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Análise | Dandy Ace combate o desafio alto com a criatividade

Por| Editado por Jones Oliveira | 25 de Março de 2021 às 09h19

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Divulgação/Mad Mimic
Divulgação/Mad Mimic

Sorte, habilidade e dificuldade são palavras que normalmente não caminham juntas, mas que acabam compondo o cerne da experiência com Dandy Ace. O título brasileiro, desenvolvido pelos nossos conterrâneos da Mad Mimic, remete às raízes do estilo rogue-like, aquele tipo de jogo em que as rodadas nunca são iguais às anteriores, nos quais o jogador investe nas tentativas sucessivas, em cenários sempre aleatórios, para seguir em frente etapa a etapa.

O ensejo fantasioso cai como uma luva a um game que, por si só, investe em poderes mágicos e personagens carismáticos para se destacar em um gênero bastante comum entre os jogos independentes. A combinação entre a criatividade no uso dos poderes e a própria combinação entre eles, ao lado dos personagens e oponentes igualmente inventivos e uma história cheia de referências, brincadeiras e personagens carismáticos serve como o combustível para que o jogador avance, ainda que a experiência possa se tornar meio frustrante.

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Dandy Ace é o personagem título desta aventura, que é levado para dentro de um espelho mágico e cheio de perigos pelo seu principal rival, Lele, junto com suas assistentes e cartas mágicas. O chamado Ilusionista de Olhos Verdes inveja o estilo chamativo e o sucesso de seu inimigo e acredita que o seu sumiço é a única solução para que ele assuma o lugar de destaque no mundo da mágica que acredita merecer. Cabe ao jogador, então, lidar com poderes e upgrades para sair dessa situação.

Sorte, truques e repetição

O caminho pelas fases é somado aos comentários do próprio Lele, que ajudam a dar uma sensação de progressão na medida em que as reações afetadas do rival vão se tornando mais preocupadas. O inimigo tira sarro das dificuldades passadas pelo jogador, critica os oponentes que não desempenham seu papel de impedirem o avanço de Dandy Ace e mostra temor quando ele começa a se aproximar do final das fases, algo que também serve como indicação ao jogador de que ele está no caminho certo.

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É uma proposta interessante dentro do estilo rogue-like, que por si só já é conhecido pela dificuldade inerente à criação aleatória de cenários. No game da Mad Mimic, esse aspecto é elevado em diversas potências, já que estamos falando de um jogo em que até mesmo os inimigos mais comuns podem representar perigo caso apareçam em combinações com outros oponentes, ou em uma quantidade considerável em um cenário estreito enquanto o usuário ainda conta com cartas fracas nas mãos.

Entra em jogo, também, um dos citados aspectos de frustração de Dandy Ace, acompanhando uma evolução progressiva, mas nem sempre adequada, das habilidades. A sensação é de nunca estar preparado para os desafios que vem adiante, e mesmo com um forte rol de habilidades na mão, o jogador é mantido na beirada do sofá sempre que percebe que a entrega de itens de curta e cartas não é das mais generosas, enquanto os inimigos nunca param de atacar, com números e força cada vez maior.

Isso vale até mesmo para o nível normal de dificuldade, com Dandy Ace apresentando um desafio que está sempre nas alturas. Não importa quantas vezes você enfrentar os mesmos inimigos, eles ainda assim podem te surpreender, enquanto um erro de percurso pode não ser perdoado pelo sistema de aleatoriedade do título, colocando a perder rapidamente o que, segundos antes, parecia uma rodada perfeita e com alto potencial para chegar ao final.

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Como manda o figurino, o título apresenta pontos fixos de upgrade, onde moedas e outros materiais mágicos podem ser trocados por melhorias para o protagonista, itens de cura extras e cartas ou poderes específicos, que são desbloqueados a partir de itens coletados durante os combates. Mesmo com um bom set, porém, a sensação é de tensão constante e a noção de que o jogador não pode recorrer a ninguém além da própria habilidade e, também, de um pouco de sorte.

