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YouTube vincula anúncios em vídeos controversos sobre mudanças climáticas

Por| 16 de Janeiro de 2020 às 12h00

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YouTube vincula anúncios em vídeos controversos sobre mudanças climáticas
YouTube vincula anúncios em vídeos controversos sobre mudanças climáticas
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Uma notícia deixou algumas empresas anunciantes do YouTube surpresas. Segundo estudo feito pela Avaaz, a plataforma de vídeos da Google tem vinculado anúncios de grandes companhias em vídeos que têm como propósito desinformar as pessoas sobre mudanças climáticas. Os vídeos identificados tiveram 21,1 milhões de visualizações e podem ser sugeridos aos usuários após uma pesquisa por "mudança climática", "aquecimento global", "teoria da conspiração" ou "manipulação climática".

De acordo com o pessoal do The Verge, o estudo encontrou anúncios de 108 marcas em vídeos que continham informações incorretas sobre mudanças climáticas. Empresas como Samsung, Uber, Nintendo, Showtime, Harley Davidson e Warner Bros estavam entre elas. Anúncios para grupos ambientais, incluindo o Greenpeace e o World Wildlife Fund, também apareceram nos vídeos. A Avaaz diz que 10 anunciantes, incluindo a Samsung e os grupos ambientalistas, disseram desconhecer o fato de que seus anúncios apareciam nesses vídeos.

O estudo também afirma que a plataforma promove esses vídeos na caixa "a seguir", mas as evidências são menos claras. Em um comunicado enviado ao The Verge, o YouTube questionou a metodologia da pesquisa, que usava um método indireto para avaliar as recomendações em vídeo, e disse que sua plataforma prioriza "vozes com autoridade" em tópicos propensos a desinformação, como as mudanças climáticas.

Ainda não há forma clara de combate a esse problema

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O YouTube luta há algum tempo para encontrar um equilíbrio entre manter uma plataforma aberta e mantê-la segura para espectadores e anunciantes. No passado, as empresas interromperam os gastos com anúncios depois de saberem que seus comerciais eram exibidos em vídeos que apresentavam discursos de ódio ou comentários agressivos e de cunho sexual sobre crianças. Isso levou a plataforma a impor regras mais estritas aos criadores, limitando em quais vídeos eles podem ganhar dinheiro e alterando seus algoritmos de promoção.

O estudo da Avaaz mostra o quão difícil é encontrar esse equilíbrio. Três dos principais vídeos de negação de mudanças climáticas destacados são da Fox News e PragerU. Vários vídeos questionam se as emissões de gases de efeito estufa estão levando a temperaturas globais mais altas - uma conclusão amplamente aceita entre os pesquisadores do clima e a comunidade científica em geral.

E não são apenas vídeos de YoutTubers e de canais de TV que estão recebendo essas propagandas. Materiais feitos por políticos também são anexados à propagandas das empresas citadas acima, mesmo que o assunto não tenha nada a ver com elas.

Ao destacar os anunciantes que estão sendo alinhados, a contragosto, a esses pontos de vista extremistas, a Avaaz espera aumentar a pressão necessária no YouTube para fazer uma alteração. O objetivo da entidade com este último estudo não é proibir vídeos de negação de mudanças climáticas, mas fazer com que o YouTube pare de exibir anúncios e recomendá-los aos espectadores.

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"Não se trata de remover conteúdo, não se trata de sancionar diferentes canais ou meios de comunicação", diz Nell Greenberg, diretor de campanha da Avaaz que supervisionou o estudo. "Isso significa apenas que, se houver informações factualmente imprecisas no vídeo, o YouTube não deve oferecer publicidade gratuita".

No momento, os anunciantes têm a opção de impedir que seus anúncios sejam exibidos em vídeos que discutem mudanças climáticas. Mas eles não têm a opção de aparecerem apenas em vídeos precisos sobre mudanças climáticas - é tudo ou nada. “Muitas marcas querem seus anúncios em vídeos de mudanças climáticas. São organizações ambientais ou que fazem muito pela sustentabilidade”, diz Greenberg. "Eles não querem anúncios em exibição em vídeos com informações imprecisas e que não estão disponíveis para eles".

Como ocorrem as sugestões de vídeos?

A Avaaz pôde confirmar diretamente que os anúncios estavam sendo exibidos em vídeos que apresentavam informações erradas sobre as mudanças climáticas simplesmente assistindo a eles. No entanto, sua evidência de que o YouTube promove esses vídeos por meio do recurso "a seguir" não é tão certeira.

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A entidade fez uso de uma ferramenta de desenvolvedor do YouTube que apresenta quais vídeos podem estar relacionados a outros. A lista, porém, "não fornece uma réplica exata do algoritmo de sugestões do YouTube", diz o estudo. O YouTube diz que a ferramenta pode ser influenciada, por exemplo, por um site que incorpora vários vídeos lado a lado. A Avaaz acredita que os dados, "muito provavelmente", representam muito do que as sugestões do YouTube apresentariam aos espectadores, mas não confirmaram a exibição de nenhum desses vídeos.

O estudo da Avaaz analisou o que considera provável nas primeiras 100 recomendações "a seguir" para vídeos relacionados a cada um dos três termos de pesquisa. Em seguida, as pessoas assistiram a esses vídeos para procurar informações erradas - um termo usado para significar amplamente quaisquer declarações "verificadamente falsas ou enganosas". O "aquecimento global" levou a 16 vídeos com informações erradas; “Mudança climática” para oito; e "manipulação climática" para 21.

O que fez o YouTube?

O YouTube tomou medidas para combater a desinformação. Alguns resultados de pesquisa e vídeos agora incluem uma caixa de seleção de fatos com informações extraídas da Wikipedia. A pesquisa de “mudança climática” e “aquecimento global” apresentará essa caixa - mas “manipulação climática” ainda não. A plataforma também reduziu as recomendações de "conteúdo limítrofe" - vídeos considerados problemáticos, mas não preocupantes o suficiente para serem banidos - como desinformação médica e teorias da conspiração.

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“Como nossos sistemas parecem ter feito na maioria dos casos neste relatório, priorizamos vozes autorizadas para milhões de consultas de notícias e informações, e apresentamos painéis de informações sobre tópicos propensos a desinformação - incluindo mudanças climáticas - para fornecer aos usuários o contexto ao lado de suas informações", disse um porta-voz do YouTube, em comunicado.

O YouTube não proíbe completamente a negação das mudanças climáticas. No entanto, por considerar esse assunto como propenso a desinformação, fontes autorizadas e oficiais devem ser priorizadas em pesquisas e recomendações. Isso significa que as notícias sobre este tema devem aparecer antes dos vídeos de criadores individuais do YouTube. Isso, porém, pode soar como censura, já que canais a cabo de grande audiência, que divergem das opiniões gerais sobre o tema, podem ser considerar o banimento um ato autoritário, pelos simples fato de não concordarem ou passarem informações equivocadas.

"Por uma boa razão, há uma conversa que se encerra nisso sobre liberdade de expressão", diz Greenberg. "Não estamos falando de forma alguma sobre liberdade de expressão - estamos falando de publicidade e promoção gratuitas, e é isso que os algoritmos de recomendação do YouTube estão fazendo", avalia.

E você, amigo leitor? Presenciou algum anúncio de qualquer empresa em vídeos deste tipo? Avisem nos comentários!

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Fonte: The Verge