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Análise | Uma Aventura Lego 2 é a evolução natural dos jogos da Lego

Por| 28 de Fevereiro de 2019 às 13h35

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Em 2014, o mundo foi surpreendido pelo lançamento de Uma Aventura Lego, um comercial com quase duas horas de duração que provou que a escalação de bons diretores, roteiristas e elenco é capaz de transformar até mesmo um comercial de venda de brinquedos em um dos melhores filmes do ano.

Cinco anos depois, Uma Aventura Lego 2 chegou aos cinemas fazendo bem menos barulho do que seu antecessor, mas a relação é invertida se formos considerar apenas os jogos de videogame: enquanto o primeiro Uma Aventura Lego não trazia nada muito diferente de todos os outros jogos da empresa, Uma Aventura Lego 2 se esforça para modificar o já manjado gameplay dos títulos da Lego e criar uma experiência relativamente nova até mesmo para os fãs mais antigos.

ATENÇÃO: esta análise pode conter alguns spoilers sobre a trama do filme Uma Aventura Lego 2, mas nada que irá atrapalhar a experiência de quem ainda não o assistiu.

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Assim como costuma acontecer em qualquer jogo baseado em filmes, Uma Aventura Lego 2 segue o mesmo enredo do longa.

A história se passa cinco anos depois dos eventos do primeiro filme, quando Bianca, a irmã mais nova de Finn (o garotinho do primeiro filme), começa a misturar seus brinquedos DUPLO (um Lego com peças maiores voltado para as crianças mais novas) com os Legos do irmão, o que cria uma situação de invasão alienígena em Blocópolis (a cidade onde vivem os personagens no primeiro filme/jogo), que se transforma em uma vila desértica, no melhor estilo Mad Max, e muda seu nome para Apocalipsópolis.

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Apesar do ataque ter deixado os moradores da cidade mais apreensivos, Emmet (o protagonista dos filmes) continua otimista como sempre — até o dia em que a cidade é invadida pela General Caos Legal, a comandante dos exércitos alienígenas. Ela sequestra diversos amigos de Emmet para levá-los ao sistema Manar, onde a rainha Tuduki Eukiser’Ser pretende forçar o Batman a se casar com ela.

Assim, Emmet é obrigado a construir uma espaçonave e viajar para salvar seus amigos. Durante a viagem, ele acaba encontrando o aventureiro Rex Perigoso, um guerreiro do espaço/treinador de velociraptores/cowboy e arqueólogo (que é uma clara alusão à carreira de filmes de ação de Chris Pratt, que no filme faz as vozes tanto de Emmet quanto de Rex) e ambos seguem juntos na jornada - mas cada qual com um objetivo diferente.

Evolução das pecinhas

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Ao começar a jogar Uma Aventura Lego 2, é fácil notar que ele é uma evolução do Lego Worlds lançado em 2017. Ao contrário do que acontece na maioria dos jogos Lego, Uma Aventura Lego 2 é um jogo de “mundo aberto” — entre aspas porque não é tipo GTA ou Assassin’s Creed, onde existe um único mapa enorme para ser explorado, mas sim diversos cenários menores que podem ser explorados para completar não apenas as missões principais que fazem a história avançar, mas também missões secundárias. Completar essas missões secundárias é importante para conseguir explorar o jogo ao máximo, menos pelas missões por si só — que consistem basicamente de matar um determinado número de inimigos ou coletar algum item em outro ponto do mapa —, mas pelas recompensas que se ganha ao completá-las.

Isso porque existem duas mecânicas distintas em Uma Aventura Lego 2 que torna essas recompensas algo importante. A primeira delas é a própria “divisão de regiões” usada no jogo: assim como em Lego Worlds, Uma Aventura Lego 2 também é dividido em diferentes “mundos” que podem ser acessados com o uso de sua nave espacial. Esses mundos têm relação não apenas a cenários do segundo filme da franquia (como a cidade de Apocalipsópolis e o campo de asteroides onde Emmet encontra Rex Perigoso), mas também cenários do primeiro filme (como o mundo Velho Oeste e o mundo Pirata). Para conseguir acessar esses lugares, é preciso coletar “peças mestras” — grandes blocos roxos de Lego que podem ser encontrados escondidos nos mapas ou recebidos como recompensa ao se completar uma missão. Essas peças são usadas para desbloquear os portais que dão acessos a esses diferentes mundos — existem mais de uma dezena deles no jogo, então desbloquear todos é uma tarefa que exige bastante paciência e dedicação.

A outra é, provavelmente, a que teve a mudança mais interessante quando comparado a outros jogos da franquia: a mecânica de construção.

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Enquanto nos outros jogos da franquia as construções eram algo automático (você quebrava itens do cenário, segurava um botão e o personagem magicamente construía alguma máquina perfeita para a situação), ou então ligado ao sistema de dinheiro do jogo (você usava pecinhas para “comprar” aquilo que queria construir), Uma Aventura Lego 2 apresenta uma evolução natural de ambos os sistemas.

