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Ilha das Cobras: conheça a ilha brasileira dominada por serpentes

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Renato Rodrigues/Comunicação Butantan
Renato Rodrigues/Comunicação Butantan

A Ilha da Queimada Grande, mais conhecida como Ilha das Cobras, é densamente habitada por serpentes da espécie jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), com veneno. Em menor quantidade, vive uma pequena população de dormideiras (Dipsas albifrons). Além dos répteis, o local de acesso restrito conta com um farol marítimo, instalado no final do século 19, operado de forma remota.  

Os visitantes mais comuns da região inabitada no litoral de São Paulo são os pesquisadores, como os membros do Instituto Butantan, que realizam estudos científicos na Ilha das Cobras. Ao longo dos mais de 100 anos de pesquisa, eles já determinaram como as espécies locais se diferenciam da jararaca-comum (Bothrops jararaca), que vive no continente, e descobriram quais genes estão associados à produção do perigoso veneno.

Se você está curioso em saber onde fica a Ilha das Cobras exatamente, saiba que a ilha está localizada entre as cidades de Itanhaém e de Peruíbe, no estado de São Paulo. A região está a cerca de 35 km do litoral, o que faz com que uma viagem de barco até o local voltado para pesquisas dure mais de três horas.   

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Ilha com mais cobras do mundo?

A estimativa é de que a ilha seja habitada por 2 a 3 mil serpentes, o que explica a origem do nome Ilha das Cobras. "A densidade populacional é de 55 cobras por hectare", explica Otávio Marques, pesquisador do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan, para o Canaltech. Para dimensionar, um hectare equivale a um campo de futebol, habitado por 55 jararacas, o que é um número bastante expressivo e perigoso.  

Apesar da ocupação elevada, é mentira afirmar que esta ilha é a mais densamente habitada por cobras venenosas no mundo, como informa Marques. Até onde se sabe, a primeira posição neste ranking pertence à Ilha de Shedao, na China. Por lá, a densidade média é de 200 cobras por hectare, com cerca de 15 mil cobras vivendo no local. A densidade é quase quatro vezes maior que a da ilha no litoral de São Paulo, que fica com a segunda posição.

Curiosidade: o nome de Queimada Grande está ligado às tentativas de antigos visitantes, como os pescadores da região, de atearem fogo na vegetação para afugentar as jararacas que vivem no local, o que facilitaria o desembarque no local. Entretanto, a estratégia não é eficaz por causa da ocupação intensa.

Quem pode visitar a Ilha das Cobras?

Como adiantamos, o acesso à Ilha das Cobras é controlado. No caso dos pesquisadores e técnicos, é preciso ter autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Outra via de acesso é pela Marinha, concedida para membros que vão realizar a manutenção do farol (quando necessário).

Todas essas medidas são importantes devido aos riscos existentes para quem chega ao local. Diferente da maioria das jararacas, a jararaca-ilhoa usa a vegetação para se mover e, assim, pode picar muito mais do que as partes inferiores, como as pernas, de um indivíduo.  

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Outro risco é a distância da Ilha da Queimada Grande do continente, que é de três a quatro horas. Idealmente, o atendimento em caso de picada de serpentes deve ser feito nas primeiras três horas, o que aumenta a efetividade do tratamento com o soro antiofídico. Então, o risco de um acidente no local ter um desfecho indesejado aumenta consideravelmente. Por isso, é proibido entrar na área de Mata Atlântica.

Jararaca-ilhoa na Ilha da Queimada Grande

A coloração da jararaca-ilhoa é um das suas principais características de distinção, por ser bem amarelada. "Quem bate o olho, já consegue diferenciar pela coloração [em relação à jararaca-comum], mesmo que existam outras diferenças", comenta o pesquisador Marques. Outro ponto é que a extremidade da cauda é preta.

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Como se movimenta melhor pela vegetação, o corpo é mais esguio e mais leve. A pele é bastante flexível e mais elástica. Além disso, a cauda tem uma capacidade melhorada de se "agarrar" com facilidade nas árvores e cipós, facilitando os movimentos. A cabeça é maior, enquanto que os dentes são menores.

A jararaca-ilhoa se alimenta quase exclusivamente de aves, além de poucos anfíbios e lagartos, quando são encontrados. Em contrapartida, as aves quase não entram na dieta das jararacas do continente. Entretanto, esta não deve ser considerada como uma determinação genética, que poderia ter surgido a partir do isolamento da espécie que começou há mais de 10 mil anos na Ilha das Cobras. A diferença ecológica surgiu apenas pela diferença na oferta de "comida" nos locais habitados pelas diferentes jararacas.

Vale observar que a jararaca-ilhoa é o único predador de topo em Queimada Grande, o que explica a supremacia das cobras venenosas por lá. Os gaviões e outros predadores têm ação quase inexistente no local, como demonstraram experimentos de simulação do Butantan. O número total não explode devido à própria competição por recursos entre as serpentes.

Outra espécie local é a cobra dormideira, que é uma espécie menor, não é venenosa e se alimenta exclusivamente de lesmas que vivem na ilha. A densidade no local é bem mais baixa, sendo até raro encontrá-las em Queimada Grande, o que não ocorre quando se busca localizar a jararaca-ilhoa.

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Fotos da jararaca-ilhoa em seu habitat natural

A seguir, veja galeria de fotos da jararaca-ilhoa em seu habitat natural, a Ilha das Cobras:

Ações de pesquisa do Butantan

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O Butantan realiza pesquisas na Ilha das Cobras desde o ano de 1921, quando a espécie jararaca-ilhoa foi descrita pela primeira vez. A descrição foi feita pelo cientista e herpetólogo do instituto, Afrânio do Amaral. Na década de 1950, os cientistas identificaram a presença de espécimes machos, fêmeas e intersexos. Em 1990, foi possível aprender melhor sobre o ciclo reprodutivo e a alimentação, por exemplo.

"No Butantan, temos um laboratório para manter uma população [de jararaca-ilhoa] fora da ilha", conta o pesquisador Marques. "Caso a espécie seja extinta [da área de proteção ambiental] ou se a população declinar muito [no habitat natural], teremos condições de reintroduzir esses indivíduos na ilha da Queimada Grande", completa. 

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