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Tecido inteligente inativa vírus com calor, mas continua "frio" ao toque

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Gustavo Raskosky/Rice University
Gustavo Raskosky/Rice University

Um novo material que usa uma combinação de tecidos flexíveis, resistentes a calor e corrente elétrica pode ser usado na fabricação de equipamentos de proteção individual (EPI) capazes de inativar vírus apenas com o calor — e sem queimar quem estiver vestindo. O novo têxtil composto usa o efeito Joule (definido pela geração de calor de uma corrente elétrica em um condutor) para descontaminar superfícies, chegando a neutralizar pelo menos 99,9% dos vírus de uma superfície.

Itens como luvas fabricados com a novidade podem ser usados centenas de vezes de forma segura, evitando o gasto de até 9 kg de lixo que seria gerado pelo uso de luvas descartáveis de nitrilo, comuns em hospitais. Segundo os cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do material, o crescimento exponencial do descarte de EPIs e problemas com a rede de abastecimento durante a pandemia mostraram a necessidade de criar equipamentos reutilizáveis.

Queimando sem perigo

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A tecnologia permite utilizar luvas ou outros equipamentos fabricados com ela e sequer tirá-los para a descontaminação — o processo ocorre em segundos, permitindo voltar aos afazeres imediatamente. O tecido usa corrente elétrica para aquecer sua parte externa a temperaturas acima de 100 ºC, enquanto deixa a parte interna relativamente fria, não passando de 36 ºC — a temperatura do corpo humano.

O equipamento, é claro, precisa ficar quente o suficiente para inativar vírus como o SARS-CoV-2 com eficiência, mas não tanto que queime o usuário ou cause desconforto. É nessa parte que os engenheiros da Universidade Rice focaram, criando mecanismos de segurança que garantam a segurança do material.

O aquecimento a seco, comparado a outros métodos de descontaminação, tende a ser mais confiável e ter menos chances de danificar equipamentos de proteção. Fazer vestimentas que possam aquecer até a temperatura adequada para o feito, no entanto, precisou de muito trabalho.

Os testes de laboratório se voltaram para a inativação termal de vírus, começando desde a pandemia para entender o mecanismo para “desligar” os patógenos e como esse processo se acelera em temperaturas mais altas.

No início dos estudos, também foram pensadas questões de design do material, testando sua capacidade de auto-descontaminação — para quem assistiu os experimentos no laboratório de virologia utilizado, como a biocientista Yizhi Jane Tao, o modo como os dados se aproximaram das previsões foi “impressionante”.

Luvas descontaminantes e os trajes espaciais do futuro

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Em laboratório, foram testadas apenas luvas contra o vírus causador da covid-19, e o material se saiu bem nos testes de infectividade, prometendo eficiência de proteção semelhante contra outros patógenos virais. Segundo os cientistas, considerando a diferença de temperatura entre o exterior e o interior, as luvas são surpreendentemente leves e flexíveis.

O princípio é semelhante ao de trajes espaciais, que trazem diversas camadas — a mais interna é a que mais possui funcionalidades, sendo coberta por estratos com isolamento térmico completados por uma camada protetiva no exterior. O plano é utilizar tecidos inteligentes, como o produzido pela pesquisa, na integração com trajes espaciais e outros EPIs, diminuindo seu peso ao mesmo tempo em que funcionalidades são adicionadas.

Fonte: Rice University, ACS Applied Materials and Interfaces