Pela primeira vez há uma separação entre diferentes peças coletadas, e enquanto as “studs” ainda são pecinhas que se deve coletar pelo mundo e que servem como dinheiro, elas não são mais usadas para as mecânicas de construção. Em vez disso, foram introduzidas outras peças de formato cúbico (verdadeiros “blocos”, bem diferentes das studs em forma de moeda) e cores diferentes, que são usadas como “matéria-prima” do que você quer construir — poderia dizer que são, literalmente, blocos de construção.

Além disso, a construção em Uma Aventura Lego 2 exige um esforço mental maior do jogador — ou, no caso, qualquer esforço mental, já que a mecânica de construções nos primeiros jogos era tão básica que até mesmo meu cachorro dormindo certa vez bateu no controle e construiu um lança-chamas no LEGO Marvel Super Heroes. Ao invés de simplesmente construir exatamente aquilo que você precisa ao apertar um botão, Uma Aventura Lego 2 introduz a noção da “página de construções” — um caderninho onde ficam armazenados tudo o que você aprendeu como se constrói.

Assim, se você se depara com um lugar mais alto que não consegue acessar com um pulo simples, não basta apenas quebrar as coisas em volta e apertar um botão para o jogo construir uma escada, mas você precisa entrar na sua página de construções e encontrar alguma coisa que você pode usar para subir naquele lugar mais alto, como um pula-pula ou um jetpack. Cada construção exige um número diferente de “blocos de construção” de cada cor (por exemplo, o pula-pula só pode ser construído se você tiver uma certa quantidade de blocos rosa e blocos pretos), o que fará que você ainda fique andando pela fase quebrando tudo o que achar na frente para coletar esses bloquinhos e pensar um pouquinho mais para resolver os puzzles do jogo.

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Mas isso não quer dizer que o game está menos “infantil”, mas apenas que ele não está mais tratando as crianças como incapazes. Cada vez que se encontra os planos para construir uma nova estrutura, o jogo pausa e mostra um vídeo bem explicativo, com narração e texto em português — praticamente um tutorial do YouTube —, ensinando como aquele projeto pode ser construído e qual a utilidade dele. Em seguida, ele já coloca o jogador de cara com um “problema” que pode ser solucionado com a construção daquele objeto, convidando-o a construir por si só e entender como o sistema funciona. O jogo acredita que, a partir desse exemplo, o jogador entenderá como tal construção funciona e saberá que deve recorrer a ela caso, conforme avança no jogo, encontre outros obstáculos semelhantes.

Esse novo sistema de construção também introduz uma espécie de mecânica “meta” dentro do jogo, já que um dos mundos é um enorme descampado verde (igual aquelas bases que vinham nos kits Lego para criar casas) onde você deve construir o seu próprio mundo, criando lojas, residências, cafés, pizzarias, estátuas de louvor ao Deus Gato e tudo mais que você achar necessário para o desenvolvimento de uma cidade que não só seja um lugar legal para seus moradores como que também atraia mais pessoas para visitá-la.

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Outra introdução feita em Uma Aventura Lego 2 é algo muito menos divertido: as tão odiadas loot boxes. Enquanto explora o mundo, o jogador pode encontrar itens que são uma espécie de “caixinha”, que só podem ser abertos ao levá-los em uma loja. Eles podem esconder novos projetos de construção, roupas de personagem ou itens — um funcionamento praticamente igual ao das engrans em Destiny. Essas “caixinhas” também podem ser compradas na própria loja, mas apenas com o dinheiro próprio do jogo, não havendo nenhuma forma de comprá-las com “dinheiro real”, então, pais, podem ficar despreocupados neste ponto.

Apesar disso, a introdução de uma mecânica dessas pode indicar que a Lego tem a intenção de trabalhar com microtransações em seus jogos no futuro, e isso não é uma coisa nada legal — principalmente quando falamos de jogos voltados quase que exclusivamente para o público infantil. Fica o alerta!

Com exceção do que foi citado acima, o jogo ainda é praticamente igual a todos os outros da franquia Lego, onde você deve destruir bloquinhos e coletar coisas para avançar de fase. E, para aqueles que gostam de colecionáveis, Uma Aventura Lego 2 é um prato cheio: entre itens cosméticos, edifícios, projetos de máquinas, transportes e roupas de personagens, o jogo oferece milhares de itens que podem ser destravados pelo jogador, o que pode proporcionar quase uma centena de horas de jogo para aqueles que acham divertido ficar completando tabelas de coisas.

Tudo é incrível

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Uma Aventura Lego 2 é uma necessária evolução da fórmula de sucesso que já vem sendo repetido pela Lego há mais de uma década e oferece um jogo com complexidade suficiente para ser curtido não apenas por crianças, mas até mesmo por adultos. Assim como em qualquer jogo baseado em filme, não é necessário assisti-lo para entender o que está acontecendo na história — e, para ser franco, ainda que o filme de Uma Aventura Lego 2 seja legal, esse pode ser um dos raros casos em que o jogo se torna bem mais interessante que o próprio filme, e quem quiser desistir de assistir o longa para ficar apenas no jogo não estará perdendo nada.

Uma Aventura Lego 2 está disponível para PlayStation 4, PC, Xbox One e Nintendo Switch. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 com cópia cedida gentilmente pela Warner Bros Games.