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Análise | It Takes Two faz homenagem a clássicos com amor e tempero

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Captura de tela/Felipe Demartini/Canaltech
Captura de tela/Felipe Demartini/Canaltech

O processo de divórcio e separação dos pais nunca é fácil para uma criança, e se você já passou por isso, sabe muito bem do que estou falando. Entre as brigas que parecem inexplicáveis e a inocência que faz parecer, na infância, que nenhuma diferença é inconciliável, surgem as ideias mirabolantes e fantasiosas para tentar manter a união da família. É um sentimento muito triste, mas igualmente forte, que serve como a raiz da aventura de It Takes Two.

O novo trabalho da Hazelight Games e do criador Josef Fares, mais uma vez, aposta em uma dinâmica pouco comum, mas que já funcionou antes para os envolvidos. Assim como em A Way Out, It Takes Two é um game exclusivamente cooperativo, que só pode ser jogado por duas pessoas e sem um sistema de matchmaking. A ideia é transportar para os usuários a ideia de um título que envolve cooperação e comunicação, algo que, para os desenvolvedores, não teria razão de existir caso os jogadores fossem meros desconhecidos.

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Neste jogo, essa ideia ganha contornos ainda mais definidos pelo próprio enredo, que mostra um casal à beira do divórcio transformados em bonecos pelas lágrimas da filha e a ajuda de um livro mágico. O Dr. Hakim é o agente que carrega e, em alguns momentos, força Cody e May a se entenderem e trabalharem juntos e recuperarem a velha forma — para a dupla, se trata da própria humanidade, mas para a publicação meio amalucada e para Rose, a garota que deu origem a tudo, a ideia é que eles voltem a se amar.

A mistura resulta em um dos jogos mais interessantes e leves do ano até agora, principalmente se jogado ao lado de um bom amigo, cônjuge ou ente querido. It Takes Two traz tanta variação e uma quantidade absoluta de boas ideias que se torna daqueles em que várias horas se passarão sem que os jogadores percebam, enquanto todos se mantém plenamente envolvidos na história de Cody e May, mas principalmente, capturados pela curiosidade e torcida para que eles se entendam no final das contas.

Nenhum problema é grande demais

O background de cineasta de Fares também transparece em seu novo game. A maçã não cai longe da árvore, e ao longo de toda a aventura, é possível perceber referências claras a longas como Querida, Encolhi as Crianças, o obscuro Pequenos Soldados e, na influência mais óbvia, os filmes da Pixar. Apesar da cara de cera dos personagens humanos e de seu pertencimento digno ao “vale da estranheza” no que tocam as animações, a sensação é de estar jogando uma animação cinematográfica.

Mais do que isso, It Takes Two faz questão de ser uma homenagem a estilos clássicos dos jogos, que aparecem com um ar moderno. Isso transparece por meio da variação constante de formatos, gêneros e desafios, um dos aspectos mais interessantes do título e principal responsável por fazer com que ele jamais se torne cansativo, apesar de empregar mais de uma dezena de horas para ser finalizado.

As mudanças não apenas se limitam aos cenários, com o casal começando no porão da casa e passando pelos depósitos sempre bagunçados até chegarem às árvores do quintal, o esgoto e o quarto da filha, mas também na jogabilidade em si. Em alguns momentos, ela simula um jogo tradicional de aventura em 3D, para em outros assumir ares de runner, tiro, corrida e até simulador de voo, além de ter puzzles envolvendo física, precisão e sincronização entre os jogadores.

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A criatividade chega a atingir níveis impressionantes, em alguns momentos, com o pensamento fora da casinha fazendo com que até mesmo desafios sequenciais não sejam iguais ao anteriores, ainda que o estilo e a forma de os solucionar siga semelhante. Cody e May possuem poderes diferentes ao longo das fases, o que exige combinação e sincronia, além de incentivar a troca de controle ou protagonista para que os usuários possam testar as diferentes possibilidades.

