Publicidade

Especial: CEO da Kuba Áudio fala sobre os desafios de se empreender no Brasil

Por  | 

Compartilhe:
Kuba
Kuba

O Brasil é uma terra vasta, cheia de pluralidades, com um grande diferencial que é proporcional ao seu tamanho: aqui no país, temos uma riqueza absurda de talentos, ideias e movimentos, gerando produções, serviços e produtos cuja qualidade é inquestionável. E nesta segunda parte da série especial sobre empresas que conquistaram seu espaço com um DNA totalmente nacional, vamos falar um pouco sobre a Kuba Áudio — uma companhia com cinco anos de estrada, fundada por jovens amantes da música e dos sons, que está produzindo fones de ouvido de alta qualidade e fazendo seu nome dentro e fora do país.

A Kuba Áudio nasceu no Rio de Janeiro - RJ, fruto de muita paixão por eletroacústica, frequências e ondas sonoras. A empresa nasceu da ideia de dois apaixonados por música, que cresceram na década de 1990 e despertaram o interesse por audiofilia desde muito cedo. Dessa paixão, surgiu a ideia de criar uma empresa que vendesse fones de ouvido de qualidade, com produção em solo nacional, mas aglutinando muitos anos de conhecimento, viagens, explorações e estudos sobre acústica, eletromagnetismo e eletrônica.

O Canaltech conversou com Leonardo Drummond, cofundador da Kuba e uma das maiores autoridades no ramo do áudio no Brasil. No papo, você vai conhecer como uma jovem empresa, fundada em 2014, conseguiu participar de rodadas de investimento (como Shark Tank) e alçar seu voo rumo a um mercado dominado por marcas estrangeiras.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Do sonho à realidade

Empreender não é fácil, ainda mais em um caminho tortuoso, permeado de incertezas, burocracias, custos e surpresas — muitas vezes bastante desagradáveis. Mas, ter um sonho e correr atrás dele ainda vale a pena aqui no Brasil? Leonardo conta para nós, neste bate-papo, como é transformar um sonho de infância em algo tangível, palpável e extremamente real.

Conheça agora um pouco da história da startup que está desde o fim de 2014 no mercado e conquistando seu espaço entre marcas nacionais e estrangeiras, aqui no Brasil!

Canaltech: Como foi que você descobriu sua paixão por áudio?

Leonardo Drummond: Isso vem desde muito cedo. Meu pai também tem uma relação muito forte com a música, então acabei sendo criado nesse ambiente. Ouço música desde o berço. E, conforme fui crescendo, a música sempre teve uma presença muito marcante na minha vida. Além disso, desde que me conheço por gente tenho um ouvido chato — sempre liguei pra qualidade daquilo que estava ouvindo. Então me lembro, por exemplo, de com uns 7 ou 8 anos pegar o fone do Discman da minha mãe porque achava o som melhor que o do meu.

Com 14 anos, comecei a tocar baixo, e aí essa relação com a música (e com o áudio) se intensificou, porque naturalmente comecei a treinar ainda mais os ouvidos. Alguns anos depois surgiu o iPod, e aí me lembro de começar a buscar um fone melhor do que o que vinha. Na época, viajava bastante, e sempre aproveitava pra comprar um fone nos aeroportos, mas nunca fiquei plenamente satisfeito - até que decidi que faria um investimento maior. Aí, comecei a pesquisar muito em fóruns pra saber o que comprar — e aí adquiri meu primeiro fone mais sofisticado, que foi um Shure SE530. Com ele, tive uma experiência incrível na época, e comecei a querer buscar mais — tanto coisas diferentes quanto melhorias

Transformar isso em algo lucrativo deve ter custado muuuito tempo e dinheiro. Quando vieram a ideia e a decisão de fundar a Kuba? Conta um pouquinho sobre o nascimento da empresa?

Continua após a publicidade

A história começou nos meus últimos períodos de faculdade. Cursei Design de Produto na PUC-RJ, que tem foco no Design Thinking — uma metodologia para projetar soluções para problemas enfrentados pelas pessoas. É uma forma de pensar no desenvolvimento de produtos ou serviços diferente da engenharia, por exemplo, porque tem como ponto de partida (e foco total) não questões técnicas, e sim a experiência das pessoas.

