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O impacto da inteligência artificial no aprendizado de uma nova língua

Por| Editado por Luciana Zaramela | 01 de Março de 2021 às 15h45

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Geralt/Pixabay
Geralt/Pixabay

Ao longo de 2020, as pessoas passaram a associar muito mais o estudo com a tecnologia, recorrendo a ferramentas virtuais que pudessem fornecer mais segurança, tendo em mente a pandemia. No entanto, nem só de Zoom vive a relação entre a tecnologia e o aprendizado. Para falar a verdade, essa parece ser só a ponta do iceberg. E uma das várias formas que a tecnologia tem auxiliado as pessoas a aprenderem coisas novas é a inteligência artificial.

Para entender esse impacto, nós do Canaltech conversamos com Dra. Cindy Blanco, cientista de aprendizagem da plataforma Duolingo, que usa machine learning para dar aos alunos aulas personalizadas e adaptáveis. Na prática, Blanco colabora com engenheiros de machine learning, engenheiros de software, designers, e gerentes de produto para desenvolver novas maneiras de ensinar idiomas por meio da tecnologia.

Para a cientista, as formas em que a Inteligência Artificial mudou o aprendizado de idiomas envolvem o nível de entendimento individual do aluno. "A IA permite entender melhor o aluno relembrando as aulas/lições passadas, adaptando os exercícios às necessidades e acompanhando seu progresso", comenta. Ela acrescenta que ferramentas como machine learning permitem criar cursos melhores, identificar o material mais difícil e priorizar mudanças.

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Questionada sobre quais desafios envolvem essa relação entre a IA e o aprendizado de um idioma, a especialista disserta que a IA, por sua própria natureza, vê os dados como números, medidas, pontos e padrões. "Como uma cientista de aprendizado, não é assim que eu penso em linguagem. A linguagem é mais do que um conjunto de palavras, regras gramaticais, e propriedades abstratas: é todo um sistema de comunicação, de conexão com pessoas, de expressão e criação".

A cientista descreve a IA como uma ferramenta poderosa para conseguir que os alunos se comuniquem, se conectem e se expressem. "Mesmo que um modelo de machine learning possa me dizer a melhor maneira de apresentar uma nova lição, não estarei fazendo meu trabalho como educadora se ela não for útil para os alunos". Portanto, na visão da Dra. Blanco, as melhores técnicas de IA são aquelas que fazem nossos usuários pensarem, se comunicarem e usarem a linguagem de maneiras significativas.

Aprendizado de idiomas na pandemia

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A cientista observa que as pessoas ao redor do mundo estão buscando maneiras para se manterem ocupadas, e especialmente, para se sentirem produtivas e conectadas, e isso é exatamente o que aprender um idioma faz.

"Especialmente agora, durante a pandemia, as pessoas usam a tecnologia para interagir com outros idiomas e cultura por meio de música, filmes, TV e jogos online. Aprender um novo idioma por meio da tecnologia se tornou uma outra forma de se conectar com o restante do mundo enquanto estamos isolados em casa", reflete.

A especialista ainda menciona que em março e abril de 2020, professores ao redor do mundo tiveram que repentinamente transformar aulas presenciais em aulas totalmente online, algo que não é fácil de fazer, especialmente do dia para noite e sem recursos. Ao mesmo tempo, muitos aplicativos viram a chegada repentina de um novo grupo de usuários, que talvez não estava familiarizado com o conteúdo ou a tecnologia.

"Porém, a pandemia definitivamente nos pressionou de maneiras diferentes", lembrou a cientista, que mencionou ocasiões em que os alunos se reuniam pessoalmente para praticar conversação, por exemplo. No entanto, com os recursos remotos, alunos de todo o mundo passaram a praticar a conversação online.

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Perguntamos para a cientista o que significa o machine learning, na prática, no dia-a-dia, no aprendizado. "Machine learning é uma maneira de aprendermos sobre você, enquanto você aprende. É uma maneira de pensar sobre dados e colaborar com nossos especialistas em currículo para melhorar a eficácia dos cursos", avaliou.

"E uma das formas de fazer isso é monitorando o desempenho do aluno em cada exercício. Quais frases são fáceis para você? Você não tem dificuldade em escrever, mas tem para falar? Que tipo de erros gramaticais você comete? Nosso algoritmo presta atenção em todos esses pequenos detalhes para construir um "modelo", nosso melhor palpite sobre o que você sabe e quão bem você sabe disso. Em seguida, usamos esse modelo para personalizar as aulas que os estudantes veem no app", explicou.

Machine learning 

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Dra. Blanco ressalta que em todo aprendizado existe uma quantidade ideal de dificuldade: "Se algo é muito fácil, fica chato, mas se for muito difícil, é frustrante e o estudante desiste. Portanto, nosso modelo ajusta o tipo de dificuldade apropriado para cada estudante, de modo que ele sinta o tipo de desafio bom, fortaleça as habilidades mais fracas e não se sinta sobrecarregado".

