Publicidade

Sensação térmica de 70 ºC nos próximos dias? "Difícil", diz especialista

Por  | 

Compartilhe:
Hans Reniers/Unsplash
Hans Reniers/Unsplash

Na última terça-feira (11), uma projeção feita com base em um gráfico do Núcleo de Climatologia Aplicada da USP indicou uma suposta sensação térmica de 70 ºC em algumas regiões do Brasil nos próximos dias. De fato, estados do Sudeste e do Nordeste devem enfrentar altas temperaturas nesta semana, mas quanto à sensação térmica, o caso envolve um cálculo complexo.

Essa estimativa de sensação térmica chegou nas redes sociais e gerou divergência de opiniões de especialistas da área. De acordo com o pesquisador Bruno Brezenski, a projeção seria fruto de uma confusão de interpretação do gráfico divulgado pela USP.

"A confusão que estão fazendo é não levar em consideração que a sensação térmica para chegar a 70 ºC precisa coincidir ao mesmo tempo a temperatura alta com a umidade alta", disse o divulgador científico em seu perfil do X.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Para entender definitivamente o que acontece com essa questão da sensação térmica e se realmente pode chegar a 70ºC nos próximos dias, conversamos com o colunista do Canaltech, Willians Bini — consultor sênior de Clima e Mudanças Climáticas.

Vai ter sensação térmica de 70ºC?

"A questão de fazer 35, 40, 42 ºC acontece, ainda mais no verão, mas a umidade passar de 80% quando se tem essas temperaturas, é muito, muito difícil. Quando se fala de sensação de 70ºC, é porque se está prevendo que a umidade também vai estar alta, e não tenho uma previsão de umidade alta coincidindo com pico de temperatura", opina o especialista.

"Eu acredito na previsão de temperatura (40 ºC, 42 ºC), mas umidade acima de 80% é muito difícil de acontecer ao mesmo tempo", reforça.

Cálculo de sensação térmica

Segundo o especialista, a sensação térmica pode ser calculada de duas formas: essa, que considera apenas a temperatura e a umidade relativa do ar, e basicamente quanto mais úmido, mais desconforto térmico por conta da elevação das temperaturas.

"Sempre uma umidade mais alta provoca uma sensação térmica maior. Por isso que próximo a regiões litorâneas sentimos mais calor, porque tem mais umidade por conta do oceano. É uma questão que essa tabela justifica", comenta.

Continua após a publicidade

O grande ponto, segundo Bini, é a umidade relativa. "O ciclo diurno de temperatura e umidade são mais ou menos inversos, então durante o dia a temperatura aumenta, tem o pico de temperatura e depois cai. A umidade é o contrário: durante o dia, a umidade cai, atinge o mínimo mais ou menos ao mesmo tempo em que a temperatura atinge o pico máximo e depois ela volta a subir", explica.

Então para que eu tenha uma sensação térmica bem alta justamente no momento em que a temperatura está alta, é necessário que haja uma entrada de umidade. "Para isso, é preciso estar próximo do litoral ou, de repente, ter a aproximação de uma área de estabilidade se formando, que então a umidade aumenta".

O especialista explica que, em condições normais, quando a temperatura está muito alta, a umidade não sobe muito, por isso a sensação térmica aumenta mas nem sempre 'explode' em algumas situações. "Possivelmente as previsões estão mostrando, além das temperaturas altas, uma umidade relativa também alta. Então precisa dessa combinação", explica.

Continua após a publicidade

Outro cálculo: wind chill

Porém, existe um outro tipo de cálculo de sensação térmica chamado wind chill, que considera o vento.

"Então se eu tiver com uma condição mais estabilidade, sem vento (porque o vento ameniza um pouco a questão da sensação de calor), é uma outra forma de se calcular. Outros pesquisadores têm trabalhado em índices de sensação térmica um pouco mais complexos, em que entra umidade e vento para tentar chegar a uma coisa um pouco mais real, porque imagina que pode haver temperatura alta, umidade alta, mas e se estiver ventando? A temperatura térmica não subiria tanto", conclui.

Então o consultor explica que o cálculo é empírico. Ou seja: não há um termômetro físico para medir a sensação térmica. Ela é calculada, não é medida.

Continua após a publicidade

Leia também:

VÍDEO | COMO ESTARÁ SUA CIDADE DAQUI A 60 ANOS?