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Campus Party: jornalistas de games falam sobre desafios da área

Por| 31 de Janeiro de 2014 às 16h31

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Renato Bazan
Renato Bazan

Ontem à tarde (30), o palco Stadium foi cenário para uma discussão acerca dos rumos do jornalismo de games e, principalmente, dos desafios que, depois de 20 anos no mercado e da chegada internet, a categoria precisa enfrentar. Théo Azevedo, editor do UOL Jogos, Pablo Miyazawa, editor da revista Rolling Stone, João Coscelli, do blog Modo Arcade, do Estadão, e Pedro Zambarda, do TechTudo, discorreram sobre como a adoção de novos formatos de mídia – abordando como jogadores aproveitam conteúdo, a crise do impresso, a obrigação de se criar novas maneiras de monetização e a redução de vagas em redação – afeta uma área do jornalismo que está sendo especialmente atingida pela democratização do conteúdo.

Conversamos por e-mail com Théo Azevedo, João Coscelli e Pedro Zambarda para entender melhor como esses novos desafios se aplicam aos profissionais aspirantes que querem adentrar ao aparentemente mágico mundo da cobertura de games.

Canaltech: O que vocês acreditam ser preciso para começar uma carreira em jornalismo de jogos?

Théo Azevedo: Não existe um caminho definido. Pergunte a dez jornalistas que trilharam este caminho sobre o início da carreira de cada um e você terá dez histórias diferentes. Mas, ao meu modo de ver, há características fundamentais: bom texto, conhecimento sobre o assunto, vontade fazer algo diferente do que se vê por aí, proatividade, disposição para conhecer o mercado e o público e, de preferência (mas não que seja obrigatório), formação em Jornalismo ou outros cursos de Comunicação Social.

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Pedro Zambarda: Criar um blog é uma boa ideia, fazer faculdade de jornalismo é outra e ter uma visão "gamificada", pra mim, é a melhor opção. Hoje em dia, games não ficam restritos aos consoles, nem aos PCs e nem aos smartphones. Experiências de videogame servem para fins de pesquisa, educação e até para fazer ativismo político. O que é preciso para começar nessa carreira é entender que Games é um nicho, que se desdobra em outros nichos. Há espaço para cobertura séria, descontraída, acadêmica, mercadológica ou mesmo multimídia. A internet é um terreno fértil para essas pautas, mas torço para que os games se mantenham ativos de alguma forma nas mídias impressas, radiofônicas e televisivas.

João Coscelli: Gente nova é sempre muito bem vinda. O problema é que não há vagas, nem nos games, nem nos esportes, nem em nada. Acho que o primeiro passo é se manter bem informado sobre o assunto que você quer cobrir. Jornalismo é apurar, identificar informação relevante e escrever bem, mas também é conhecer o seu objeto de trabalho. Por isso, leia, escreva, acesse, faça tudo para se informar o máximo possível e sobre a maior gama de assuntos possíveis. Outro ponto importante é "aparecer", ou seja, publicar, seja num blog, no Facebook, em alguma publicação que abra espaço... A chave é abrir e às vezes até criar o seu espaço, pois as poucas vagas que existem no mercado são destinadas a quem de fato está disposto e interessado. É como eu digo: tem que ir para a chuva se molhar.

Na Campus Party, jornalistas de games falam sobre os desafios da área (Foto: Renato Bazan)

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Você acredita que começar um blog é um bom primeiro passo? Não há um perigo de acabar adquirindo vícios?

TA: Diria que um bom primeiro passo é ser publicado. E aí pode ser num blog, no Facebook, num site próprio, no YouTube, etc. Currículo não importa muito nessa área, mas sim o que você é capaz de fazer. E não, não acho que adquirir vícios seja um perigo neste caso; adquirimos vícios em quaisquer circunstâncias, então não vejo o blog como um risco maior ou menor nesse sentido.

PZ: É um bom passo, mas não é uma receita de bolo para o sucesso. Há muitos blogs especializados no assunto e é difícil competir com todos eles. Acho que o blogueiro, se ele quer fazer jornalismo, deve ficar atento aos princípios de precisão e de relevância da informação, fundamentais no ofício. Se ele pretende fazer outras coisas, daí entramos nas questões do entretenimento, que são um pouco desconectadas do jornalismo. Tudo depende do que a pessoa pretende fazer como comunicador.

