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Saiba como o MSX foi a escola dos primeiros programadores no Brasil

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Antes dos cursos online, das IDEs coloridas e do GitHub, aprender a programar no Brasil era uma mistura de curiosidade, improviso e muita paciência. Nos anos 1980, uma pequena máquina chamada MSX levou o aprendizado de código para dentro de casa — e acabou formando boa parte da geração que impulsionou a tecnologia nacional.

No início do século XX, já existiam programadores no país, mas eram profissionais mais velhos, ligados a universidades e grandes empresas, trabalhando em máquinas exclusivas e linguagens restritas. Faltava algo acessível, capaz de despertar o interesse dos jovens. O MSX preencheu essa lacuna.

Lançado em 1983, o MSX nasceu de uma parceria entre a Microsoft e a japonesa ASCII Corporation, com um conceito ousado: criar um padrão universal de computadores pessoais. Marcas como Gradiente, Sharp, Panasonic, Sony e Philips fabricaram seus próprios modelos, todos compatíveis entre si.

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Num mercado dominado por máquinas incompatíveis — CP-400, TK-85, Apple II, ZX Spectrum — o MSX trouxe ordem ao caos. E mais: incluía o MSX-BASIC na memória, uma linguagem simples e direta que permitia escrever e testar programas assim que o computador era ligado. Bastava digitar algumas linhas para ver gráficos, sons ou pequenas animações na tela.

O padrão também oferecia recursos gráficos e sonoros integrados, como sprites e múltiplos canais de áudio, o que facilitava o desenvolvimento de jogos. Pela primeira vez, jovens podiam criar suas próprias experiências digitais sem entender eletrônica avançada nem gastar fortunas com equipamentos.

O berço de Kojima, Konami e uma legião de criadores

O MSX não foi só um brinquedo: foi o terreno fértil onde surgiram nomes e empresas que moldariam a cultura dos games. A Konami deu seus primeiros passos na plataforma e, em 1987, um jovem chamado Hideo Kojima lançou ali o primeiro Metal Gear — início de uma das franquias mais icônicas da história.

A máquina também ajudou a difundir a cultura pop mundial. Jogos inspirados em The Goonies, filme de Steven Spielberg com trilha de Cyndi Lauper, apresentaram à juventude brasileira referências que ainda eram inéditas por aqui. Em plena era pré-internet, o MSX virou uma janela para o mundo, trazendo conteúdos de filmes, livros e personagens estrangeiros.

Softwares baseados em The Hobbit e Perry Mason, além de títulos espanhóis como Emilio Butragueño, Mortadelo e Salaminho e Capitão Trueno, chegavam muito antes das versões oficiais desses produtos no Brasil. O computador permitia explorar universos culturais diversos quando as fronteiras ainda eram fechadas para importações.

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A semente dos desenvolvedores brasileiros

No cenário nacional, o MSX se tornou mais do que um computador pessoal: foi um trampolim para a criatividade. Programadores independentes começaram a desenvolver jogos e aplicações originais, como os adventures Graphos, Amazônia, Avenida Paulista, Angra e Serra Pelada.

Esses projetos marcaram o nascimento da primeira geração de criadores de software brasileiros. Jovens que, movidos por curiosidade e paixão, aprenderam sozinhos a pensar em lógica, estrutura e otimização. Para muitos, essa foi a base de uma carreira sólida em tecnologia.

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O aprendizado se expandia também pelas revistas especializadas, como Micro Sistemas e Clube MSX, que publicavam tutoriais e códigos em BASIC, Assembler, COBOL e Turbo Pascal. Passar horas digitando linhas intermináveis de programas e vê-los rodar na tela — mesmo que fosse apenas um barquinho pixelado navegando — era um triunfo indescritível.

Um legado que ainda pulsa

O MSX democratizou o aprendizado da programação e formou uma geração inteira de desenvolvedores. Levou o código para os lares, despertou curiosidade e incentivou o raciocínio lógico em um tempo em que informação era escassa e o acesso à tecnologia, limitado.

Quatro décadas depois, sua influência permanece viva. Comunidades de fãs ainda produzem novos jogos, emuladores e revistas retrô, celebrando a engenhosidade daquele período. O MSX não foi apenas um computador: foi uma escola portátil, uma fábrica de sonhos em BASIC que ajudou o Brasil a dar os primeiros passos no mundo da programação.

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