No último ano, temos o projeto final, que dura 6 meses, é muito mais completo e exigente e equivale à nossa monografia. O produto que desenvolvi ali foi justamente um fone de ouvido, mas era um conceito diferente — era um fone que virava caixa de som. Ele nasceu da observação de que as pessoas ouvem músicas em momentos diferentes, com exigências diferentes — e, portanto, precisam de equipamentos diferentes pra isso. Então a ideia era oferecer um único equipamento que fosse apropriado para mais momentos.

Isso já era no final da faculdade e, nessa época, eu já estava decidindo o que fazer da vida. Tinha saído do meu estágio na área de estratégia de uma agência de publicidade para focar no projeto final, e minha ideia era abrir um escritório de design com dois amigos de faculdade. Mais ou menos nesse momento, meu projeto final estava exposto na semana design da faculdade e por isso fui contactado por uma pessoa, o Carlos Eduardo, que tinha uma empresa de relógios na encubadora da PUC e que queria abrir uma empresa de fones, por precisar conversar com alguém que entendesse da parte técnica do assunto. Ele queria abrir essa empresa não por conhecer ou gostar tanto do assunto, mas porque viu que era um mercado que estava crescendo muito.

Continua após a publicidade

Como minha ideia era justamente oferecer o serviço de design para outras empresas, disse ao Carlos que de repente seria um projeto interessante — poderíamos oferecer o desenvolvimento desse produto para a marca que ele iria criar. Mas, também nessa época, fui fazer um curso de empreendedorismo nos EUA, no MIT, e isso mudou completamente a minha cabeça. Vi que toda aquela metodologia do design thinking, que aprendi durante toda a faculdade, é extremamente próxima do empreendedorismo.

Então, quando voltei ao Brasil, sugeri que mudássemos o foco, porque acreditei que poderíamos sonhar com algo bem maior. Poderíamos fazer, nós 4, uma empresa de áudio para criar produtos diferenciados no mercado comoditizado e estagnado que é o de áudio no Brasil. Foi aí que surgiu a Kuba.

Isso foi no final de 2014. A partir daí, começou o árduo caminho que é criar uma empresa no Brasil — com grandes complicadores, afinal, desenvolver hardware, com tecnologia, focado em B2C, ainda com componentes importados, é uma insanidade. Foram 3 anos até conseguirmos investidores e termos o produto desenvolvido. No total, foram necessários R$ 300.000, nossos e de investidores externos, para ter um produto pronto e com apenas 500 unidades na rua. E foram quase 4 anos sem nenhum salário — pelo contrário, só colocando dinheiro na empresa. E não é como se agora ganhássemos bem — ganhamos muito pouco, e vai continuar assim por alguns anos. E essa é a parte fácil: depois, começa a operação da empresa, de venda, crescimento e todos os desafios que aparecem aí. Desenvolver é um grande desafio. Mas vender, manter e crescer é MUITO mais desafiador.

Continua após a publicidade

O mercado musical nacional é extremamente desafiador em inúmeros sentidos: tanto para quem faz, quanto para quem ouve boa música. Pensando no áudio que hoje o Kuba Disco entrega: quais foram os maiores desafios, do conceito às vendas? Tem loja física e online?

O maior desafio que enfrentamos é muitas vezes estarmos lidando com pessoas que não conhecem o mercado de fones, e que por isso têm uma percepção de valor totalmente irreal. Lidamos com um público que, em grande parte, não conhece o mercado de fones de ouvido. Não sabe que fones são itens de tecnologia, como smartphones e notebooks, e que por isso existem modelos simples e baratos, que oferecem o básico, mas existem também modelos mais caros e sofisticados, que trazem mais atributos.

Então são pessoas que têm smartphones de pelo menos R$1.000, notebooks de pelo menos R$ 2.000, ouvem música várias horas por dia, mas se assustam quando veem em um fone de R$ 700. Não conseguem entender em que categoria o Disco se posiciona, aí vão comparar com os JBLs e os Bluedios de R$ 150 e acham seu preço absurdo. Não têm a referência de um Audio-Technica M50X, de um Sennheiser Momentum ou de outros fones com os quais o Disco compete diretamente. Então, nosso comprador hoje é é público mais técnico, conhecedor, que entende que o Disco oferece a qualidade de som de fones de 2 ou 3x o seu preço - e ainda atributos que você não vai encontrar por aqui, como todas as peças substituíveis, a modularidade e suporte técnico fácil e descomplicado. Só que esse público, com conhecimento na área, é ínfimo.

