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Análise | Bravely Default II é JRPG de alto nível, mas pede muito grind

Por| Editado por Jones Oliveira | 15 de Março de 2021 às 09h18

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Divulgação/Square Enix
Divulgação/Square Enix

O RPG japonês (ou simplesmente JRPG) foi um dos gêneros de maior sucesso na geração do PlayStation 2. Os motivos para isso são vários, mas um em especial está na jogabilidade simples que deixava espaço no disco para cenas cinemáticas com gráficos realistas (para a época).

Outras gerações vieram e o estilo acabou por ficar datado para muita gente, reservando os JRPGs, bem, para o mercado japonês. Atualmente, são poucos os bons títulos do gênero que ganham projeção mundial exatamente pelas mecânicas datadas.

Um dos nomes atuais que ganhou o gosto do público é a série Bravely Default. O jogo está na sua terceira entrada e, sim, eu sei que isso é um pouco confuso. O primeiro deles foi lançado em 2012, com uma continuação em 2015 chamada BravelySecond. A franquia também teve um game para smartphones em 2017, mas sem muito sucesso.

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Agora, em 2021, chega BravelyDefaultII, que ganha este número na frente por contar uma nova história (apesar de ser o terceiro efetivamente), apesar de ter todos os clichês (os piores e os melhores) de um JRPG que se preze.

A história gira em torno dos quatro personagens principais: um velejador chamado Seth (você pode dar um nome para ele também), a princesa sem reino Glória, um aprendiz chamado Elvis e a mercenária Adelle.

Os quatro partem para uma jornada em busca de recuperar os quatro cristais roubados do reino antigo de Musa, a região natal de Glória e que foi destruída. No total, os viajantes passam por cinco grandes reinos, nos quais precisam buscar por estes cristais e restaurar a ordem das coisas.

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O quarteto passa por boas histórias, grandes desafios e uma infindável sequência de diálogos como todo bom JRPG deve ser.

Tempero próprio

Como dito no início deste review, BravelyDefaultII se baseia nas características dos JRPGs, contudo o que faz este título ganhar projeção mundial está mais nos diferenciais dele. A começar, ele propõe um modo de batalha que é bastante singular, embora seja baseado em turno, como outros do gênero. O jogador conta com uma mecânica “brave/default”, que é o que dá nome à série. Funciona da seguinte forma: em qualquer momento, todos os integrantes da batalha (isso inclui inimigos) podem escolher adiantar até três turnos, fazendo quatro movimentos de uma só vez.

Isso permite que um jogador possa usar até 16 movimentos em uma mesma rodada com os quatro personagens. Parece até um pouco roubado, não é mesmo?

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Mas há duas contrapartidas. A primeira já foi citada: os inimigos também podem fazer isso e derrubar todos os seus personagens de uma só vez. Além disso, adiantar três movimentos significa que você vai ficar vulnerável pelas próximas três rodadas esperando novamente a sua vez de jogar.

Ainda existe uma segunda opção que é não fazer movimento nenhum nessa rodada e acumular até ter quatro movimentos "acumulados" para usar de uma só vez. Quando o jogador opta por não fazer nenhuma ação, o personagem entra em modo de defesa e recebe menos dano.

A proposta aqui é dar mais profundidade para o sistema de combate, exigindo controle de turnos. Por exemplo, os inimigos também podem resolver não atacar para acumular ações. Caso você não perceba isso, pode ter que lidar com quatro golpes de uma vez sem estar preparado para isso.

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A ideia é bem interessante e traz outra camada para o combate. Entretanto, tem um problema que será melhor esmiuçado mais para frente neste texto.

Classes à vontade 

Uma das questões dos JRPGs clássicos está nas classes predefinidas. Em BravelyDefault também existem funções claras para cada um dos quatro personagens, mas isso também é maleável.

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A narrativa do jogo apresenta um item chamado Asterisk. Trata-se de amuletos especiais com poderes mágicos capazes de transformar qualquer pessoa em um guerreiro com habilidades especiais.

Na prática, o que estes itens fazem é oferecer ações de mago branco, mago negro, guerreiro, ladino, entre outros. Como se trata de um item, ele também pode ser trocado livremente entre os personagens, sendo que cada um tem um Asterisk principal e outro secundário.

Ou seja, quer ter um grupo só de magos de ataque? Fique a vontade. Cada personagem tem um nível de capacitação com cada Asterisk, que oferece habilidades secundárias. Por exemplo, treinando todos os personagens como magos de suporte e colocando este Asterisk como secundário, eles podem usar magias de cura e apoio.

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A ideia é que você treine bem seus personagens para que eles possam exercer muito bem uma função e tenham uma segunda característica de suporte.

Transformar as classes em itens permite que mais classes possam estar no jogo sem que haja necessidade de mais personagens para o seu grupo. A decisão é acertada, tendo em vista que mantém a narrativa simples, oferecendo complexidade para a gameplay.

