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Telescópio com espelho líquido na Lua poderia estudar as primeiras estrelas

Por| 19 de Novembro de 2020 às 09h15

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Miguel Claro
Miguel Claro

Por mais poderosos que os telescópios modernos sejam, eles ainda não conseguem estudar as primeiras estrelas que se formaram no universo. Assim, uma equipe de astrônomos da Universidade do Texas retomou uma ideia de telescópio que havia sido elaborada há uma década, mas foi descartada pela NASA, e pode ser útil para resolver este problema: um telescópio com espelho líquido que seria construído na Lua e iria operar por lá para estudar os primeiros momentos após o Big Bang.

As estrelas de População III são as primeiras do universo, que se formaram há cerca de 13 bilhões de anos a partir de uma mistura de hidrogênio e hélio. Além disso, elas são bem maiores que o Sol e não podem ser estudadas pelos telescópios modernos que já temos — nem mesmo o poderoso telescópio espacial James Webb, que poderá alcançar as primeiras galáxias formadas, iria conseguir estudá-las. Então, Anna Schauer, pesquisadora líder do novo estudo, calculou que um telescópio com espelho líquido na superfície da Lua seria capaz de estudá-las.

Essa ideia não é nova: o conceito foi proposto em 2008 por uma equipe liderada por Roger Angel, da Universidade do Arizona, e recebeu o nome de Lunar Liquid-Mirror Telescope (LLMT), mas na época, a NASA analisou a proposta e decidiu não dar continuidade ao projeto. Segundo Niv Drory, pesquisador sênior, a ciência do apoio às primeiras estrelas ainda não existia naquela época. “Esse telescópio será perfeito para esse problema”, diz ele.

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Desta vez, o conceito apresentado pela equipe recebeu o apelido de “Ultimately Large Telescope”, e consiste em um espelho com 100 m de diâmetro que funcionaria de forma autônoma na superfície lunar. Por ser mais barato e mais leve de transportar, o espelho seria feito de um tanque giratório com líquido, com superfície de líquido metálico e refletivo, e o tanque iria girar de forma contínua para manter a superfície do líquido na forma necessária para ser utilizado como espelho. Para que tudo isso funcione, o telescópio seria alimentado por energia solar de uma estação também na Lua, e os dados seriam transmitidos para a Terra através de um satélite na órbita lunar.

Este telescópio seria estacionário e ficaria dentro de uma cratera em algum dos polos da Lua, e para poder coletar o máximo possível de luz das estrelas, ele teria que ficar voltado para a mesma área do céu. Volker Bromm, pesquisador que estuda as primeiras estrelas, explica que a luz desses astros antigos está além da capacidade dos telescópios que temos ou que teremos no futuro. “Portanto, é importante pensar neste telescópio ‘final’, que seria capaz de observar diretamente essas estrelas no limite do tempo”.

Agora, a equipe propõe que a comunidade astronômica analise novamente o plano arquivado do telescópio lunar de espelho líquido como uma forma de estudar as primeiras estrelas do universo; afinal, elas são partes importantíssimas da história do cosmos. “A emergência das primeiras estrelas marca uma transição crucial na história do universo, onde as condições primordiais estabelecidas pelo Big Bang deram iníico a uma complexidade cósmica, e eventualmente trouxe vida aos planetas e seres inteligentes como nós”, conclui Bromm.

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O artigo com os resultados do estudo será publicado na revista The Astrophysical Journal, e já pode ser acessado aqui.

Fonte: Futurism, McDonald Observatory