Continua após a publicidade

Você considera a Kuba madura para expandir seu portfólio? Pode abrir alguns planos, inclusive de venda fora do Brasil, caso existam?

Sim, além do Disco, lançamos um fone TWS, o Mali, que está em pré-venda, e uma linha de monitores de palco profissionais, a Kuba PRO, em parceria com uma marca de São Paulo (a AudioDream), justamente para consolidar nossa posição como quem fabrica produtos de alto desempenho. Também temos fones "refurbished", para aqueles que desejam conhecer os produtos da Kuba por um preço menor. Para 2020 ou 2021, pretendemos lançar uma versão bluetooth do Disco e começar a vender para outros países.

Depois da empresa pronta, do produto à venda: ainda há muita dificuldade de se manter como marca no Brasil? Conte um pouco sobre isso do ponto de vista da startup.

Demais. Os desafios são frequentes e enormes. Operar no Brasil é dificílimo... o Custo-Brasil não é lenda. Temos vários exemplos.

Continua após a publicidade

Muita gente acha que produtos nacionais devem ser baratos, mas isso infelizmente não é bem assim — muitas vezes, é justamente o contrário. Pra vc ter uma ideia, na China conseguiríamos as peças plásticas usadas no Disco com maior qualidade, acabamento em metal, entregues aqui, com frete e impostos, e ainda pagando uma taxa por pedir uma quantidade 10x menor do que o pedido mínimo do fornecedor, por menos do que compramos as peças atuais aqui no Brasil. Não fazemos isso porque trazer de lá traz outros desafios, mas achar que se é nacional tem que ser barato é um enorme equívoco. É difícil encontrar fornecedores que fazem produtos de qualidade - e, quando encontramos, os preços não são nada baixos, justamente porque eles enfrentam os meios desafios que a gente. Operar aqui é difícil, arriscado e custoso. O Brasil é um ambiente extremamente hostil para empresas como a nossa.

E, quando você importa, os custos também são um acinte. Usamos 3 componentes importados no Disco: falantes, cabos e conectores. Não existe produção nacional desses componentes com a qualidade que precisamos. Ainda assim, num lote de falantes, pagamos R$ 20.000 pelo lote e R$ 23.000 em impostos e frete. O mesmo ocorre com os cabos: pagamos R$ 7.000 ao fornecedor pelos cabos, e aí R$ 7.900 em impostos para o governo e no frete. Pague dois, leve um. Fora a insegurança: já perdemos amostras porque um fiscal resolveu interpretar como uma encomenda com destinação comercial e já tomamos multa porque o fornecedor colocou o meu nome como destinarário, e não a razão social da empresa, por exemplo.

Também sabemos de vários casos em que, após anos de importação, um belo dia um fiscal resolveu considerar que um determinado componente não se enquadra na categoria declarada, e aí cobra uma multa gigantesca, fora todo o atraso e custo da burocracia envolvida em resolver o imbróglio.

Continua após a publicidade

E existem muitos outros desafios. Outro exemplo que posso dar é o do que acontece quando há uma compra fraudulenta. Quando alguém faz uma compra usando um cartão de crédito, é obrigado a colocar o endereço de cobrança, o billing address. Certo? Isso é para os bancos, em tese, conferirem esses dados informados (nome, CPF e endereço) e comparar aos que têm vinculados àquele cartão, para garantir que a compra é legítima e impedir que alguém faça uma compra online porque conseguiu, de alguma forma, os dados de um cartão. Só que essa checagem não é feita. Então, quando um cartão é clonado, por exemplo, e alguém mal-intencionado faz uma compra pela internet com esse cartão, o real portador do cartão vai avisar que o cartão foi clonado e contestar essa compra, afinal, não foi ele que a fez. O banco vai, então, pegar o dinheiro de volta da loja que vendeu o produto para devolver para o portador. E aí cabe à loja provar que foi o real portador do cartão que fez a compra (!).

Mas como vamos fazer isso, se quem faz a compra pode colocar qualquer coisa no endereço de cobrança e a única instituição que tem as informações reais do portador (o banco) não checa? Nesses casos, podemos fornecer todas as evidências possíveis (comprovante de pedido, IP do computador, comprovante de entrega dos Correios e o que for) que não adianta. Só após a contestação é que o banco informa qual o nome do portador atrelado àquele cartão e, de alguma forma, é responsabilidade da loja garantir e comprovar que a compra foi feita pelo portador do cartão. Como isso é possível? A única forma de fazer isso seria se pedíssemos, em todas as compras, uma foto da parte da frente do cartão junto à identidade do portador. Não preciso dizer que isso é operacionalmente impossível. Então, nesses casos, perdemos o dinheiro, uma taxa de representação ao processador de pagamentos, e o fone. Já fomos vítimas disso algumas vezes.

