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Caso JBL | Como a pirataria no Brasil afeta marcas e consumidores

Por| 27 de Junho de 2019 às 15h13

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Caso JBL | Como a pirataria no Brasil afeta marcas e consumidores
Caso JBL | Como a pirataria no Brasil afeta marcas e consumidores
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Por Wellington Arruda

Produtos falsificados existem aos montes e sequer são “segredo” para, digamos, grande parte da população. E a JBL não fica de fora, tendo em vista sua popularidade: em 2018, o Canaltech fez uma apuração na qual identificou 57 apreensões de cargas importadas contendo produtos falsificados da marca JBL realizadas no Brasil. No mesmo ano, no total, 400 mil produtos falsificados da marca foram apreendidos.

Além disso, 12 ações de busca e apreensão foram realizadas em centros comerciais de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Florianópolis e Porto Alegre. “Dos 11 casos já concluídos, foram contabilizados mais de 11 mil produtos apreendidos, mas a estimativa é que, após o término da contagem dos casos, serão registrados mais de 700 mil unidades de produtos falsificados com a marca JBL apreendidos no Brasil em 2018.”

Rodrigo Kniest, vice-presidente para a América do Sul e presidente da Harman do Brasil, explica que este volume de produtos falsificados “é péssimo para a marca, mas em primeira instância é péssimo para o usuário, o consumidor.” Indo mais além, ele classifica os usuários em duas categorias:

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  1. Os que sabem que não se trata de um produto original;
  2. O grupo dos que são realmente iludidos.

“Ou o usuário sabe que está sendo enganado ou está se enganando, querendo acreditar que está pegando um produto que tem pelo menos 10% daquele outro, que é o original”, acrescenta.

Mas, afinal, o que será que as marcas pensam sobre a qualidade e o "produto final", filho da pirataria? De acordo com o VP da Harman, a opinião é incisiva: “Não é réplica. É outra tecnologia, outra fabricante. Não tem nenhum vínculo com a tecnologia que a empresa [oficial] tem. A cópia não tem nenhum vínculo original com os critérios de engenharia ou desenvolvimento da marca que realmente desenvolveu aquela tecnologia, aquele produto.”

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Já sobre o marcas e empresas que trabalham com cópias, Rodrigo afirma que a coisa vai muito além de tentar imitar. ”Para uma marca fazer um produto, colar um adesivo falso em cima da marca de outra empresa, estará cravando um atestado de: ‘olha, eu não sei fazer um produto, eu não consigo fazer um produto, então eu vou fingir que eu tenho um produto parecido com aquele outro’”.

O xis da questão, principalmente no que concerne as grandes marcas, está no consumidor que vai experienciar o produto. Uma das grandes preocupações no desenvolvimento, como cita o executivo, está em componentes que são produzidos e vendidos “para essa empresa pirata que vai fazer um produto que é cópia de alguma outra coisa”, tomando como exemplo as baterias.

Citando o caso do Galaxy Note7, da Samsung, Rodrigo diz que “essas tecnologias de bateria, hoje em dia, chegaram num ponto em que ou você acerta muito a mão ou você vai ter um problema muito grande”, ainda considerando que a empresa sul-coreana tem todos os cientistas e laboratórios possíveis e imagináveis, e mesmo assim o problema aconteceu e os modelos entraram em combustão, manchando a reputação da marca.

“Um mercado que não consegue se organizar para ter marcas que têm tecnologia, desenvolvimento, e até marketing para as pessoas saberem o que dá para fazer e o que não dá para fazer com o produto, é um mercado que não se desenvolve”, avalia rodrigo. Sua fala, aliás, vem acompanhada da preocupação com a experiência do consumidor e, em geral, com o mercado, que acaba também recebendo danos por conta disso. Sem contar os danos onerosos para as empresas que desenvolvem e fabricam produtos, fazem todo um investimento, para no fim das contas, alguém colar um adesivo e iniciar uma leva de pirataria.

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Segundo dados do Fórum Nacional Contra a Pirataria (FNCP), anualmente, a sonegação fiscal causa prejuízo de cerca de R$ 115 bilhões para os setores privado e público, enquanto que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a pirataria de produtos no Brasil deixa de gerar 1,5 milhão de empregos a cada ano.

“Esse é um assunto que realmente estraga muito o mercado brasileiro”, analisa Rodrigo. E estraga muito mais “a experiência que os consumidores têm com a marca”, no caso, a própria JBL. Para entender, é simples: a quantidade de produtos falsificados que levam o selo da JBL vendidos aqui no Brasil é imensa. Produtos sem qualidade reconhecida, fabricados em locais clandestinos, vendidos por um preço bem abaixo do produto original e entregando um resultado muito abaixo do esperado acabam manchando a reputação da empresa perante os consumidores desavisados. Cria-se uma falsa impressão de que a marca é, de fato, fraca.

Kniest ainda cita uma experiência pessoal que ele sempre presencia quando precisa vir à cidade de São Paulo: “na frente do hotel, lá na Avenida Paulista (risos), naquelas bancas [de jornal], eu encontro um headphone. Eu olho, e lá está ele com a marca JBL. Nem fico mais surpreso que é um fone pirata. O que realmente me surpreende é a qualidade do adesivo JBL que foi impresso numa impressora com um jato de tinta defasado, que provavelmente colado com cola escolar (risos)... quer dizer, é impressionante!”

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Ainda num tom descontraído, ele diz que espera que quem comprar os produtos falsificados saiba que não está comprando um produto JBL original. Ele ainda revela que não se abala com essa situação, pois “isso é do jogo, é normal e já tem o seu espaço”. No entanto, Rodrigo concorda que o pior caso é quando a pessoa, inadvertidamente, vai achar que é um produto JBL. Quem paga o pato?