Como as redes sociais podem ajudar na saúde mental das pessoas?
Por Andressa Neves | 22 de Abril de 2016 às 11h10
Diversas pesquisas têm tratado das influências do uso excessivo da internet na saúde mental das pessoas, mas o tema da rede de apoio que pode ser formada na internet entre os que sofrem de transtornos mentais ainda é pouco explorado, e esse será o assunto pelo qual caminharemos.
Cientistas falam constantemente que o uso das redes sociais pode estar ligado a sintomas de depressão, ansiedade e baixa autoestima, mas ainda não foi possível compreender se a imersão na internet é causa ou consequência dos sintomas. Por outro lado, pode-se perceber a existência de centenas de comunidades no Facebook e canais no YouTube criados para ser um espaço de apoio para quem passa por essas dificuldades, o que mostra que há dois lados na mesma moeda.
Infelizmente, ainda hoje a questão da saúde mental é tabu na sociedade. Mesmo com pesquisas e conhecimentos sendo amplamente divulgados, as pessoas ainda tendem a lidar de forma negativa com isso: muitas vezes quem sofre de doenças como depressão e síndrome do pânico são consideradas "loucas", e outros tantos tratam o problema como se fosse "frescura".
O fato é que, diante desses julgamentos e preconceitos - que frequentemente vêm de amigos e familiares -, os sujeitos que estão em sofrimento acabam por ficar sem uma rede de apoio, o que influencia diretamente não só na recuperação da qualidade de vida, mas também na piora dos sintomas.
Com o avanço da tecnologia e a ampla difusão das redes sociais, diversas pessoas têm utilizado o ambiente da internet como fonte de apoio e aprendizado sobre seu próprio sofrimento psíquico. Muitos dos que sofrem com a síndrome do pânico e a depressão, por exemplo, deixam de sair de casa, gerando um completo afastamento social, que pode se tornar mais uma fonte de angústia. Dessa forma, comunidades no Facebook, blogs e canais no YouTube têm auxiliado no processo de aceitação e melhora da doença.
A internet como ambiente de acolhimento
Para entender de que forma essas plataformas têm contribuído para o alívio do sofrimento, conversamos com Vanessa Freitas, que lida com a síndrome do pânico há mais de 10 anos e que recentemente criou um canal no YouTube para falar sobre a doença.
Os principais objetivos da youtuber são a conscientização dos indivíduos sobre a existência dos transtornos psicológicos e a luta para que os preconceitos deixem de existir. "Eu senti a necessidade de levantar uma bandeira com relação ao melhor esclarecimento sobre as doenças, porque, por experiência própria, a gente sofre muito preconceito".
Visando essa conquista, Vanessa discute no canal a importância do tratamento e a necessidade de respeitar quem está passando pelo problema. Além disso, o canal busca servir como um ambiente de desmistificação para as próprias pessoas que sofrem de doenças e que não têm com quem contar. Naturalizar os transtornos faz com que os usuários da rede possam se sentir enquanto pertencentes a um grupo, mesmo que virtualmente, afinal uma rede fortalecida auxilia o indivíduo no enfrentamento das situações mais adversas.
Vanessa diz que uma das razões do canal é mostrar para seus seguidores que eles não estão sozinhos. "Eu acho que o canal foi uma ponte bem importante para que outras pessoas conseguissem inclusive se abrir para o próprio entendimento, e para mim essa é a coisa mais gratificante". Depois da criação do espaço no site, muitos conhecidos da youtuber também resolveram sair do silêncio para construir um ambiente de apoio mútuo e de compartilhamento de experiências.
Os suportes sociais recebidos e percebidos por quem sofre dessas doenças são fundamentais para a promoção da saúde mental. Sobre o assunto, a especialista afirma que "a tecnologia favoreceu muito um apoio que às vezes as pessoas não têm, e esse tipo de tecnologia consegue atuar de uma forma bastante eficiente nesses casos".
As relações que se formam por meio dessas ferramentas são bastante íntimas, pois não é raro que os usuários contem as suas maiores angústias dentro de comunidades online como tentativa de enfrentar as dificuldades do dia a dia e como forma de receber a força necessária para lutar contra o sofrimento. Saber que existem outros que passam por situações semelhantes gera a identificação empática, gerando laços que ultrapassam o ambiente virtual.
É evidente que todas essas possibilidades são capazes de fazer a diferença na vida de quem enfrenta os medos e consegue formar essas redes, mas é imprescindível ressaltar, por fim, que muitas vezes a recuperação não é possível de ser conseguida solitariamente ou com grupos de apoio. Para a maioria dos casos é necessária a intervenção profissional de psicólogos e psiquiatras, que estão preparados para lidar com os casos. A depressão e a síndrome do pânico são doenças que merecem atenção e tratamento especializado.