Por mais que refute o fator replay, como afirmou em entrevista ao Canaltech concedida antes do lançamento do game, não dá para deixar de notar que Fares investiu fortemente nesse aspecto. Isso se dá, principalmente, pelos minigames que aparecem de tempos em tempos, assim como pelos momentos gloriosos em que apenas um dos personagens é protagonista, como a luta ao melhor estilo Street Fighter contra um esquilo, na segunda fase do game, de longe um dos destaques mais divertidos de toda a aventura.

Em meio a tantas dinâmicas e elementos, chega a ser surpreendente observarmos a absoluta simplicidade de It Takes Two. Não em termos de falta de criatividade, já que o jogo tem isso de sobra, mas sim quando falamos da naturalidade de seus controles e desafios. O game está sempre nos apresentando algo de novo, mas ao mesmo tempo, é como se soubéssemos tudo aquilo desde sempre, com a solução dos enigmas e o uso de ferramentas soando naturais por meio dos controles altamente responsivos e precisos.

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As vidas são infinitas, a não ser que Cody e May morram ao mesmo tempo, enquanto nada é tão simples que soa como bobo, nem tão difícil para se tornar punitivo. O desafio na medida exata e a curva de aprendizado perfeita são outros dois trunfos de It Takes Two, fazendo com que esta, também, seja uma aventura feita para todas as idades, sem subestimar os adultos com um tom infantil nem deixar os pequenos de lado, caso eles queiram jogar.

Morrer não é uma punição, e as vidas infinitas fazem com que retornar para tentar vencer um desafio novamente seja fácil e natural. Da mesma forma, há muito incentivo à tentativa e erro, ainda que a maioria das fases seja linear e os enigmas tenham apenas uma solução possível. Mesmo nisso, a sensação não é de estar sendo levado pelas mãos, mas sim, de estar participando de uma jornada que incentiva a seguir adiante da mesma forma que não subestima quem está controlando os protagonistas.

Aos poucos, percebemos que tudo se conecta em It Takes Two e até os aspectos mais periféricos, ligados a uma dinâmica de jogabilidade ou simples referências, conversam com a história desse mundo. Nada, aqui, está fora de lugar, ao mesmo tempo em que seus protagonistas, muitas vezes, se encontram fora do esquadro, cabendo ao jogador guiar suas jornadas ainda que não tenha, exatamente, o poder de decisão sobre o que vai acontecer no relacionamento.

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Ao mesmo tempo em que trata de temas pesados e intensamente pessoais para muitas pessoas, o game também apresenta um estilo tranquilo e até mesmo pacífico, com personagens absolutamente carismáticos e igualmente bizarros, como os esquilos militares ou o próprio Dr. Hakim, que será alvo do amor e do ódio da dupla de protagonistas e, também, do próprio jogador.

É claro, o foco em um relacionamento afetivo e até mesmo algumas referências, piadas ou elementos meio malucos fazem com que a experiência seja mais bem aproveitada quando se compreende o enredo e, acima de tudo, o jogador se relaciona com a situação apresentada. Entretanto, o game também dá espaço a quem, simplesmente, quer se divertir. E às vezes, principalmente nos momentos complicados em que estamos, é só isso que a gente quer mesmo.

It Takes Two mostra o amadurecimento da Hazelight Games em um estilo que o próprio Fares afirma ser um dos únicos expoentes no mercado atual. E por mais que a proposta exclusivamente cooperativa traga consigo alguns complicadores, principalmente no momento pandêmico atual, não dá para imaginar este título sendo de qualquer outra maneira, que não, compartilhado. Assim como a diversão nestes momentos difíceis, um pouco de cuidado com o próximo, atenção às suas necessidades e, principalmente, auxílio para seguir em frente correspondem exatamente ao que todos nós estamos precisando.

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It Takes Two chega em 26 de março ao PC, PlayStation 4 e Xbox One, sendo compatíveis também com o PS5 e Xbox Series X|S, ainda que os consoles de nova geração não tenham versões otimizadas do título. No Canaltech, o game foi analisado no PS4 em cópia digital gentilmente cedida pela Electronic Arts.