Temporada de ipês | Floração de cada cor depende do mês e clima; veja calendário
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

De abril a outubro, o espetáculo colorido dos ipês transforma a paisagem urbana em diversas regiões do Brasil. Roxo, amarelo, branco e rosa, cada tonalidade tem seu tempo e duração específicos. No entanto, o que antes parecia seguir um calendário previsível, hoje revela sinais de alteração. A floração dos ipês tem sido afetada por variações no clima, como períodos de estiagem ou de calor fora de época, tornando mais difícil prever quando e como as flores vão surgir.
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A falta de chuvas (tão comum nos invernos secos do Centro-Sul) é um dos fatores determinantes para antecipar o florescimento dos ipês. O fenômeno está diretamente ligado ao estresse fisiológico das plantas, como explica em entrevista ao Canaltech a engenheira florestal e doutora em agronomia Mariana Grassi Noya, coordenadora da Pós-Graduação em Agricultura Urbana e Sustentabilidade Alimentar da PUCPR.
“A escassez de chuvas provoca estresse fisiológico nas plantas, como o déficit hídrico, e impacta diretamente na antecipação da floração dos ipês. Diante dessas condições adversas, a planta ‘entende’ que precisa florescer intensamente e dispersar o máximo de sementes, como forma de garantir a perpetuação da espécie frente a uma possível queda no metabolismo", diz a especialista.
Além da estiagem, as temperaturas elevadas também entram nessa equação como agravantes do estresse, podendo alterar o ritmo da floração e até encurtar sua duração.
As estações estão diferentes, e os ipês sentem isso
Outro fator que tem transformado o comportamento dos ipês é o aumento da instabilidade climática. Espécies vegetais seguem ritmos internos regidos por luz e temperatura, e variações nesses elementos causam desequilíbrios perceptíveis.
“As mudanças climáticas têm grande impacto sobre as plantas, que são reguladas por ritmos circadianos. Alterações na duração do fotoperíodo — a quantidade de luz recebida ao longo do dia — afetam diretamente os processos fisiológicos, desestabilizando os ciclos naturais dessas espécies”, afirma Mariana.
Dessa forma, floradas podem se adiantar, se estender mais do que o habitual ou até mesmo ocorrer fora da estação esperada.
Cores e espécies: a ordem das floradas
Embora o senso comum aponte uma sequência cromática (roxo, amarelo, branco e rosa), a ordem da floração está mais ligada às particularidades de cada espécie do que a uma regra rígida. “A cor da floração depende da espécie, sua genética e características morfológicas”, explica Mariana.
O ipê-roxo, por exemplo, costuma ser o primeiro a florescer, geralmente entre abril e junho. Já o amarelo, tradicionalmente mais comum em setembro, tem sido visto florescendo já em agosto ou até antes, dependendo da região e do clima local.
A beleza das copas floridas, no entanto, é passageira. Mesmo em condições ideais, a florada de um ipê não costuma ultrapassar um mês, e em anos de clima mais severo, esse tempo pode ser ainda menor.
“A duração da floração varia conforme a espécie e as condições ambientais, mas, em geral, pode se estender por até um mês, desde que não haja ocorrência de secas severas. Nessas situações extremas, o florescimento tende a ser mais efêmero, durando cerca de 15 dias ou menos", complementa a engenheira florestal.
Em geral, o calendário das cores dos ipês no Brasil acontece da seguinte forma:
- Ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus): de abril a junho, podendo se estender até julho em alguns anos;
- Ipê-branco (Handroanthus roseoalbus): floradas esporádicas entre abril e outubro, com possibilidade de várias ocorrências no mesmo ano;
- Ipê-amarelo (Handroanthus albus): entre agosto e outubro, com registros já a partir de julho em períodos mais quentes;
- Ipê-rosa (Handroanthus pentaphyllus): de setembro ao fim de outubro, sendo normalmente o último a florir.
Por que as flores vêm antes das folhas?
Uma característica marcante dos ipês é que muitos deles florescem quando estão sem folhas, o que aumenta ainda mais o impacto visual. Esse comportamento não é estético, mas estratégico. “A perda das folhas é natural em algumas espécies, chamadas de caducifólias, que se preparam para concentrar energia na floração, uma fase especialmente exigente para as plantas”, conclui Mariana. Outras espécies, no entanto, mantêm suas folhas por mais tempo, realizando fotossíntese até acumular reservas suficientes para sustentar a produção de flores.
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