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As bolas da Copa do Mundo e suas tecnologias

Por| Editado por Wallace Moté | 24 de Outubro de 2022 às 08h00

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Divulgação/Adidas
Divulgação/Adidas

A Copa do Mundo da FIFA chega à sua 22ª edição em 2022, tendo como sede o Catar, um dos países do Oriente Médio. Seguindo a tradição de cada edição, o evento deste ano contará com uma bola preparada especialmente para a ocasião, revelada em março — a Al Rihla, ou do árabe "a jornada", desenvolvida pela Adidas. A novidade embarca inúmeras tecnologias pensadas para tornar o jogo mais rápido, mas essa nem sempre foi a situação.

Ao longo dos 92 anos de existência do campeonato, a preocupação com o conforto e a performance das bolas foi surgindo lentamente, conforme o futebol ganhava mais importância, as tecnologias evoluíam e novas regras foram sendo estabelecidas. Conheça um pouco mais de cada uma delas e os avanços que trouxeram ao jogo a seguir:

Tiento e T-Model (Uruguai, 1930)

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Ocorrida no Uruguai, em 1930, a primeira Copa do Mundo não possuía necessariamente uma bola oficial, mas as duas mais conhecidas foram a Tiento, produzida pelo Argentina, e a T-Model, fabricada pelo Uruguai, utilizadas na final entre os dois países.

A decisão de utilizar a dupla veio após uma discussão entre as duas nações, que queriam ser as responsáveis pelo equipamento. No fim, foi selado um acordo em que cada uma foi utilizada em um dos tempos do jogo.

Ainda na "juventude" do futebol, as bolas não contavam com tecnologias avançadas. Ambas eram feitas à mão em couro, com costura espessa e bexiga interna, ficando mais pesadas debaixo da chuva e causando problemas em jogadas aéreas. Outro efeito colateral da fabricação manual era a diferença que podia haver entre uma unidade e outra.

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Federale 102 (Itália, 1934)

A segunda edição do campeonato foi realizada na Itália, em 1934, e trouxe algumas evoluções à bola. Desta vez houve um modelo oficial — a Federale 102. Ainda fabricada à mão em couro, o equipamento contava agora com costura em algodão para ficar mais macia, e trouxe ajustes nos gomos para apresentar formato mais esférico.

Novamente, por ainda terem fabricação manual, havia diferenças entre as unidades da bola, a ponto dos capitães dos times escolherem uma entre uma seleção antes do jogo. A bexiga interna também foi mantida, incentivando o uso de proteções para a cabeça.

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Allen (França, 1938)

A bola oficial da terceira Copa do Mundo, sediada na França, foi desenvolvida pela Allen, cujo nome foi dado ao equipamento. Mesmo trazendo aprimoramentos na costura, que a fizeram mais arredondada, a Allen seguia sendo fabricada manualmente, desta vez em tons mais escuros que as antecessoras.

Apesar das melhorias, a bola não teve um formato padronizado — fotos da época mostram que diferentes modelos que possuíam entre 12 e 18 gomos foram utilizados, o que também devia afetar a quantidade de ar inserida.

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Duplo T (Brasil, 1950)

Em virtude da Segunda Guerra Mundial, a Copa do Mundo só voltou a acontecer após 12 anos, em 1950, com sede no Brasil — ano que também ficou marcado pela derrota da seleção brasileira na final contra o Uruguai, no estádio do Maracanã.

O período sem o evento levou a mais avanços tecnológicos, com destaque para a substituição da bexiga interna por uma válvula inflável, o que não apenas reduziu problemas em jogadas aéreas, como também eliminou a necessidade de costuras externas e facilitou o processo de enchimento, já que não era mais preciso descosturá-la. A Copa de 1950 também foi a primeira a ter uma única bola em todos os jogos, com formato padronizado de 12 gomos.

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Swiss World Champion (Suíça, 1954)

Sediada na Suíça, a Copa de 1954 utilizou a Swiss World Champion, primeira padronizada pela FIFA munida de 18 gomos, pensados para garantir formato mais arredondado.

Também foram destaques os gomos mais externos, que formavam uma letra "T", a costura em "zigue-zague" e a cor amarelo, marcando a primeira mudança radical de tonalidade desde a primeira edição do campeonato.

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Top Star (Suécia, 1958)

A edição de 1958 ocorreu na Suécia e teve a Top Star como bola oficial, primeira a utilizar 24 gomos. O modelo também foi o primeiro totalmente fornecido pela FIFA, que reuniu autoridades suecas e representantes do órgão para selecionar uma opção em uma seleção de 100 bolas diferentes. Outro ponto curioso é que cada time recebeu 30 unidades da Top Star, mas a seleção brasileira solicitou um número maior.

