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Review Ruff Ghanor | A grandeza e a dificuldade de começar por baixo

Por  • Editado por Durval Ramos | 

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Divulgação/Magalu Games
Divulgação/Magalu Games

Uma história gloriosa que começa de maneira simples, mas com o peso necessário para quem sabe estar destinado a algo maior. Ruff Ghanor é assim, colocando uma ênfase nas escolhas e na estratégia para fazer com que até mesmo uma ida à taverna local ou o combate contra um lobo selvagem se transformem em questões que, mais adiante, definirão o destino do protagonista.

É um ar que também se estende ao longo das horas que passamos com o título nacional, desenvolvido pela DX Gameworks a partir da história do escritor Leonel Caldela. Trata-se de uma transposição direta do primeiro livro da lenda de Ruff Ghanor, o Garoto-Cabra, para um formato de card game que foge do usual do gênero e das adaptações.

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O universo criado pelo Jovem Nerd, com Alexandre Ottoni e Deive Pazos à frente, se expande por podcasts, uma série de livros e outros produtos — e seria fácil pensar como um bom game de RPG poderia sair daqui. A ideia é voltar às bases e entregar as origens dessa trama, sem que nenhum tipo de lição de casa seja feita, em um formato que foge do usual.

Quem nunca teve contato com Ruff Ghanor chegará pela história, mas deve ficar pelo estilo altamente desafiador que mistura a base dos card games com elementos narrativos, baseados em escolhas, e fortes influências roguelike. Nessa mistura, a produtora comete alguns tropeços, que surgem em meio a uma proposta bastante promissora.

Um olho no baralho, outro na barra de vida

Tudo em Ruff Ghanor gira ao redor das escolhas. Elas moldam atributos, o caminho que será seguido adiante e até a relação entre personagens. Com uma trama dividida em atos, o jogador logo percebe que até mesmo uma pequena decisão feita em um momento de aparente lazer do personagem principal pode mudar um confronto que aparece etapas adiante, quando podemos ter ou não um aliado ao nosso lado.

Há um grande foco na leitura, como não poderia deixar de ser, mas também no uso do próprio baralho como parte da narrativa. Momentos de opção não recaem apenas sobre a escolha do jogador em um diálogo, mas também nas cartas que ele possui em sua mão, adicionando um elemento de sorte que sempre deixa o jogador em alerta.

A barra de energia não se regenera a cada confronto, o que nos exige escolher com sabedoria a ordem em que desejamos encarar os conflitos e trechos narrativos ou de exploração, que podem garantir a cura. Ao mesmo tempo, decisões erradas também podem “envenenar” o baralho com cartas de efeito negativo, tornando encontros futuros mais complicados. Como dito, tudo é feito à base de escolhas e as consequências são reais.

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Logo de início, por exemplo, um ataque ao mosteiro de São Arnaldo, onde o começo da trama se passa, coloca o jogador diante de um exército de hobglobins. Ghanor é orientado por seu mentor a permanecer atrás das paredes, constituindo um círculo de oração que manteria os inimigos do lado de fora. Em qualquer produção do tipo, essa seria uma ordem facilmente descumprida, mas aqui, vem com a consequência de nos colocar diante de inimigos poderosos.

Basta um erro de decisão, uma falha de cálculo ou uma desatenção para que o protagonista sucumba e o jogador tenha de começar tudo de novo. Cada ato de Ruff Ghanor é uma história que precisa ser finalizada integralmente para seguir adiante. Assim, aprendemos que a impulsividade é um inimigo maior do que muitas das criaturas desse universo.

Interesses e dificuldades

Ruff Ghanor é uma adição interessante a um cenário que tem sua bela dose de card games de sucesso nos últimos anos, mas também traz um peso indesejado à relação entre risco e recompensa. Da mesma forma que é empolgante ver um plano dando certo, enxergar mais de uma hora de jogatina escorrendo rapidamente pelas mãos após um erro bobo de trajeto pode não ser nada agradável. Faz parte da experiência, mas não deixa de ser frustrante em alguns momentos.

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A bela abertura que nos situa no mundo fantástico de Ruff Ghanor abre caminho para uma trama com personagens bem característicos, com os quais o jogador vai se simpatizar rapidamente. Ainda que os diálogos disponíveis no interior dos atos não sejam dublados, dá para sentir a qualidade de escrita dessa adaptação, com o discurso de cada personagem sendo bem característico.

Oponentes, também, acabam sendo mais do que meros minions a serem enfrentados, com provocações e pequenos diálogos adicionando ao peso já inerente trazido a cada encontro pelo sistema do próprio game. É na arte, também, que percebemos as principais referências do time de desenvolvimento, fãs da obra que começou nos podcasts de RPG do Jovem Nerd e que agora ganha novos ares.

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Entretanto, tudo isso é colocado à prova quando morremos inevitavelmente e temos de recomeçar os atos sempre longos do título. As narrativas se repetem e, seja pela pressa ou autopreservação, o jogador pode se ver pouco incentivado a participar de missões com cara de secundárias, acabando por abrir outra brecha estratégica que significará o seu fim adiante, com mais um recomeço incômodo.

Existem também ajustes de balanceamento a serem feitos entre o poder de ataque dos oponentes e a possibilidade do jogador de ampliar a própria força. Enquanto estágios de aumento de energia existem aos montes, o mesmo não pode ser dito de upgrades relacionados a ataques ou poderes, feitos a partir de uma moeda interna gasta rapidamente com poucos usos.

A sensação de que a sorte precisa sempre estar ao lado do jogador, trazida em momentos de escolha e parte da cartilha básica dos roguelikes, nem sempre existe aqui. Principalmente nas etapas posteriores de cada ato, o jogador pode se sentir sempre enfrentando desafios grandes demais, principalmente ao notar que pequenos erros feitos no início se acumulam e retornam como uma bomba para destruir a jogatina no clímax dos trechos.

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Vale a pena jogar Ruff Ghanor?

A escolha de basear o game nas origens do protagonista e nos primórdios dessa história está entre as mais acertadas da produção. Assim, quem nunca teve contato com a obra de Caldela pode começar daqui, enquanto quem já foi fisgado pelo universo criado pelo duo do Jovem Nerd terá uma nova forma de interagir com as histórias e seus personagens.

Acima disso, a fuga do óbvio, quando falamos em histórias medievais e fantásticas, faz com que o trabalho da DX Gameworks chame mais atenção. Ainda que existam arestas a polir, principalmente no balanceamento, não dá para negar como orna a junção dessa ambientação com os sistemas e mecanismos usados para inserir o jogador na história.

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Ruff Ghanor será lançado no dia 22 de fevereiro em versões PC, Xbox One, Xbox Series X|S, Nintendo Switch, PS4 e PlayStation 5. O título é distribuído por Magalu Games e Nonsense Creations. No Canaltech, o game foi analisado em versão PC gentilmente cedida pela DX Gameworks.