Enfim... falei muito, mas são realmente muitos desafios. E esses são apenas alguns dos burocráticos — poderia falar do que acontece quando a empresa é obrigada a sair do SIMPLES e a passar para o Lucro Presumido (muitas precisam ficar abrindo outras empresas pra burlar o teto de faturamento e não quebrar), das leis trabalhistas que trazem tanta insegurança ao empresário quanto (ou ainda mais) que as fiscais, por mais certo que você faça as coisas, da insegurança cambial (o que acontece se o dólar continuar subindo?)... fora outras questões.

Continua após a publicidade

Quando vou conseguir retornar o investimento dos nossos investidores? E se o único fornecedor do arco de madeira que encontramos resolver parar de trabalhar? E se as pessoas pararem de repente de comprar o nosso fone? E se, em algum momento, surgir do dia para a noite alguma nova lei que dificulta ou impossibilita o meu negócio, como ocorreu quando surgiu a nova lei do ICMS em 2016, e 4 empresas estavam fechando por minuto no Brasil?

É esse peso nos ombros, todo dia.

Na estrada 

Continua após a publicidade

Quando nasceu, no final de 2014, a Kuba mostrava-se "peituda" o suficiente para atrair olhares de investidores, especialistas, jornalistas e entusiastas. A jovem empresa recebeu aporte de um grupo que conta com Camila Farani, uma das principais investidoras anjo do Brasil, Luiz Quinderé, jovem empreendedor e criador do Brownie do Luiz, e Carlos Júnior, do Gávea Angels e gestor da aceleradora Sai do Papel – pela qual a empresa é acelerada atualmente.

A Kuba ainda participou do reality show Shark Tank, por onde fechou um investimento com João Appolinário, CEO de um dos maiores grupos de varejo do país.

Portfólio de produtos

A companhia começou sua jornada com apenas um modelo de fone de ouvido, o Kuba Disco, que testamos aqui no Canaltech em 2018. Desde a concepção do Disco até o presente momento, a empresa fez parcerias com marcas importantes do segmento de áudio Brasileiro e lançou um novo modelo, dessa vez sem fios.

Continua após a publicidade

Atualmente, o catálogo da Kuba conta com os seguintes fones de ouvido:

  • Kuba Disco — um fone cabeado, over-ear e que vem em duas cores;
  • Kuba Mali — totalmente sem fios, um TWS compacto e Bluetooth;
  • Kuba PRO — linha com cinco fones profissionais, voltados a músicos e produtores: Rio, Nashville, Vienna, Memphis e Orleans
  • Kuba Ciclo — fones recondicionados e B-Stock (depende de estoque)
  • Acessórios — cabos, almofadas, cases de transporte, conchas, arcos e sacolas para o Kuba Disco

Isso mostra que a empresa amadureceu o bastante para sair de um nicho e desbravar outro, com parcerias. O Disco, que nasceu como um modelo com preço mais acessível para quem tem ouvidos exigentes e faz da música um hobby, evoluiu e ganhou uma nova versão. Depois dela, veio um modelo completamente sem fios, para quem busca mobilidade e quer se conectar ao celular. E, para quem trabalha produzindo, tocando e leva a vida nos palcos e estúdios, a Kuba Áudio criou sua linha PRO.

A empresa tem site com e-commerce e também usa plataformas externas, como a Amazon, e trabalha com frete grátis e devolução em até 30 dias. As peças do Disco são, aliás, intercambiáveis, isto é, o usuário pode trocá-las quando perceber que estão frouxas ou simplesmente quando quiser fazer o upgrade para um material melhor. O fone é todo desmontável, e o Canaltech já fez a análise do primeiro Kuba Disco em 2018.

Nós recebemos duas amostras dos novos fones da Kuba que, em breve, você poderá checar como parte dois deste especial. Fique ligado!

Para conhecer melhor a Kuba Áudio, sua história e seu catálogo de produtos, acesse o site oficial da empresa.