de Batman do Futuro. Já o “Menino Prodígio” de Mindhunter se assemelha mais com Tim Hunter, que, embora seja um excelente detetive, não consegue visitar seu lado sombrio para pensar como um criminoso e sair ileso como Bruce Wayne consegue. Wendy faz um papel burocrático e furtivo que lembra a Batgirl Bárbara Gordon.

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Brooklyn Nine-Nine/Vingadores “Detran Avengers”

Jake Peralta (Andy Samberg) e sua trupe estrearam em 2013, e passam mais tempo fazendo piadinhas infames e matando trabalho com tretas e trollagens do que realmente capturando bandidos ou investigando crimes. Isso é um deleite para os amantes do delicioso humor baixa-renda “tão ruim que é bom”.

Após a Guerra Civil da Marvel, uma equipe dos Vingadores passaram a ser caçados pelo governo dos Estados Unidos, e, como solução temporária, o Doutor Estranho abrigou o grupo todo em seu santuário, que não pode ser localizado pelas autoridades. Assim, Homem-Aranha, Wolverine, Coisa, Luke Cage, Mulher-Aranha, entre outros, tiveram que passar várias semanas acordando, fazendo refeições e dormindo no mesmo lugar. A fase não durou muito, mas era hilário ver os heróis tretando o tempo todo e fazendo serviços burocráticos — daí o apelido de “Detran Avengers”.

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Segura a Onda/American Splendor

Larry David, o criador de Seinfeld, protagoniza a série que acompanha o cotidiano do roteirista em sua vidinha de rico ordinário em Los Angeles. O cara implica com tudo e não aguenta ver uma vergonha que já quer passar, em situações que são a perfeita representação do degradê moral do ser humano. É, basicamente, uma “série sobre o nada”, mas o humor constrangedor é um gênero com muitos fãs — eu, inclusive. A atração foi lançada em 2000 e está na 11ª temporada.

American Splendor tem uma adaptação oficial chamada O Anti-Herói Americano, que também narra o cotidiano banal e patético de Harvey Pekar — um cara tão implicante e chato quanto Larry David. “Mas por que isso é legal?” Bem, o humor corrosivo e os traços de Robert Crumb conseguem transformar o ordinário em extraordinário, convidando os leitores a fazerem uma autocrítica de sua própria pobreza de espírito e mesquinharia.

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The Wire/100 Balas

A premiada série lançada em 2005 destaca o uso de escutas telefônicas e outras técnicas inovadoras de investigação no combate ao narcotráfico. Mas, na verdade, esse tema é só uma “desculpa” para montar um inteligente mosaico de personagens e subtextos que expõem a corrupção e a hipocrisia de instituições, políticos, sistemas educacional e prisional e os meios de imprensa. Cada temporada é narrada por uma diferente perspectiva, e é justamente dessa forma que a atração consegue retratar de forma crua e realista a injustiça e desigualdade cotidiana da maior parte da população dos centros urbanos.

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100 Balas, de Brian Azzarello e Eduardo Risso tocam em temas muito semelhantes, a partir da trama que sempre parte de um “presente” tentador disponibilizado por um homem chamado Agente Graves: ele busca pessoas injustiçadas e oferece uma maleta com 100 balas não rastreáveis e provas incontestáveis contra quem as arruinou. Assim como em The Wire, a obra lançada pelo extinto selo Vertigo da DC Comics monta um mosaico de personagens e eventos, que giram a perspectiva para que os leitores entendam a conexão entre cada um e do que realmente se trata a história.