Citamos esse segundo aspecto, fora do controle do usuário, pois ele é, ao mesmo tempo, o responsável por tornar Dandy Ace frustrante e interessante. A sensação, quando se morre, é de que todo aquele progresso não serviu de nada, pois as melhorias efetivamente persistentes são um bocado periféricas. Ao mesmo tempo, fica aquela sensação que os adeptos dos jogos desafiadores conhecem bem — tirando algumas exceções em que as apostas realmente se voltam contra o jogador, perder uma rodada significa que você foi afoito ou não soube usar as cartas da melhor maneira.

Esse sistema, aliás, é um dos que mais incentiva o usuário a seguir em frente. Tomando uma nota de títulos de deck building, as cartas de Dandy Ace podem ser usadas para atacar diretamente ou, então, como melhorias para outras. Isso se encaixa tanto em upgrades padrões, como a adição de efeitos de queimadura ou veneno a um ataque de projétil, ou pela combinação de explosões a um ataque, anteriormente, comum.

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Na medida em que os desafios vão aumentando, saber lidar com tudo isso se transforma em algo essencial. Momentos com muitos inimigos na tela podem exigir maior uso de opções explosivas, por exemplo, enquanto a combinação de efeitos e o bom uso dos períodos de cooldown das cartas dão um ar de estratégia à jogabilidade, com algumas, por exemplo, causando dano adicional quando os oponentes estão envenenados ou enfeitiçados.

Mecanismos desse tipo costumam servir para que o jogador possa adaptar os poderes ao próprio estilo de jogo, mas em Dandy Ace, ganham experiência adicional enquanto o estilo dos inimigos também vai mudando. Mais do que apenas tentar sobreviver, cada rodada também permite que o usuário acumule conhecimento do jogo e seus desafios, sabendo lidar um pouco melhor com as situações na tentativa seguinte, ainda que, a cada morte, o caminho até a vitória pareça longo demais.

Entram no caminho destas tentativas sucessivas e essenciais para a experiência, ainda, a trilha sonora repetitiva, que muitas vezes parece soar como um loop. Ainda que instrumentos e levadas mudem de acordo com a situação e o avanço do jogador, as músicas, principalmente nas fases iniciais, em que o usuário ainda está aprendendo e entendendo a situação, soa sempre igual e pode se tornar um fator de irritação.

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O mesmo também vale para a dublagem, tanto no idioma inglês quanto na celebrada versão nacional, que conta com a participação de criadores de conteúdo renomados. Em todas, piadinhas e falas de Lele acabam sendo repetidas inúmeras vezes, ainda que estejam disponíveis em grande quantidade e façam referências a outros jogos e elementos da cultura pop. Você vai cansar de o ouvir praguejar sobre a aparição de cupcakes ou sempre zoar Dandy Ace por estar morrendo da mesma maneira.

Esse fator se torna ainda mais perceptível na dublagem nacional, em que os atores, ainda que amadores, possuem trejeitos bem característicos, que dão personalidade aos protagonistas, mas, também, tornam as repetições ainda mais marcadas. Incomoda, ainda, as notáveis diferenças de volume e qualidade entre diferentes gravações, um reflexo negativo do desenvolvimento do game durante uma pandemia, que se torna entendível, mas ainda assim, notável.

Para o público acostumado com rogue-likes, Dandy Ace traz algo de novo à fórmula, enquanto preserva as bases do gênero para se tornar uma experiência instigante. O desbalanceamento entre dificuldade e possibilidades de ação, entretanto, chamam a atenção negativamente, assim como as características chamativas de cada personagem, um dos pontos altos do design que, ao mesmo tempo, acaba sofrendo de problemas de polimento e não compartilha, de todo, a criatividade das mecânicas centrais do título.

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O game foi lançado em 25 de março de 2021 nos PCs, com versão para consoles já confirmada, mas ainda sem data de lançamento. No Canaltech, Dandy Ace foi analisado em cópia digital gentilmente cedida pela Mad Mimic.