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Tecnologia em satélite permite encontrar "mares leitosos" que brilham no escuro

Por| Editado por Patricia Gnipper | 06 de Setembro de 2021 às 17h40

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Steven D. Miller/NOAA
Steven D. Miller/NOAA

Há séculos, marinheiros relatam encontros com manchas brilhantes pela superfície do oceano. Hoje, tal fenômeno é conhecido como mar leitoso, formado por uma população gigante de bactérias que e se estende por vários quilômetros. Por conta de sua natureza remota e evasiva, os mares leitosos são bem difíceis de serem estudados, mas uma pesquisa conduzida pela Colorado State University usa satélites para localizar estes fenômenos pelo mundo.

O professor de ciência atmosférica, Steven D. Miller, é especializado em satélites usados para o estudo da Terra e explicou que, por meio de satélites de última geração, ele e sua equipe desenvolveram uma nova maneira de encontrar os mares leitosos. Com a técnica, eles esperam aprender mais sobre essas águas brilhantes ao conduzir mais pesquisas até elas.

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Ao contrário dos organismos bioluminescentes que brilham quando perturbados, as bactérias dos mares leitosos brilham continuamente. Até agora, apenas um navio de pesquisa conseguiu coletar uma cepa da espécie luminosa chamada Vibrio harveyi, a qual coloniza as algas próximas à superfície. Quando sua população fica grande — algo entre 100 milhões de células individuais por mililitro de água —, uma espécie de interruptor biológico interno é acionado e, então, todas começam a brilhar.

Os pesquisadores acreditam que a função deste brilho seja atrair peixes que comam as algas nas quais as bactérias estão alojadas. Quando a população fica tão grande a ponto de não haver alimento suficiente, é no estômago dos peixes que esses organismos encontram uma segunda fonte de comida. Miller disse que basta alguém entrar em um armário refrigerado com peixes, desligar a luz e então notar que alguns deles brilham em um tom azul esverdeado — brilho esse produzido pelas bactérias.

Os biólogos conhecem muito bem essa bactéria, mas o que provoca essa exibição em grande escala ainda é um mistério — em grande parte, pela falta de acesso a essas populações. Até então, Miller acreditava que o fenômeno ocorresse em todo o mundo e o tempo todo, mas os relatórios mais recentes de superfície apontam apenas dois ou três mares leitosos por ano. Por isto, é necessário saber como chegar até eles — e é aqui que o estudo de Miller entra em cena.

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Os satélites são ótimas ferramentas para observar a superfície da Terra, mas, para detectar uma mancha 100 milhões de vezes mais fraca do que a luz do dia, é necessário um equipamento específico. Graças ao sensor Day/Night Band do satélite VIIRS, operado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) dos EUA, Miller e seus colegas conseguiram visualizar uma forma brilhosa próxima à costa da Somália em 2018. Ao comparar com registros anteriores, eles confirmaram que se tratava de um mar leitoso e, agora, eles sabiam como encontrá-los.

Em 2019, uma nova mancha foi observada ao sul de Java, ilha da Indonésia. “Eu estava olhando para um enorme redemoinho de oceano brilhante que media mais de 100.000 km quadrados — aproximadamente o tamanho de Kentucky” explicou Miller. Para ele, talvez a revelação mais prática seja o tempo que um mar leitoso pode durar. Alguns duram dias, mas o observado em Java durou mais de um mês. “Isso permitiria aos cientistas medi-los de forma a revelar sua composição completa”, acrescentou o professor.

Fonte: Space.com