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No YouTube, divulgação de vídeos fakes é 3 vezes maior que os verdadeiros

Por| 21 de Maio de 2020 às 13h15

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Um novo estudo mostra a força de divulgação de desinformação sobre o novo coronavírus no YouTube no Brasil. Um trabalho encabeçado por três instituições mostrou que vídeos com notícias falsas ou dados contrariando levantamentos científicos oficiais foram três vezes mais vistos que de redes de informações verdadeiras sobre a COVID-19.

O documento, chamado Ciência Contaminada - Analisando o Contágio de Desinformação Sobre Coronavírus via YouTube, é um trabalho em parceria entre o Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) da USP, o Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), da Universidade Federal da Bahia.

O trabalho foi realizado em duas fases. A primeira analisou 11.546 vídeos entre 1º de fevereiro e 17 de março. A segunda acompanhou 12.775 produções entre 18 de março e 1º de maio. No total, o grupo identificou que vídeos com desinformação sobre a COVID-19 tiveram 73,4 milhões de visualizações contra apenas 27,7 milhões de visualizações de canais com produções de notícias verdadeiras.

“Existe forte rejeição a conteúdo científico em muitas redes, e as eventuais referências à ciência ocorrem de formas que distorcem a produção científica, focando arbitrariamente em pontos que os interessam e ignorando outros que os contradizem. É comum, nessas redes, o uso enviesado de dados científicos para fomentar o entendimento do grupo (como a minimização da COVID-19, teorias da conspiração, entre outros)”, aponta o trabalho.

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O documento também divide a análise em quatro grandes temas. O primeiro identifica os canais que forçam um cunho político e contracionista mundial. Aqui, há um destaque forte para menções à China, principalmente à província de Wuhan, onde surgiu o primeiro caso de COVID-19.

É nesse grupo que se encontra o canal Desperte - Thiago Lima, com 1,02 milhão de inscritos. O influenciador se apropria de diversas analogias para associar a disseminação do vírus com um plano “comunista” mundial. “Associam o pangolim, suspeito transmissor do novo coronavírus, ao filme 'Sonic', um filme que veio ao ar em 2019 tendo como protagonista um porco-espinho. Evoca-se essa similaridade estética entre o animal e o protagonista do filme como prova cabal de uma trama política que ocorreria nos bastidores da geopolítica mundial”, diz o trabalho.

Em um segundo grupo, está a associação religiosa, colocando a pandemia como um contexto de punição ou aprendizado divinos. “Entre as principais teorias, duas se destacam: narrativas de cunho geopolítico, culpando a China pela produção do vírus como arma biológica e usando-a para fins econômicos; e narrativas de cunho religioso, que buscam enquadrar a pandemia num contexto de simbologia bíblica, e por vezes endossam visões e recomendações sobre o vírus e a doença que contrariam orientações científicas e médicas”, relata o levantamento.

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Um terceiro grupo ainda se revela como médicos ou supostos especialistas vendendo produtos e cursos que poderiam ajudar na imunidade contra o vírus. Segundo o trabalho, 18,5% do total de vídeos analisados se enquadram nessa categoria, 30% com mais de 100 mil visualizações. Essas produções raramente apresentam fontes oficiais e trazem um conteúdo que induz o espectador a entender que somente a adoção das práticas descritas funcionaria para se proteger da contaminação. Recomendações da Organização Mundial da Saúde, como lavar as mãos e manter distanciamento social, raramente aparecem nos vídeos.

“O dano maior da desinformação no campo da saúde advém do fato que as únicas medidas atualmente eficazes no enfrentamento da pandemia de Covid-19 são as intervenções de saúde pública não farmacológicas, cuja eficácia depende da observância de certos padrões de comportamento pela população. O discurso da desinformação, ao minimizar a gravidade da doença ou cogitar medidas contrárias a esses padrões, mas ineficazes para prevenir a doença ou minimizar seus danos, prejudica justamente a capacidade de se obter esse comportamento social eficaz“, critica o trabalho. 

O trabalho completo está disponível no site do LAUT.

Procurado pelo Canaltech, o YouTube informou que não recebeu nenhum contato dos responsáveis pela pesquisa e reforçou sistemas de combate a proliferação de notícias falsas sobre a COVID-19:

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"Temos o compromisso contínuo de fornecer informações úteis e confiáveis, e atualizamos as diretrizes de aplicação das nossas políticas de conteúdo para abordar tendências emergentes de desinformação, especialmente, neste momento crítico que estamos vivendo. Desde fevereiro, já removemos milhares de vídeos relacionados à COVID-19 por infringirem nossas regras. Também estamos exibindo uma prateleira de notícias sobre a doença, que mostra conteúdos de fontes jornalísticas e autoridades locais, e direcionamos dezenas de bilhões de usuários para sites de organizações de saúde, como o Ministério da Saúde no Brasil, por meio de nossa página inicial e nossos painéis de informações”.

Fonte: LAUT