Outro aspecto utilizado pelo machine learning é o teste A/B, usado para descobrir as maneiras mais eficazes de ajudar as pessoas a aprender e continuar. "O teste A/B significa que, antes de tomarmos qualquer decisão sobre um novo recurso, sugerimos a mudança apenas a poucos alunos primeiro e, em seguida, comparamos os alunos da versão mais antiga e os alunos da versão mais recente. Existem diferenças entre os grupos? A mudança torna as coisas confusas? Mais alunos desistem? Isso faz com que as pessoas queiram fazer menos aulas ou parem de estudar mais cedo?", reflete a cientista.

Para ela, essa abordagem é muito importante, porque não se pode ver e falar com cada aluno. Quando o aprendizado ocorre presencialmente, é possível ver o rosto de cada aluno e entender a necessidade de repetir algo ou suprir frustrações. "Mas para o aprendizado remoto, especialmente em um aplicativo, a motivação e o ritmo são ainda mais importantes do que em uma sala de aula, porque agora os alunos podem simplesmente fechar o aplicativo se eu não planejar bem a aula. O teste A/B é uma forma dos nossos alunos nos dizerem, por meio de seu comportamento, o que os ajuda a aprender", completa.

Mas então vem a pergunta à mente: mais fácil ensinar e aprender com a inteligência artificial? Bom. No ponto de vista da cientista, a tecnologia tem muitas vantagens, mas também faz repensar algumas partes do ensino. "Uma coisa que é fácil para a tecnologia e difícil para o ensino tradicional é o feedback: se um aluno estiver em uma classe com 20 ou 30 outros alunos, provavelmente não receberá um feedback direto do seu professor, simplesmente porque não há tempo suficiente, mas com a tecnologia, é muito mais fácil fornecer feedback personalizado com frequência", explica.

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Para exemplificar, Dra. Blanco menciona a utilização da IA para dar dicas gramaticais personalizadas diretamente em uma aula, quando se nota que um aluno que está cometendo certos erros. "Isso seria muito demorado e difícil para um ser humano, mas a tecnologia nos permite fazer isso automaticamente", observa.

Chatbots

Outra startup que aposta no ensino de novos idiomas utilizando Inteligência Artificial é a ChatClass. No entanto, nesse caso, estamos falando de chatbots, via áudio e textos. O alemão Jan Krutzinna, CEO e fundador da empresa, explica ao Canaltech que na educação, o chatbot básico pode simplesmente dar atividades de múltipla escolha para um aluno e corrigi-las automaticamente, dando feedback ao estudante. "Este tipo de aprendizagem baseada em chatbot funciona para a aprendizagem de línguas e também para outras matérias", observa.

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"Mas você também pode ter um chatbot mais sofisticado, um que realmente crie uma conversa com o estudante. Por exemplo, nós criamos um chatbot que permite dialogar com o aluno para ele pedir um café. O chatbot é como um robô funcionário de uma cafeteria. Para o aprendizado de línguas, esses tipos de chatbots conversacionais podem ser extremamente poderosos, pois permitem que alunos pratiquem conversas sem depender de outra pessoa para falar. O chatbot é um companheiro de prática paciente", complementa Krutzinna.

No entanto, poderiam os chatbots substituir os professores? Para Krutzinna, não é bem assim. "Eu nunca imagino um chatbot substituindo um professor, pois o trabalho de um professor é sobre motivação e encorajamento, é um trabalho emocional e muito humano. Nenhuma IA pode substituir isso", afirma. Entretanto, chatbots podem ser ótimos assistentes para professores. Eles podem ajudar sendo companheiros de prática para os alunos, podem ajudar a automatizar feedbacks básicos, inclusive de fala. E isso libera tempo aos professores para que possam focar em passar tempo de maior qualidade com os alunos", acrescenta o cientista da computação.

O fundador da startup ressalta que a ideia não é construir robôs-professores, mas robôs assistentes de professores. "Assistentes que podem ajudar o professor e o aluno a fazerem as coisas simples de maneira mais automatizada para que o tempo humano possa ser gasto em atividades mais impactantes", analisa.

Questionado sobre os principais desafios desse trabalho com chatbots, o alemão reflete: "O principal desafio técnico é que estudantes de línguas falam com sotaques pesados e cometem erros, o que torna muito difícil para a IA entender. Com o treinamento de dados, você pode aprimorar a IA para ficar melhor nisso. Nós já fizemos isso em alguns experimentos, mas é algo bem complexo e caro. E, para os estudantes de nível mais alto, que precisam praticar frases sofisticadas e gramática complexa, a IA de hoje ainda não é robusta o suficiente para dar feedback no mesmo nível que um professor humano poderia. Portanto, a IA ainda não é páreo para um bom tutor humano. Mas pode ajudar bastante".