Crack (Chile, 1962)

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A Copa do Mundo de 1962 aconteceu no Chile, com a Crack como bola oficial. O modelo retornou ao padrão de 18 gomos, e trouxe como inovação o uso de uma válvula de látex, mas foi rodeada de polêmicas pela qualidade.

Relata-se que algumas seleções, especialmente europeias, não receberam bem o equipamento, que supostamente ficava mais pesado sempre que houvesse chuva, como as bolas mais antigas.

Os rumores indicam ainda que o material utilizado desbotava ao ser mantido sob o sol. Os times da Europa teriam chegado a encomendar um lote de unidades da Top Star, a bola oficial do torneio anterior, para seguir jogando.

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Challenge 4-Star (Inglaterra, 1966)

Fabricada pela Slazenger, hoje responsável por bolas de tênis, a Challenge 4-Star foi a bola da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra.

Essa edição possui múltiplas curiosidades: a bola foi a última a ser feita de couro em tom de marrom/laranja, e participou de um processo de seleção similar à da Top Star, superando 111 modelos diferentes.

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A Challenge 4-Star também foi a primeira a ter uma versão diferente para a final, e embarcava 25 gomos, o maior número até o momento.

Telstar (México, 1970)

A Copa do Mundo de 1970, no México, foi a primeira a ter uma bola oficial produzida pela Adidas — que se tornaria a fabricante oficial desde então, com contrato estabelecido até a Copa de 2030. Para essa edição, a empresa produziu a Telstar, recheada de mudanças, a começar pelo visual.

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Com 32 gomos, esta foi a primeira bola a trazer um esquema de cores em preto e branco, pensado para facilitar a visibilidade pela televisão, que ainda não possuía cores na época. Esse também foi a razão por trás do nome Telstar, uma abreviação de "Television Star" (ou Estrela da Televisão, em tradução livre).

Telstar Durlast (Alemanha, 1974)

A Copa do Mundo da Alemanha, em 1974, trouxe uma versão ligeiramente melhorada da Telstar, chamada Telstar Durlast. Não houve mudanças bruscas, apenas aprimoramentos na tecnologia Durlast, que ampliaram a resistência da bola à água.

Tango (Argentina, 1978)

Nomeada em homenagem à famosa dança argentina, a Tango foi a bola oficial da Copa do Mundo realizada no país sulamericano, contando com algumas novidades interessantes.

Apesar de trazer similaridades com a Telstar, a bola oficial do torneio na Argentina era munida de 36 gomos, e substituiu as placas pretas por brancas com uma espécie de "triângulo arredondado", as tríades, dando um novo efeito visual ao rolar pela grama. Foi ainda a última a ser fabricada em couro.

Tango España (Espanha, 1982)

Sediada na Espanha, a Copa do Mundo de 1982 teve a Tango España como bola oficial que, como o nome sugere, é bastante similar à Tango do campeonato anterior. A principal novidade por aqui é a adição de costura impermeável, impedindo que a água da chuva aumentasse o peso da bola. Outro ponto curioso é a adição do logo de trevo da Adidas.

Azteca (México, 1986)

A bola oficial da Copa do México, em 1986, foi a primeira a agregar elementos culturais do país-sede, sendo chamada Azteca, uma homenagem ao império dos povos nativos que residiam na região antes da colonização. O modelo foi o primeiro 100% sintético, o que aumentou a resistência, tornou-a mais impermeável e melhorou sua elasticidade durante os chutes.

Etrusco Unico (Itália, 1990)

A Etrusco Unico, da Copa do Mundo da Itália de 1990, seguiu a tendência de homanegear elementos da cultura do país-sede, desta vez fazendo referência aos Etruscos — povo que habitava a região que veio a se tornar a Itália.

Na bola, foi adotado o símbolo de três cabeças de leão dessa civilização, bem como uma camada de poliuretano que reforçou a resistência à água, aspecto que marcou o aumento nos investimentos em tecnologias no equipamento.

Questra (EUA, 1994)

A bola oficial da Copa do Mundo Dos EUA de 1994, a Questra (referência à frase "the quest for the stars", ou a busca pelas estrelas, em tradução livre), homenageou a NASA, a agência espacial norte-americana, empregando diversos desenhos de estrelas e outros corpos celestes. A novidade da vez foi a adição de uma camada de polietileno, que aumentava a velocidade da bola durante chutes.

