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Oito perguntas sobre: bike nas ruas!

Por| 14 de Junho de 2020 às 10h30

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Antes "queridinhas" do público descolado, com bicicletas e patinetes elétricos invadindo as ruas das grandes cidades brasileiras, as startups de micromobilidade sofreram um choque de realidade no começo do ano. Empresas consideradas icônicas do setor, como a norte-american Lime e latino-americana Grow tiverem de fechar ou reduzir consideravelmente suas operações. Seus planos agressivos de expansão, turbinados por altos valores vindos de fundos de venture capital não resistiram a falta de resultados financeiros e elas tiveram de pisar fortemente no freio.

Mas uma empresa brasileira vem no sentido oposto da crise: a Tembici. Fundada em 2010 e conhecida por administrar as bicicletas laranjas patrocinadas pelo Itaú, a startup de micromobilidade hoje está presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Vila Velha (ES) Belém, Porto Algre, Recife, Salvador e Manaus, além de Buenos Aires, na Argentina e Santigo, no Chile.

Em 2019, a empresa afirma ter realizado 22 milhões de viagens (cerca de 80 mil por dia), a partir de suas 16 mil "magrelas", que são produzidas na fábrica da companhia, na cidade de Extrema (MG). E com uma operação mais pé no chão e também financiada por empresas diversas - além do Itaú, companhias como Mastercard, Unimed, Hapvida e Banestes patrocinam projetos de micromobilidade em outras cidades brasileiras - a Tembici, ao contrário da concorrência, conseguiu levantar uma nova roda de investimentos: a startup recebeu US$ 47 milhoes (cerca de R$ 230 milhões), em uma rodada liderada pela Valor Capital Group e a gestora Redpoint Ventures, com participação da International Finance Corporation (IFC) e da Joá Investimentos.

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Com esse valor, a empresa quer ampliar a frota, implementar bicicletas elétricas e investir em tecnologia. E para falar sobre esses planos, o futuro da micromobilidade, entre outros temas, o Canaltech conversou com Tomás Martins e Maurício Villar, sócios-fundadores da Tembici. E o resultado do bate-papo você confere na terceira edição do "Oito perguntas sobre..", nossa nova seção de entrevistas. Confira!

Canaltech - No começo do ano, empresas icônicas de micromobilidade como Grow e Lime passaram por cortes e reduções operacionais, colocando em dúvida o modelo de negócios no setor de micromobilidade. Onde a Tembici tem se destacado a ponto de atrair essa nova rodada de investimentos de R$ 230 milhões? Quais os seus diferenciais?

Tomás Martins: Micromobilidade é uma indústria muito recente no mundo e a discussão de como vamos nos locomover nos próximos anos/décadas, é fundamental para as mudanças de hábitos das pessoas. Estamos lutando contra a indústria do automóvel que está há mais de 60 anos sendo fomentada de diversas formas, seja investimento com subsídios do governo, investimentos em infraestrutura (as ruas são feitas para os carros, basicamente) e com a cultura das pessoas de usar o automóvel para se locomover. Não se pode olhar pra esse cenário com uma visão de curto prazo.

Na Tembici, sempre olhamos para o médio e longo prazo, começamos há 8 anos e estamos crescendo muito, sempre na liderança de mercado, e também sempre entendendo que é um jogo demorado, e acho que essas empresas, com todo mérito de mercado, entraram de forma bem agressiva, assim como qualquer modelo de disrupção. Há um processo de maturação do mercado, então naturalmente são testados em diversas situações, como agora na pandemia, alguns perduram e outros não, uns voltam e outros não. Na Tembici sempre tivemos muita parceria com poder público e parceiros como o Itaú, apostamos firmemente no produto, tem que ser de qualidade, as pessoas precisam confiar e pra ter confiança, precisa haver disponibilidade. Esses são nossos principais diferenciais.

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CT - O setor de micromobilidade passou por uma espécie de bolha e agora está se autoregulando, passando por ajustes?

Maurício Villar: Sim, há poucos anos as pessoas não queriam aceitar as ciclovias, seja por conta do espaço ou pelas reformas que são necessárias nas vias. Hoje mudaram o pensamento, com tudo que está sendo fomentado, em questão de qualidade de vida e sustentabilidade. No mundo todo, já estamos assistindo a prioridade que o poder público está dando para a implementação de ciclovias temporárias, que podem se tornar permanentes no pós pandemia, além de incentivos para que as pessoas usem bicicletas para se locomoverem. Ainda há muitos investimentos a serem feitos como incentivo do uso da bicicleta como meio de transporte e é preciso coragem do poder público para implementar esses projetos.

CT - A pandemia gerada pela COVID-19 abre uma nova gama de oportunidades para as empresas de micromobilidade, principalmente nas cidades de grande e médio porte?

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T.M.: A pandemia trouxe uma reflexão para o hábito, em todos os sentidos, e não tenho dúvida que vai impactar a forma como as pessoas se deslocam. A bicicleta evita aglomerações, traz fluidez para as cidades e benefícios para o meio ambiente. Diversas cidades do mundo estão com várias iniciativas para incentivar a bike como meio de transporte, já que é um modal individual e de uso ao ar livre. O uso da bicicleta foi, inclusive, recomendado pela própria Organização Mundial da Saúde.

