Assassin’s Creed Mirage é volta às origens em um jogo bem mais comedido
Por Durval Ramos • Editado por Jones Oliveira |

Com a proposta de ser uma volta às origens da franquia, o novo Assassin’s Creed Mirage é bem mais do que essa homenagem ao legado da série ao longo dos últimos 15 anos. A ideia de retornar para suas raízes no stealth e no parkour é também uma forma de enxugar o leviatã que a saga se tornou, repleta de mecânicas e recursos obtusos que afastaram os jogos do conceito original.
Não por acaso, a Ubisoft tornou este novo capítulo declaradamente menor. Nas palavras da diretora de narrativa da Ubisoft Bordeaux, Sarah Beaulieu, o game que chega aos consoles no dia 12 de outubro terá “um escopo e uma trama mais condensada” do que nos títulos passados, algo que fica evidente já na precificação. Ao contrário do que vemos nos lançamentos recentes, Mirage custará US$ 50 na versão Standard. No Brasil, ele custará R$ 210.
E isso está bem longe de ser encarado como um retrocesso ou passo para trás do estúdio com uma de suas séries principais. É uma correção de rota necessária para devolver a Assassin’s Creed sua essência não como um RPG, mas como um jogo focado em suas mecânicas de furtividade e de exploração transversal ao mesmo tempo em que brinca com as aulas de História.
Relembrando o básico
Durante uma apresentação realizada para a imprensa internacional, a Ubisoft detalhou como o ponto central de Mirage é fazer o jogador lembrar (ou conhecer) a essência do que é Assassin’s Creed — algo que estará presente tanto na jogabilidade quanto na narrativa. E, para que isso seja possível, diminuir a escala do jogo foi uma decisão fundamental. Por isso, o mapa colossal sai de cena para trazer um cenário bem mais contido em um jogo muito mais focado.
Na parte de mecânicas, isso se traduz em três elementos-chave: parkour, stealth e assassinatos. Quem é fã de longa data vai reconhecer esses pontos como a base da franquia, mas há de convir que os jogos mais recentes — principalmente de Origins para cá — se afastaram bastante dessa tríade para focar em elementos de ação à la The Witcher. Foi uma forma de renovar a saga, mas se afastando muito daquilo que tornou a série tão popular.
Para o diretor de animação, Benjamin Potts, a ideia era trazer esses aspectos de volta com a tecnologia e os recursos dos títulos mais modernos. Só que, para que essa lógica funcionasse, Assassin’s Creed Mirage não poderia manter a mesma escala megalomaníaca de Valhalla, por exemplo. A solução, portanto, foi encolher.
Nesse sentido, o retorno ao Oriente Médio foi fundamental. Mirage é ambientado na Bagdá do final do século 9, um momento em que a cidade era uma das maiores do mundo, o que permite que tenhamos tanto ruas estreitas e muito povoadas que se encaixam bem dentro daquilo que essa abordagem mais tradicionalista de AC exige. “Em uma cidade como Bagdá, o parkour é um elemento central nas capacidades transversais de Basim”, explica Potts.
Segundo ele, o objetivo de Mirage é trazer uma experiência que seja tanto acessível quanto fácil de dominar. A ideia é fazer o parkour algo atraente para o jogador durante as missões, seja para procurar uma abordagem furtiva na hora de se aproximar de um alvo quanto na hora de fugir de perseguidores.
Menor, mas preciso
E é aí que vemos Mirage retornar àquilo que Assassin’s Creed era em seu início. A demonstração apresentada pela Ubisoft mostrava o protagonista em uma missão de assassinar um capitão em uma área fortificada e o jogo oferecia várias opções de como cumprir esse desafio de forma silenciosa, seja explorando os telhados das construções para realizar um ataque fulminante dos céus ou se misturando à multidão para passar despercebido aos olhos dos guardas — uma mecânica que estava sumida da série há anos.
Da aproximação do jogador ao alvo ao ataque final e a fuga, tudo em Assassin’s Creed Mirage remete aos títulos iniciais da franquia — mais especificamente aos dois primeiros games. O foco da jogabilidade está na criatividade do jogador de encontrar soluções criativas para suas missões e não apenas a força bruta dos heróis.
De acordo com Potts, o looping central da jogabilidade consiste em investigar, caçar, atacar e escapar e, para isso, o tripé parkour, stealth e assassinatos volta ao centro de toda a experiência como há tempo não víamos.
Durante a demonstração, vemos Basim eliminar seu alvo com um único mergulho do telhado e todo o restante da sequência é destinado à fuga. O herói não é um guerreiro viking capaz de lidar com dezenas de soldados como se não fossem nada, mas um simples ladrão que entrou em uma ordem misteriosa e que precisa se virar para não morrer. E é aí que aquele velho DNA de Assassin’s Creed fala mais alto.
Essa cena de fuga remete bastante aos títulos protagonizados por Altaïr e Ezio, com o personagem correndo por vielas cheias de gente, pulando barracas e subindo em prédios enquanto se pendura e cordas e guindastes — tudo isso enquanto interage com objetos do cenário para criar obstáculos ou usa bombas de fumaça e armadilhas de seu arsenal para aumentar a distância.
Corrigindo o rumo
Fica claro que a grande novidade de AC Mirage não é criar algo inédito, mas resgatar aquilo que deu certo no passado e dar uma roupagem mais moderna em termos de animação e técnica. É quase como um remake dos jogos que colocaram Assassin’s Creed entre os grandes nomes dos games, mas ainda levando a história e o universo adiante.
É uma correção de rota mais do que necessária. Embora os últimos jogos da saga sejam muito bons, eles mostravam o quanto a série estava inchada e repleta de mecânicas cada vez mais exageradas. Das batalhas navais às batalhas campais, tudo parecia inflado e essa volta para o simples era o respiro que a franquia precisava.
Por isso tudo, Assassin’s Creed Mirage parece bastante promissor. Até porque a Ubisoft soube conciliar essa maior concisão de suas mecânicas com um preço equivalente que torna o novo jogo também bastante atraente para o bolso. Em uma época em que os jogos estão maiores e mais caros, uma aventura mais simples que vá direto ao ponto e não cause um estrago tão grande no bolso é um alívio.