Agora, se o cara começou a fazer um blog na área, e começa a fazer algum sucesso na internet, normalmente tem duas opções: focar em fortalecer o veículo ou fortalecer o nome dele e entrar em uma redação fixa ou remota de jornalismo. Os dois caminhos são muito comuns, válidos e ajudam a acumular um bom portfólio de entrevistas, de reportagens e de apuração. Ter uma opinião analítica também é bem vindo, em qualquer caminho, porque enriquece a informação. Mas opinião sem fundamento não ajuda muito.

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JC: O blog deve ser encarado como um projeto experimental, de exercício, não como algo definitivo. Deve servir para exercitar o texto, eventualmente a apuração se houver algum trabalho de reportagem e dar os primeiros passos nesse mundo (vale para youtuber e podcaster também). Mas de fato é interessante ter um "mentor", que seria o editor do veículo onde o jornalista trabalharia. Com o tempo, o jornalista vai se adaptando e aprendendo como fazer o trabalho. Pode ser que vícios sejam adquiridos sim, e por isso é interessante manter só como um projeto experimental.

Que expectativas um aspirante a profissional da área tem que deixar de lado se quiser trabalhar com isso?

TA: De ganhar bem, de ter uma carreira estável, perfeitamente definida numa zona de conforto. Mas isso é jornalismo, certo? Ninguém vai ficar rico nessa área, e Games não é exceção. Também é preciso ter consciência que você provavelmente não vai produzir conteúdo apenas sobre o que gosta e da maneira como acha certo fazê-lo, e sim conforme o público-alvo e as expectativas do seu empregador.

PZ: O mercado de jornalismo é instável. Paga-se pouco e há poucas vagas. Mas há uma meritocracia que favorece os bons talentos e é um nicho composto por jovens, com muita coisa pra criar e fazer. Espero que o fortalecimento do Brasil nos videogames ajude os veículos de comunicação a captar novos patrocinadores e anunciantes, abrindo espaço para novos repórteres. Não adianta eu ficar insistindo que não ganharemos tanto. Se a gente fortalecer a mídia de games, ela pode, sim, melhorar.

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JC: A primeira e mais importante é um salário astronômico, que não existe no jornalismo. A segunda é que cobrir games não é passar o dia jogando para escrever sobre o game depois – isso até ocorre, mas não é tão divertido assim. E por último que se trata de um trabalho fácil. Como todo tipo de jornalismo, requer muita apuração e vontade pra ir atrás da informação.

Nesse atual jornalismo de games, qual o maior desafio para os profissionais atuantes?

TA: Renovação constante. Os games se transformam o tempo inteiro, assim como a internet, então cair numa zona de conforto ou acomodar-se, embora às vezes seja tentador, deve ser evitado a qualquer custo. E, por fim, pensar fora da caixa é importante – ou seja, não se preocupar apenas com o dia de hoje ou mês atual, mas sim em qual direção seguir num futuro próximo, para continuar relevante e competitivo.

PZ: O maior desafio é abordar games de uma forma que atraia os fãs e até as pessoas que não jogam videogame. Esse desafio inclui mostrar sim que videogames são cultura, arte, interatividade e parte importante e atuante do futuro tecnológico. O profissional deve encarar isso com entusiasmo, mas mantendo a visão crítica que favorece bons textos e materiais para os leitores. E pode, sim, se divertir fazendo esse trabalho. Diversão não é a coisa principal, mas faz parte.

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JC: Para mim, o maior desafio é fazer um conteúdo diferenciado e ainda assim interessante. Todo mundo faz review, vídeo de gameplay e cobre as notícias do dia-a-dia, e é fazer algo único, que ultrapasse os limites da mesmice, que o jornalista deve buscar. Às vezes isso nem sempre é possível, pois a cobertura tem que atender à agenda e, querendo ou não, metas de audiência ou de publicidade, mas sempre que possível esse objetivo deve ser buscado. O melhor jeito de exercitar isso é pensar: o que o meu leitor vai gostar de ler, assistir, ouvir e ver? É para ele que o jornalista escreve e se ele tiver um trabalho comum, igual ao de todos os outros, não é necessariamente o seu que ele vai ler.