Por que temos tantos tablets ruins no mercado brasileiro?
Por Amanda Abreu • Editado por Léo Müller |

Nos últimos tempos, testei uma infinidade de tablets diferentes aqui no Canaltech. Desde os feitos especialmente para crianças, a outros modelos considerados de entrada, intermediários e topos de linha.
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Todavia, muitos de vocês sempre nos perguntam o motivo pelo qual as opções disponibilizadas no mercado brasileiro são poucas, com configuração abaixo do ideal e com preços lá nas alturas.
Sendo assim, nós trouxemos esse artigo para elencar os principais motivos pelos quais essa é, infelizmente, uma realidade do nosso país, que não irá mudar tão cedo. Confira na nossa matéria.
País e perfil do consumidor definem as escolhas estratégicas das marcas
Para entendermos melhor como o mercado de tablets funciona em nosso país, se faz necessário sabermos mais sobre o perfil do consumidor brasileiro. Apesar de rico, o Brasil tem um consumidor com baixo poder aquisitivo.
Ou seja: estamos falando de um território rico, mas com a renda mal distribuída entre as pessoas, ocasionando muitos problemas, entre eles a desigualdade social. Em 2022, o salário-mínimo está no valor de R$ 1.212, algo muito abaixo do ideal e necessário para a população viver de forma digna e adequada.
Em contrapartida, os últimos lançamentos de tablets intermediários no mercado brasileiro demonstram essa disparidade de valores, já que os preços desses últimos produtos ficaram na faixa de R$ 2.000 a R$ 2.200, números bem elevados, principalmente ao lembrarmos que estamos falando de modelos intermediária, e não topo de linha.
O motivo pelo qual estou adentrando esse assunto é que, quando falamos de dispositivos tecnológicos, estamos falando sobre aparelhos que, no geral, são bem caros e fora da realidade de boa parte da população.
Não à toa, as compras no crédito são um meio amplamente utilizado para adquirir novos produtos no geral, já que comprar à vista não é uma opção a se considerar na maioria dos casos.
Somado a tudo isso, temos um dos impostos mais caros do mundo. Um dos últimos levantamentos feitos em nosso país mostra que nossa carga tributária está na casa dos 35%, sendo este um número bem elevado. Logo, é natural que muitos produtos — principalmente os importados — acabem sendo mais caros do que eles realmente são.
Esses fatores são alguns dos principais motivos que determinam a forma como as marcas irão posicionar e precificar seus aparelhos aqui em nosso território, bem como definir a variedade de dispositivos ofertados.
Tablets: apesar de úteis, são aparelhos secundários para a população brasileira
Levando em consideração tudo o que dissemos acima, os tablets acabam sofrendo com todos os pontos apresentados. Uma das coisas que os consumidores mais reparam sobre esse tipo de produto é a falta de boas opções intermediárias no mercado.
No geral, os tablets que se encaixam nessas características possuem construção abaixo do que encontramos lá fora.
Já fizemos uma diversidade de vídeos sobre tablets aqui no Canaltech, em que a maior parte da reclamação dos usuários é feita sempre citando os mesmos “defeitos”.
Normalmente, os relatos demonstram o descontentamento com o fato de a maioria desses dispositivos virem somente com 32 / 64 GB de espaço interno e 3 / 4 GB de memória RAM.
Também não é incomum que eles tenham tecnologias antigas embarcadas nos produtos, como a disponibilidade da internet 3G e Bluetooth com protocolo antigo e desatualizado, Wi-Fi de 2,4 GHz somente, entre outras questões.
A situação também não melhora na parte de desempenho, já que normalmente são utilizadas peças mais antigas e defasadas na construção, ou com performance no limite do aceitável e adequado.
Preços
Para piorar, os preços desses produtos não ajudam. Existem tablets sendo lançados no mercado brasileiro por R$ 2.200 com configuração de aparelho de entrada, o que faz com que os usuários mais experientes se sintam frustrados com a situação.
E mesmo no cenário em que tablets topo de linha aparecem como opções mais robustas e dentro das expectativas, eles costumam ser muito caros, mesmo para pessoas que estão dispostas a pagar a mais por esse tipo de aparelho.
É como se só existisse a melhor e a pior opção, deixando um “buraco” entre os dispositivos intermediários de fato.
Isso ocorre pelos motivos que citei mais acima, mas ainda temos outros “problemas” que dificultam a situação. A segurança em nosso país, por exemplo, acaba sendo um dos motivos dos quais as pessoas não usam o tablet fora de casa.
Violência
Infelizmente, alguns de nós já passamos pela desagradável situação de ter um item subtraído indevidamente. Seja em um assalto ou um furto, você certamente já deve ter conhecido alguém que sofreu esse tipo de violência. Normalmente, essas pessoas procuram os dispositivos eletrônicos e dinheiro, já que são moedas fáceis de troca.
Logo, o tablet vira mais um aparelho em que o brasileiro não quer correr o risco de perder de um jeito injusto e opta por deixá-lo em casa na maioria das vezes.
Fora a situação em que, entre um tablet e um celular roubado, por exemplo, o segundo dispositivo faz mais sentido na usabilidade e utilidade do dia a dia, desfavorecendo a compra do primeiro.
Planos de internet móvel são bem caros no Brasil
Os planos de internet móvel são outro problema que prejudicam os tablets no geral. Diferentemente de outros países, que ofertam pacotes de dados próprios para quem tem um tablet, aqui no Brasil ficamos reféns de opções caras e ineficientes.
Eu mesma posso falar da dificuldade que eu tenho em conseguir um sinal minimamente funcional onde moro. Minha residência fica localizada na grande São Paulo, local esse que deveria ter, ao menos, um sinal de internet móvel que resolvesse meus problemas. Porém, diferentemente do esperado, não é muito incomum que eu fique sem conexão.
Inclusive, somos duas pessoas aqui em casa, e esse problema já ocorreu com os dois, sem exceção. E antes que perguntem: sim, usamos operadoras de telefonia móvel diferentes. Logo, ficamos presos em um círculo de problemas que não acabam. A internet, além de cara, é ineficiente.
Tem jeito?
Dadas todas as informações passadas anteriormente, o mercado de tablets nacional dificilmente conseguirá algum tipo de mudança considerável nos próximos anos.
Apesar de serem dispositivos muito úteis, o perfil do consumidor brasileiro é limitado em diversos aspectos, influenciando diretamente nos aparelhos disponibilizados em nosso território.
Por ser considerado um produto secundário, além da condição econômica dos cidadãos não favorecer, as pessoas preferem investir em outros tipos de compra que façam mais sentido a longo prazo.
Um celular, por exemplo, costuma ter utilidade e usabilidade muito superior frente a um tablet, fazendo com que ele fique “esquecido” pelos consumidores mais simples.
Em contrapartida, existem as pessoas que precisam e querem comprar um tablet com poder de fogo superior aos últimos lançamentos, mas se veem impedidas devido à lacuna existente entre os aparelhos de entrada e os topos de linha, ficando sem opções válidas por um preço mais competitivo.
No fim, as únicas alternativas que restam é pesquisar e esperar por um valor mais competitivo nos aparelhos mais robustos, ou importar versões mais equilibradas através do (nada simpático) dólar.