Nós estamos com nossas operações preparadas para receber a demanda que, certamente, acontecerá. Reforçamos todos os processos de higienização das bicicletas e estações para garantir segurança aos usuários e aos nossos colaboradores.

CT - Um dos primeiros objetivos da Tembici com esse novo aporte é oferecer bicicletas elétricas. Como administrar e lucrar com uma categoria de produtos cujos valores de aquisição, gerenciamento e manutenção são mais altos?

M.V.: A bicicleta elétrica amplia o alcance em trajeto. Atinge-se o usuário que precisa passar por subidas e diferentes relevos, distâncias maiores. Em uma convencional, o usuário faz em média 3km, e com a elétrica pode fazer 10km, por exemplo. Acreditamos muito na bike elétrica e por mais que ela tenha um maior custo de aquisição das peças, ela tem proporciona às pessoas a possibilidade de chegar à destinos mais distantes, ou seja, você aumenta a abrangência de atendimento às necessidades da população. Se antes uma pessoa se deslocava ao trabalho 10km usando ônibus + bike, com a elétrica ela poderá fazer o caminho todo de bicicleta. Acreditamos que ela será mais rentável.

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No ano passado, fizemos um piloto com algumas bicicletas elétricas em São Paulo e elas foram 3 vezes mais utilizadas que as bicicletas comuns.

CT - Quais as características do usuário brasileiro a Tembici pôde observar no uso de serviços de micromobilidade, principalmente em comparação com outros países onde a Tembici atua?

T.M.: Temos um perfil semelhante aos de outros países da América Latina, há mais variação em cidades do que entre países. No geral, podemos afirmar que nossas bikes são usadas para transporte, já que em todas as cidades, incluindo Santiago no Chile e Buenos Aires na Argentina, os picos de uso acontecem entre 7h e 10h da manhã e entre 17h e 20h, que são horários de locomoção de trabalho.

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CT - Quais os desafios em adaptar um serviço como o da Tembici para cidades tão diferentes é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e outras da América Latina?

M.V.: É preciso ter o olhar local, trabalhamos numa estrutura matricial em que temos o "city manager", com olhar muito regionalizado. A mobilidade é local, mas há cidades que você tem uma estrutura de oferta de metrô maior, outras que com BRT, com mais ou menos infraestrutura de ciclovias, então precisamos entender a estrutura e perfil do usuário para enxergar as oportunidades e desafios de cada praça.

Temos aqui na Tembici também um time de arquitetas e urbanistas responsáveis pela definição do mapa das estações. Desenvolvemos uma metodologia que nos permite concentrar as estações em locais que as bikes mais servirão à população, além de prever a demanda de acordo com o local. Isso nos permite trabalhar num dos principais pontos importantes aos usuários que é disponibilidade. Para usar a bike todos os dias, eu preciso estar seguro que a bicicleta estará ali nos horários que eu preciso.

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CT - A Tembici iniciou suas atividades em 2010. De lá pra cá, o que mudou em termos de hábito e uso de micromobilidade do usuário brasileiro?

T.M.: Crescemos 10 vezes na utilização dos nossos sistemas nos últimos dois anos. As pessoas estão muito propensas a usar as bicicletas no dia a dia e acho que isso é uma mudança super importante. Há um amadurecimento da discussão da bicicleta nas cidades. Se lembrarmos de como era há uns quatro anos, as pessoas criticavam a construção de ciclovias e hoje mudaram o pensamento, passaram a entender a importância e até a usufruir do sistema.

Cada pessoa que está na bicicleta pode ser um carro a menos no congestionamento, além de todos os benefícios individuais pro ciclista e também para o meio ambiente.

CT - Quais as tendências do setor de micromobilidade? O que podemos esperar para o futuro, não só em termos de meio de transporte, como também em tecnologia?

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M.V.: Estamos muito animados com as bicicletas elétricas e como vamos facilitar e abranger a usabilidade da bike. Nossas bikes e estações são fabricadas pela PBSC, maior indústria de bike share do mundo. Os sistemas que a Tembici tem nas principais capitais da América Latina são os mesmos que funcionam em Nova Iorque, Chicago, Londres e Barcelona, por exemplo.

Nosso maior investimento ano passado foi em tecnologia e dados e estamos neste mesmo caminho este ano.

Temos implementado melhoras constantes no aplicativo, novas funcionalidades, desenvolvendo estudos de dados. Queremos que nosso aplicativo seja cada vez mais inteligente para oferecer funcionalidades personalizadas aos ciclistas.

Para isso também, temos uma área de Pesquisa responsável por trazer diversos inputs que nos permitam aprimorar ainda mais nossos serviços, tanto na ponta com as bikes e estações como também no app.

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Continuar aliando toda a qualidade do nosso sistema com investimentos em tecnologia e dados nos permitirá criar um sistema de transporte ainda mais robusto para servir a população e transformar as cidades.