Como funcionava o 3D do Nintendo 3DS?
Por Gabriel Cavalheiro • Editado por Jones Oliveira |

O 3D sempre foi um assunto muito discutido nas reuniões da Nintendo. A empresa já tentava emplacar a tecnologia desde seu primeiro console relevante, o Famicom. A Big N cometeu muitos tropeços nessa longa jornada em busca das três dimensões nos videogames, como o Virtual Boy — que foi um dos maiores fracassos da companhia —, até finalmente chegar ao Nintendo 3DS.
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Foi no sucessor do DS que a Big N conseguiu aperfeiçoar a tecnologia, aplicando inovações e aprendizados acumulados por décadas. Isso prova que a Nintendo não estava apenas seguindo a tendência de Hollywood em levar o 3D para o entretenimento, mas sim uma ambição antiga da própria companhia.
Mas, afinal, como o 3D do Nintendo 3DS realmente funciona? Como a Nintendo chegou a esse resultado e por quais tropeços a Big N precisou passar para entregar o recurso que se tornou uma assinatura do console?
Conheça a história da Nintendo com a tecnologia 3D e como o recurso funcionava no Nintendo 3DS.
História da Nintendo com tecnologia 3D
Embora muitos atribuam ao Virtual Boy o título de primeira experimentação do 3D pela Nintendo, a jornada da Big N começou bem antes, no Famicom, com o 3D System: um óculos com obturadores de LCD que foi lançado apenas no Japão.
O Famicom 3D System não decolou no Japão por ser desajeitado e, por isso, nunca foi lançado no Ocidente, embora já representasse os primeiros passos da empresa no 3D. Alguns jogos chegaram a ter suporte ao acessório, como Highway Star (Rad Racer), Falsion e Famicom Grand Prix: 3D Hot Rally — este último, o primeiro título em que Satoru Iwata e Shigeru Miyamoto de fato trabalharam juntos.
Curiosamente, um emulador chamado 3dSen, lançado na Steam em junho de 2025, permite transformar jogos do Nintendinho em uma aventura 3D. Ele basicamente converte os sprites 2D dos games em modelos 3D baseados em voxels.
Virtual Boy: um dos maiores fracassos da Nintendo
Deixando o Nintendinho para trás, a próxima "vítima" da ambição tridimensional da Nintendo foi o famigerado Virtual Boy. Lançado em 1995 no Japão e no Ocidente, o console não causou dores de cabeça apenas aos jogadores: também foi um grande desafio para a própria Nintendo.
O Virtual Boy era um console de 32-bits capaz de renderizar gráficos 3D estereoscópicos. Sua icônica tela vermelha e preta era visualizada através de um visor semelhante a um óculos e, para criar o efeito tridimensional, os jogos usavam o efeito parallax para simular profundidade.
Para jogar, o console precisava ser apoiado em uma superfície, como uma mesa, e os jogadores tinham que se inclinar para enxergar a tela. Além de ter sido um fracasso comercial astronômico, o Virtual Boy também causava dores de cabeça em quem jogava por muito tempo.
Apesar do fracasso retumbante, a Nintendo tirou grandes ensinamentos do Virtual Boy. "Enquanto óculos especiais forem necessários, o 3D é impossível", destacou o ex-CEO da Nintendo, Satoru Iwata, em uma entrevista de 2011 na qual desenvolvedores da empresa conversavam sobre o 3DS. Além disso, a Big N surpreendentemente irá trazer o Visual Boy de volta à vida no Nintendo Switch.
Nintendo testou o 3D no GameCube e GameBoy Advance
A entrevista com Iwata e outros representantes da Nintendo, como o lendário Miyamoto, também confirmou que o GameCube tinha um circuito que permitia visualizar jogos em 3D. Seria possível exibir as imagens com uma tela de LCD especial, mas o custo era muito alto na época — mais caro até que o próprio console. O ex-CEO revelou que Luigi's Mansion era compatível com esse acessório, que não exigia óculos. No entanto, o preço elevado foi o fator decisivo para que a Nintendo engavetasse o projeto.
Dois anos após o lançamento do GameCube, a Nintendo voltou a experimentar o sonhado 3D, desta vez em um portátil: o Game Boy Advance SP. Para quem não se recorda, este modelo era uma versão dobrável do Game Boy Advance, que ocupava menos espaço no bolso.
Foi neste portátil que a base da tecnologia do Nintendo 3DS surgiu. O problema era que, para gerar imagens tridimensionais visíveis a olho nu, era necessário um cristal líquido especial. Naquela época, porém, a resolução da tela de LCD do Game Boy Advance SP era muito baixa, o que impossibilitava a visualização do efeito 3D.
Por fim, em fevereiro de 2011, a Nintendo finalmente lançou seu primeiro console de sucesso com o sonhado 3D sem óculos. A tecnologia era revolucionária, já que, na época, tanto os cinemas quanto as TVs exigiam um acessório especial. Estamos falando do Nintendo 3DS que, apesar dos tropeços no início de seu ciclo e de uma performance comercial mais tímida em comparação ao estrondoso sucesso do Nintendo DS, marcou a indústria para sempre.
Como o 3D do Nintendo 3DS funciona?
Após anos de aprendizados e tentativas, a Nintendo finalmente integrou a tecnologia 3D a um de seus sistemas: o Nintendo 3DS. Mas, afinal, como funcionava essa "bruxaria" que não exigia nenhum acessório extra, como os famosos óculos?
Na verdade, a técnica é bem simples: o portátil exibia visualizações 3D estereoscópicas ao mostrar duas imagens distintas simultaneamente, uma para o olho esquerdo e outra para o direito. Para uma boa visualização, era necessário manter uma certa distância do console e olhar para a tela de frente.
O Nintendo 3DS tinha um botão deslizante que permitia regular a intensidade do 3D ou até mesmo desligá-lo completamente. Esse foi um grande acerto da Nintendo, pois os jogadores podiam personalizar sua experiência. Embora considerasse a tecnologia segura, a empresa recomendava que os usuários fizessem pausas a cada 15 minutos e não indicava o uso para crianças menores de 7 anos.
Embora muitos jogadores na época vissem o recurso como um gimmick passageiro, não demorou para que alguns jogos o utilizassem para agregar à jogabilidade. É o caso de Super Mario 3D Land, título conhecido por "salvar" o Nintendo 3DS de seu início conturbado.
Em Super Mario 3D Land, o efeito 3D fazia bastante diferença na hora de realizar saltos, pois adicionava uma percepção de profundidade às fases. Outros jogos, como Kirby: Planet Robobot, também fizeram um ótimo uso da tecnologia.
No fim, após décadas tentando emplacar o 3D em seus sistemas, a Nintendo finalmente integrou a tecnologia de forma primorosa ao Nintendo 3DS. Contudo, a ambição parece ter parado por ali, já que nem o Switch original nem seu sucessor fizeram uso de uma tecnologia parecida, focando na proposta de jogabilidade híbrida.
Mas quem sabe o que o futuro reserva? A Big N é conhecida por sua criatividade e inovação em hardware. Desde sempre, a empresa apostou em novas formas de jogar e fez sucesso com essa filosofia.
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