CEO do Google Brasil comenta necessidade de se focar nos nativos digitais
Por Stephanie Hering | 05 de Junho de 2014 às 22h36
O presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, esteve presente no segundo dia do Ciab 2014, realizado em São Paulo. Em sua palestra "Transformação de negócios com o consumidor hiperconectado", Fábio recomendou que as empresas pensem primeiro no "básico" para depois lançar soluções revolucionárias. "Antes de pensar lá na frente - e todos temos o direito de pensar lá na frente -, construa o básico bem feito, porque é isso que ganha o jogo", afirmou.
Segundo o executivo, grandes capitais como São Paulo têm boa conectividade, porém, outros estados ainda sofrem para democratizar o acesso para pequenas e médias empresas estarem conectadas. Isso, levando em conta um diferente conceito de "conectado". "Conectar não é ter só um website, uma página no Facebook, no Google+ e estar presente no Twitter. É muito mais que isso", afirma.
Coelho explicou que as companhias que analisam e entendem as buscas e desejos do consumidor têm um trunfo nas mãos. "Isso se transforma em diferencial competitivo. E é um trabalho não só para que as empresas sejam mais eficientes e consigam ganhar mais dinheiro, mas também porque no bojo dessa mudança, essas empresas conseguem ficar mais fortes. E algum dia, talvez, alguma delas chegue até mesmo a exportar", opinou.
O CEO do Google Brasil também destacou a importância de estruturar plataformas pensadas para os chamados "nativos digitais", isto é, aqueles que começaram o contato com a internet desde o começo da vida. Dentre as dicas dadas pelo empresário está não sobrecarregar aplicativos e sites mobile com muitas informações, o que, por sua vez, estimula uma visita para a versão web, com mais detalhes.
Para Fábio, "nativos digitais" merecem atenção especial (Foto: Stephanie Hering/Canaltech)
Coelho ainda explicou que esses mesmos nativos (ou geração "C", de conectada), são agora apoderados, isto é, não se limitam mais a acessar conteúdos, mas também querem criá-lo e curá-lo na internet. Com isso, as redes sociais permitem o surgimento de novas mídias que terão relacionamento bidirecional, isto é, 24 horas conectado com o usuário. A exemplo dessas mídias, Fábio citou nomes como Porta dos Fundos, Galo Frito, Parafernalha e Fora do Eixo.
Assim, Coelho afirma que as marcas que souberem seguir a mesma lógica destas novas mídias vão conseguir construir uma relação de lealdade com seus clientes, já que muitos usuários defendem com "unhas e dentes" certas pessoas e conteúdos. Outro ponto positivo é o fim do conteúdo perecível, pois, de acordo com o presidente do Google Brasil, "um vídeo legal de um canal leva a outros".
O setor financeiro na revolução tecnológica
Fábio acredita que o setor financeiro já vive um "caminho sem volta" na revolução tecnológica. De acordo com dados da Febraban de dezembro de 2013 divulgado na palestra, 51% das operações bancárias são feitas via mobile e internet banking.
Além disso, outro advento importante que mostra a mudança dos clientes bancários é o fim de duas identidades diferentes. "Antigamente havia o usuário desconectado que passou a estar conectado tendo duas identidades. A pessoa tinha uma identidade física e uma digital. Curiosamente, essas identidades hoje se juntaram. Não existe mais avatar e a pessoa está 'always on', isto é, sempre conectada", defende Fábio.
Ninguém está imune
Outra teoria explicada na palestra foi a de que nenhum setor está imune à reinvenção de processos. "A transformação que ocorreu com o e-commerce e a mídia vai revolucionar todos os setores", disse.
Como exemplo, Coelho citou o fim das enciclopédias Barsa, antes referência em pesquisa, e da Blockbuster. Atualmente, as duas foram substituídas por nomes como Wikipédia e Netflix, respectivamente. E ele acredita que caixas registradoras também seguem a mesma premissa com o advento das carteiras digitais.
Outro tipo de reinvenção de processos está não na modernização, mas na criação de alternativas que seguem o conceito de "asset light": cortar tempo, espaço ou dinheiro. Segundo o executivo, apps como Waze, WhatsApp e 99Taxis têm custo marginal de distribuição zero e tornam tarefas do dia a dia mais simples. "Pegar um táxi ficou mais fácil, mais rápido e, quando todos os usuários aderirem, provavelmente será mais barato", opinou.
Puxando o gancho de tais aplicativos, Fábio afirmou que o empreendedor digital brasileiro é "super criativo" e que nada nos impede de num futuro, termos um Vale do Silício brasileiro. "Quando perguntamos 'vocês estão prontos' [para as revoluções tecnológicas], muitas empresas respondem com 'não, não estou pronto'. Ninguém está pronto, mas é preciso dar o primeiro passo e, quem sabe, ser o protagonista", disse.
Chromecast
O executivo também aproveitou a apresentação para comentar sobre o lançamento do Chromecast no Brasil, que ocorreu em evento em São Paulo, na última terça-feira (2). "Estamos muito felizes de ter lançado aqui no Brasil um produto muito legal", afirmou.
"[O Chromecast] é mais uma oportunidade de empoderamento do usuário através de um device inteligente que transforma qualquer televisão em uma televisão conectada com o seu celular", completou.
"O Google não vai ser um banco"
Questionado por Luiz Carlos Brandão Cavalcantti Junior, mediador da palestra e diretor departamental do Bradesco, Coelho disse que o Google não tem interesse em entrar no setor bancário. "O Google não vai ser banco, nem tem cartão de crédito e autorização do Banco Central".
Fábio e Luiz durante a palestra (Foto: Stephanie Hering/Canaltech)
Fábio afirmou que a companhia será apenas parceira de instituições financeiras, provavelmente por meio do Google Wallet. "O Google vai ser um parceiro dos bancos para que transações ocorram da melhor forma possível", concluiu.