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Os e-sports vão acabar com a jogatina por diversão?

Por| 02 de Março de 2016 às 12h00

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Os e-sports vão acabar com a jogatina por diversão?
Os e-sports vão acabar com a jogatina por diversão?

Nos últimos anos, os esportes eletrônicos — ou apenas e-sports — se tornaram tão grandiosos que estão deixando de aparecer somente na imprensa especializada em games para aparecer também nos cadernos de esportes de alguns veículos ao redor do mundo. Cada vez mais acontecem campeonatos com jogadores profissionais, que tiram disso o seu sustento, bem como aqueles torneios com pegada amadora, que reúnem entusiastas que (ainda) não ganham a vida com isso.

Essa movimentação toda pode estar passando despercebida dos olhos de muita gente, especialmente porque os jogos de e-sports acabam tendo um apelo bastante específico em um nicho de jogadores, mas há quem acredite que esta modalidade pode arruinar aquela jogatina tradicional, moleque, de raiz, descompromissada e focada apenas na mais pura diversão. Mas será que isso faz sentido?

Profissionais versus amadores

Nesta terça-feira (1), o crítico de jogos Richard Cobbett publicou em sua coluna no TechRadar um texto chamado “Por que os e-sports estão arruinando a jogatina no PC”, no qual ele defende, em linhas gerais, que o excesso de foco no e-sports está deixando a diversão de lado e fazendo com que as companhias lancem jogos incompletos para ocupar espaços no mundo da jogatina profissional.

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No texto, Cobbett afirma que analisar jogos com base em seu potencial esportivo é "uma tendência estranha e levemente doentia", partindo da premissa óbvia de que há muito mais no mundo dos games do que os e-sports. Em seu artigo, ele descreve uma série de críticas a este contexto específico, que gera superexposição, narrações bizarras e uma indústria com artimanhas para vender jogos incompletos.

Nada é tão alarmante assim

Fazendo uma comparação grosseira, imaginar que a profissionalização dos jogos irá acabar com a diversão de quem não está nem aí para competir profissionalmente — ou não tem habilidade suficiente para isso — é o mesmo que acreditar que o futebol profissional pode algum dia acabar com o bate-bola de rua ou as peladas de final de semana que acontecem em basicamente todo o mundo.

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A jogatina profissional não vai acabar com a diversão amadora. (Foto: Divulgação/Riot Games)

Que a indústria é guiada pelo dinheiro é algo óbvio a ser dito, ou seja, qualquer potencial de lucro será explorado sem muitas cerimônias. As competições e o e-sports em geral movimentam um bom dinheiro todos os anos, o que explica as movimentações de algumas grandes fabricantes para colocar produtos no mercado de uma vez, mesmo quando eles não estão totalmente finalizados e acabam servindo mais aos competidores do que ao jogador ocasional. Mas aí a crítica precisa ser direcionada ao modo como as coisas são geridas e planejadas, não à jogatina profissional em si.

E, bem, se Street Fighter V chegou incompleto às prateleiras e o restante do game será lançado aos poucos, como o próprio Cobbett destaca no texto, nada impede que os próprios jogadores reajam a este tipo de prática deixando de comprar o título logo após o seu lançamento. Provavelmente isso passaria uma mensagem bastante significativa à Capcom e também às outras produtoras do setor.

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As coisas podem dar errado, mas vamos com calma

Pensando em termos de mercado, é razoável imaginar que algumas empresas vejam nos e-sports uma saída para aumentar seu faturamento ou até mesmo a sua própria sobrevivência. Com isso, podemos prever que, quem sabe, o foco em torno de games que podem ser explorados comercialmente desta forma aumente cada vez mais, tomando espaço e recurso que poderiam ser investidos em outros títulos, aumentando a diversidade de games ofertados.

Este argumento talvez seja o mais plausível “contra” os e-sports, mas mesmo ele não se sustenta, ao menos não por enquanto. Isso porque não há indícios realmente fortes de que os dois ecossistemas, digamos assim — o profissional e o amador — concorram entre si. Pelo contrário, é possível imaginar até que eles se apoiem entre si, afinal os maiores interessados por campeonatos de League of Legends, FIFA ou Street Fighter costumam ser exatamente as pessoas que jogam estes mesmos games em suas casas, disputam contra os seus amigos ou até participam de pequenas competições, mas nada profissional.

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Não estamos mais nos anos 80. (Foto: Reprodução/Atari)

Por outro lado, decisões equivocadas de uma companhia podem ser muito mais decisivas na hora de determinar o seu destino ruim. Quem não se lembra do famoso caso da decadência da Atari, a pioneira dos consoles caseiros e uma das maiores empresas de entretenimento eletrônico do mundo no início dos anos 80? O desejo de potencializar seus lucros fez com que E.T. the Extra-Terrestrial, game baseado no filme de Steven Spielberg, fosse desenvolvido em apenas cinco semanas a fim de estar pronto para as vendas de final de ano. O prejuízo com o game somado a outras decisões erradas acabou com uma das mais promissoras companhias do Vale do Silício.

Enfim, as coisas podem dar errado? Sim, claro que podem. A recente crise econômica ou mesmo a quebra da indústria de games nos anos 80 são bons exemplos de como as empresas podem ser irresponsáveis a ponto de comprometer toda uma indústria. Mas é preciso ter cuidado na hora de escolher culpados por problemas como este e, de maneira mais específica, entender que o contexto atual dos jogos eletrônicos é bem mais firme e diversificado do que era há três décadas. E, para além de tudo isso, é difícil pensar que os e-sports arruínem a jogatina casual: existe bastante espaço para ambas as modalidades e a indústria provavelmente está ciente disso.