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Digitalização: como imaginam uma política digital nacional?

Por| 22 de Outubro de 2020 às 10h00

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Serpro
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As campanhas eleitorais possuem como grande característica as numerosas promessas que fazem para o eleitorado, a fim de ganhar seus votos. Entre essas promessas, encontramos os que usualmente são denominados “moralistas”, que apelam ao melhor sentido de justiça dos seres humanos. São promessas que asseguram a equidade e a igualdade das pessoas no que se referem ao trabalho, aos acessos aos serviços básicos e a importância de incluí-los nos processos de decisão do estado.

Imagino que tão logo passem as eleições, muitos destes “super-heróis” temporários assumirão cargos, tomarão posse e esquecerão algumas promessas, assim como não serão mais vistos em bairros carentes. As promessas de saúde, trabalho e conectividade estarão congeladas até as próximas eleições, onde essas questões permanecerão, embora tenham diferentes faces.

Agora imaginem que nos encontramos imersos no início de uma digitalização ao nosso redor. Lentamente veremos como diversos serviços tendem a começar não apenas a tomar a digitalização, mas também a tomar decisões dependendo dos parâmetros que lhes programamos. Os automóveis, os semáforos, os medidores de energia e até mesmo a agricultura começam a se beneficiar das novas tecnologias.

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Tudo isto agrega um aumento na digitalização dos processos governamentais que economizam tempo ao minimizar a burocracia e, por sua vez, aumentam a transparência ao deixar um histórico de todas as transações realizadas. Já imaginou que um agricultor ou pescador pode economizar um dia de viagem para fazer a papelada pessoalmente, com todas as despesas e dinheiro que isso implica, para poder fazê-lo facilmente através de um portal governamental?

Precisamente este destino inevitável é que aumenta a importância a qualquer estratégia de conectividade nacional. Por quê? Simples, estes planos apontam para o aumento dos números de cidadãos que podem acessar os serviços que têm à sua disposição somente para os habitantes das grandes cidades. Oferecer aos mais necessitados e isolados as mesmas oportunidades de conectividade que tem o restante do país. Permitir aos trabalhadores rurais e pescadores utilizarem as plataformas de governo oferecidas ao resto da população, deixando de ser marginalizados por uma falta de conectividade sem data de caducidade.

Ao falarmos de um plano nacional de desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC), pratica-se uma estratégia governamental voltada para melhorar a qualidade de vida dos marginalizados. Nenhum governo que pretende vender-se como defensor dos direitos dos pobres, defensor da igualdade de todos os cidadãos, e que se queixe dos privilégios educativos ou de saúde dos segmentos de maior poder aquisitivo, deve jamais ignorar a importância das TIC como ferramenta para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Nenhum ser humano merece a infâmia de ser tratado condescendentemente como animais por aqueles que batem no peito pedindo por equidade e justiça, sendo que são provenientes de uma posição privilegiada e se recusam a ser catalisador do evangelho da equidade, que tantas vezes eles próprios pregaram. Não subestime a criatividade das pessoas que nos permitem continuar, em tempos de pandemia, com a oferta de aulas ou consultas médicas em áreas rurais de nossa América Latina através de aplicativos de chat. WhatsApp, Messenger, Telegram e Skype são os protagonistas que viabilizam a teleducação e a telemedicina em áreas marginalizadas.

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Apresentar-se como defensor dos pobres enquanto lhe é negado um caminho até a digitalização é similar a dar-lhes um prato de comida e logo lhes cravar um punhal pelas costas. Criar e implementar uma estratégia nacional para o desenvolvimento das telecomunicações é investir na chamada infraestrutura de conhecimento, benefícios intangíveis que as pessoas levarão no dia a dia pelo resto da vida. Deixar de fazer isso é trabalhar para beneficiar o aumento das diferenças sociais de quem tem acesso a privilégios, e de quem tem que se virar diariamente para não cair no analfabetismo funcional.

Considero imprescindível aprofundar este aspecto: quando falo de uma estratégia nacional e inclusiva no desenvolvimento das TIC, não apenas faço referência para a infraestrutura. Também me refiro a utilização das novas tecnologias na educação, em serviços de emergência, saúde, agricultura, energia, finanças... enfim, remito a todos os segmentos que constituem a economia de um país. Falo de capacitações, de melhorar eficiências e levar aos setores distantes uma nova possibilidade para melhorias.

É indispensável compreender a necessidade de uma correta assessoria sem se recusar a entender que não se pode pensar no crescimento futuro do país quando uma porcentagem significativa da população considera as TIC apenas como uma plataforma para assistir a vídeos ou bater papo. De toda forma, os esforços para mudar esta percepção junto à população são praticamente inexistentes. Como pensar em um país preparado para começar a exportar serviços e conhecimentos quando, em muitas áreas do governo, impera a tecnofobia? Como acabar com a dependência fomentando empreendimentos e crescimento econômico em áreas que mais necessitam, se não se provém as ferramentas básicas para mudar isso?

O pior de tudo, infelizmente, é que muitos destes antigos super-heróis, seja por covardia ou por comodidade, têm deixado suas promessas de proteção das massas para passar a ser marionetes que protegem os mesmos interesses de sempre. Como se estivessem esperando Godot, suas palavras se mostram diligentes, mas suas ações os condenam à paralisia da inércia. No final das contas, a vítima ainda é o povo.

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*Esta coluna é escrita em caráter pessoal.