Tricolore (França, 1998)

Primeira a utilizar múltiplas cores nas tríades — motivo que a levou a ser chamada Tricolore —, a bola oficial da Copa do Mundo de 1994, na França, foi a última a utilizar essas formas geométricas. Sua principal novidade tecnológica foi a adição de uma camada extra de espuma sintética, que a tornou mais resistente e distribuía melhor a energia dos impactos pelo corpo.

Fevernova (Coreia/Japão, 2002)

A Copa do Mundo de 2002 foi a primeira a contar com dois países-sede, a Coreia do Sul e o Japão. Para a ocasião, a Adidas preparou a Fevernova, uma das bolas que mais se destacou até aquele momento, trazendo um visual renovado com triângulos nas cores verde, vermelho e dourado.

O modelo empregou diversas camadas extras, incluindo uma nova espuma sintética, apresentando maior velocidade, ponto bastante notado pelos jogadores.

Teamgeist (Alemanha, 2006)

A Teamgeist, ou do alemão "espírito de equipe", marcou uma das maiores mudanças visuais das bolas da Copa do Mundo. Modelo oficial da edição da Alemanha, em 2006, o equipamento possuía 14 painéis fixados praticamente sem costura, o que aumentou ainda mais sua impermeabilidade e leveza, chegando a receber críticas de alguns jogadores.

Outro aspecto único da bola foi seu elevado nível de personalização: a Teamgeist ganhava um visual diferente a cada jogo, e incluía o nome dos times, o local, a data e o horário da partida. Para a grande final, a Adidas preparou uma edição especial com tons de dourado.

Jabulani (África do Sul, 2010)

Uma das bolas mais polêmicas da história das Copas do Mundo, a Jabulani foi o modelo oficial da edição da África do Sul, em 2010. Contava com apenas 8 gomos, e era extremamente leve, sendo duramente criticada pela sua trajetória incerta no ar, especialmente por goleiros. Estudos feitos pela NASA revelaram que, graças ao design liso, praticamente sem costuras, a bola da Copa sulafricana aumentava a aceleração em jogadas aéreas.

A Jabulani contava com 11 cores diferentes, uma homenagem aos diferentes dialetos e etnias do país, e também recebeu uma edição especial em cor dourada para a partida final, chamada Jo'bulani.

Brazuca (Brasil, 2014)

A Copa do Mundo do Brasil, em 2014, teve como bola oficial a Brazuca, primeira da história a contar com apenas 6 gomos. Segundo a Adidas, essa bola também foi a mais testada, durante os 2 anos que precederam o campeonato, para garantir que as falhas apontadas na Jabulani não fossem repetidas.

Mais de 600 jogadores e 30 clubes tiveram a oportunidade de avaliar o modelo, cujo design foi inspirado nas fitas do Senhor do Bonfim. Com a adição de rugosidade nas placas, a Brazuca teve maior estabilidade nos disparos, e foi melhor recebida pelos atletas.

Telstar 18 (Rússia, 2018)

Para a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, a Adidas decidiu repaginar a lendária Telstar, trazendo à competição a Telstar 18. De volta aos 32 gomos, a bola oficial do torneio reutiliza o preto e branco como cores principais, ainda que haja um padrão de mosaico nas placas pretas.

Além de utilizar materiais reciclados diante do maior foco à sustentabilidade, preocupação que ganhou espaço com o avanço desenfreado do aquecimento global, a Telstar 18 embarcou tecnologias bastante avançadas, como chip NFC para fornecer desafios e outras experiências interativas aos consumidores.

Al Rihla (Catar, 2022)

A bola oficial da Copa do Mundo do Catar, realizada em novembro de 2022, foi anunciada em março: a Al Rihla, ou do árabe "a jornada". Com 20 gomos e design inspirado na bandeira do país do Oriente Médio, o modelo estendeu os esforços da Adidas em implementar materiais sustentáveis, com componentes cuidadosamente selecionados e, pela primeira vez em uma bola da Copa, tinta e cola produzidos à base d'água.

A Al Rihla emprega ainda um novo núcleo, o CTR-Core, adotado para aumentar a precisão, e embarca uma superfície de poliuretano com diferentes texturas para garantir maior estabilidade, velocidade e precisão. Outro fator inédito é que 1% das vendas da novidade será revertido para o Common Goal, movimento de caridade que busca usar o futebol como ferramenta para atender a diferentes questões sociais.

Fonte: Adidas, Goal, Allog, Río Negro