JRPG raiz (até demais) 

BravellyDeafultII é definitivamente um game para quem ainda gosta de JRPG, com todos os seus efeitos positivos e negativos. Por mais que o jogo tenha seus sabores e ofereça boa profundidade no combate, de resto ele é uma cartilha de boas práticas do gênero.

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O game traz uma história lenta, com bastante diálogo. O ponto positivo aqui é que a maioria das conversas principais (diria que uns 80% do total) não aparece só em texto, com voz dos personagens. Infelizmente, por conta disso, o jogo não tem uma opção com texto em português brasileiro.

O mundo de BravelyDefaultII é recheado de histórias paralelas e narrativas distintas com vários personagens não-jogáveis. Muitas das tramas, inclusive, só aparecem quando o jogador se envereda nas missões secundárias do jogo.

Aliás, aqui está um ponto negativo do título. As side quests não oferecem experiência diretamente, resultando apenas em itens e aprofundamento da história. Com isso, é difícil ter um bom motivo para fazer as missões secundárias que, na maioria das vezes, trazem itens que você pode comprar na loja. Algumas raras vezes, entregam itens que ajudam a aumentar o nível e características dos personagens.

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O principal problema de BravelyDeafultII (e do gênero como um todo) é o grind. Este é o jargão em inglês que representa a necessidade de “treinar” os personagens constantemente. O jogo tem uma série de inimigos especiais (de três a quatro por mundo) que você precisa enfrentar e que são realmente difíceis.

É aqui que toda beleza do sistema brave/default descrito anteriormente perde sua elegância. A ideia de poder adiantar ou guardar movimentos para as próximas rodadas vem para oferecer ferramentas para o jogador enfrentar inimigos que podem ser mais fortes que ele. Entretanto, não é isso o que acontece na prática.

Como um clichê do gênero, existe o “chefão que mata toda sua equipe com um golpe só”. Aqui, não existe estratégia, mas somente a ideia de que você precisa fortalecer sua equipe, com itens e habilidades melhores, para enfrentar esse inimigo.

De modo prático, isso é benéfico para os desenvolvedores que conseguem colocar mais água no feijão da gameplay. Via de regra, jogadores têm o hábito de elogiar jogos que rendem a eles mais tempo de gameplay (principalmente, tendo em vista o custo dos games).

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Para fechar a campanha principal de BravellyDefaultII, são necessárias 40 horas, das quais facilmente metade é grind. Veja bem, a crítica aqui não está na extensão do título, mas a simples repetição de matar inimigos aleatórios para elevar o nível do personagem não parece um bom investimento de tempo. Uma mecânica que parece perdida no tempo, mas que continua em voga por beneficiar os desenvolvedores.

O grind não seria exatamente um problema se o jogador precisasse treinar a equipe para enfrentar inimigos especiais. O problema está nos inimigos da campanha principal. A cada hora de gameplay, é possível que se encontre um oponente forte demais para combater, exigindo uma horinha de treino.

Design

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Outro diferencial de BravelyDeafultII é sua ambientação. O game conta com um tipo de cenário prerrenderizado (também típico do gênero) que permite fazer verdadeiras pinturas. Todas os cinco reinos contam com ambientes feitos à mão e uma mecânica que permite ver toda região de uma só vez. Isso cria uma vontade extra de chegar à nova cidade, só para poder ver a pintura que são os cenários.

Além disso, os personagens também são bastante interessantes e bem destalhados. Um dos pontos mais legais deles está nos Asterisk. A troca de itens para uma nova classe significa também todo um visual novo para cada um dos personagens.

Vale a pena? 

Bravely Default II é um jogo encantador em vários sentidos. A história que ele quer contar não é exatamente a mais surpreendente do mundo dos games, mas tem seu sabor.

O esquema de batalha é realmente interessante e permite uma série de estratégias diferentes. Além disso, modificar e experimentar as classes distintas também é outra diversão.

Por outro lado, é um jogo muito direcionado para os amantes de um JRPG clássico. Se você tem preguiça de um título que usa e abusa de grind para aumentar as horas de gameplay, BravelyDefaultII não é para você.

Ele tanto reconhece a repetição que há uma série de botões que aumentam a velocidade dos movimentos e pulam animações de entrada das batalhas. Ou seja, os desenvolvedores sabem que é preciso treinar repetidamente.

Talvez fosse interessante equilibrar melhor isso, modernizando um gênero que ainda vive de mecânicas do passado. Se você é um amante de JRPGs, vai fundo que este título certamente é para você.

Bravely Default II foi desenvolvido pela Claytechworks e publicado pela Square Enix exclusivamente para o Nintendo Switch em 26 de fevereiro. Esta análise foi realizada com uma cópia cedida pela publicadora.