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EUA monitora cidadãos secretamente com código escondido em apps, revela jornal

Por| 10 de Agosto de 2020 às 13h39

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Markus Spiske/Pexels
Markus Spiske/Pexels

Enquanto acusa a China de espionar usuários de redes sociais, o governo dos EUA rastreia informações dos celulares de seus próprios cidadãos por meio de um código inserido em pelo menos 500 aplicativos, revela uma reportagem do renomado Wall Street Journal.

Segundo a publicação, a empresa Anomaly Six paga a desenvolvedores para inserirem um código de rastreio nos apps. Com isso, ela coleta informações anônimas dos celulares, que são vendidas ao governo do país norte-americano. A companhia não revela quais apps contêm seu código, e aparentemente nenhuma das aplicações em si informa sobre a parceria em seus termos de uso.

O rastreio aparentemente é legal, mas nada transparente. Pelo contrato da Anomaly Six, não há obrigação de divulgar quais apps são parceiros comerciais da empresa, assim como os próprios desenvolvedores não têm de informar que inseriram o código na programação. Isso tudo, porém, não impede que a prática seja questionada.

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Dados anônimos, mas identificáveis

A reportagem deixa claro que os dados, coletados por meio de um código alfanumérico existente para cada unidade de celular fabricado no mundo, são anônimos. Informações pessoais, como nome, idade ou mesmo gênero de quem utiliza o aparelho não são ligadas a esse código, mas há como identificar o dono de determinado dispositivo apenas usando um pouco de lógica.

Quando vamos dormir, geralmente deixamos o celular próximo, no mínimo na mesma casa onde estamos. Considerando que geralmente dormimos em nossa própria casa, é só cruzar os dados de localização de um aparelho com os do nosso lar. Combinando isso com informações como local de trabalho ou estudo, não é uma tarefa tão difícil identificar o dono de um smartphone. A partir daí, espionar pessoas selecionadas com o rastreio feito pela Anomaly Six se torna uma tarefa relativamente simples.

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Uma vez que provavelmente não há muita distinção entre os apps distribuídos na Play Store ou na App Store dos EUA e do restante do mundo, não seria loucura imaginar que nossos dados aqui no Brasil também são coletados pela Anomaly Six. Se são repassados ao governo de lá, aí é outra história, mas é plausível crer que essa possibilidade existe.

Rastreio é legal, mas será ético?

Os dados tecnicamente não são utilizados para fins comerciais, em publicidade ou afins, então o rastreio feito pela Anomaly Six é legal perante a legislação dos EUA. O problema é mais uma questão de ética e moral: não há transparência, não há sequer como saber quem é rastreado, quais aplicativos possuem o código, nada.

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Se não sabemos que aplicativos coletam dados para a companhia, muito mais difícil é descobrir o que o governo do país norte-americano faz com eles. Pode ser para motivos teoricamente nobres, como garantir a segurança nacional ao rastrear potenciais terroristas, ou pode ser simplesmente para xeretar a vida dos cidadãos — e as duas coisas podem estar ligadas, inclusive.

O que abre espaço para uso puramente político, como usufruir dessas informações para saber que cidadãos ou regiões do país são mais propensos a votar ou não em um candidato.

Anomaly Six não se manifesta

A Anomaly Six não pretende responder a nenhuma destas questões nem sequer é obrigada a isso. A empresa alega que seus negócios são confidenciais, apesar de não necessariamente secretos, e só pode revelar qualquer informação com autorização de seus parceiros comerciais. Os apps podem até liberar a publicação das informações, mas não podemos esperar o mesmo do governo.

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É irônico, porém, que enquanto os EUA coletem dados sem consentimento ou conhecimento dos usuários, por mais que sejam anônimos, Trump acusa a China de espionar quem usa uma rede social, como o TikTok ou o WeChat, ou mesmo um dispositivo eletrônico ou rede de dados, como no caso da Huawei.

A verdade é que o único jeito de escapar da espionagem digital é não usar nada que se conecte à internet. Em outras palavras, as opções parecem ser cada vez mais escolher o conforto que a tecnologia proporciona e ter dados coletados por empresas e governos ou viver como o ser humano vivia até meados do século 20.

É claro, porém, que optar pela primeira alternativa não nos impede de brigar para que não sejamos espionados.

Fonte: Wall Street Journal