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Superterra encontrada em 2018 pode ser, na verdade, sinal estelar "disfarçado"

Por| Editado por Patricia Gnipper | 21 de Maio de 2021 às 13h30

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Reprodução/ESO/M. Kornmesser
Reprodução/ESO/M. Kornmesser

Em 2018, uma equipe de astrônomos identificou oscilações da luz da Estrela de Barnard, uma anã-vermelha a 6 anos-luz de distância de nós. Com estes dados, eles encontraram evidências de uma superterra na órbita da estrela, que teria cerca de três vezes a massa da Terra e seria fria demais para abrigar vida. Mas, agora, outros pesquisadores revisaram os dados e propõem que, talvez, não exista um planeta na órbita desta estrela: neste caso, a descoberta teria sido feita a partir de dados estelares "disfarçados" de sinais planetários.

A equipe que fez a descoberta em 2018 foi liderada por Ignasi Ribas, do Instituto de Ciências Espaciais da Espanha. Eles analisaram dados de velocidade radial coletados durante 20 anos, e notaram um sinal repetitivo, que seria um indicativo do puxão gravitacional exercido por um planeta em sua estrela. Contudo, as mudanças de velocidade podem ser traiçoeiras e indicar algo completamente diferente.

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As estrelas anãs vermelhas — como é o caso da de Bernard — são conhecidas por explosões magnéticas e manchas solares, que também podem indicar mudanças de velocidade sem ter relação nenhuma com um planeta. Ciente disso e de outros dados que poderiam distorcer os resultados, a equipe de Ribas analisou a possibilidade de haver interferência estelar em seus dados, e não encontraram nada. Assim, a descoberta foi anunciada com confiança de 99%, ou seja, havia uma chance de 1% de que o sinal observado fosse um simples acaso estatístico.

É aqui que entra o novo estudo, em que o graduando Jack Lubin e seus colegas realizaram uma nova análise dos dados e reuniram informações de outros instrumentos. Ao analisar dados coletados por um espectrógrafo, eles perceberam que, talvez, a atividade da estrela esteja “imitando” um sinal planetário, tanto que os novos dados não mostraram evidências que indicassem a ocorrência de um planeta. Além disso, ao revisar os dados apresentados pela equipe de Ribas, eles mostraram que o suposto sinal vai ficando forte e fraco ao longo do tempo, o que não deveria acontecer no caso de um exoplaneta.

A equipe de Lubin percebeu que quase todos os dados que reforçam o sinal planetário são, na verdade, 211 pontos de dados coletados durante três anos. Neste período, eles encontraram uma assinatura química relacionada à atividade estelar com período de 233 dias, o mesmo que o planeta levaria para orbitar a estrela. Portanto, a equipe conclui que o sinal que seria do planeta tem mais chances de ser causado por algum fenômeno da própria atividade dela, como uma mancha estelar.

Como ficam as descobertas?

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Lubin e seus colegas observaram que esta seria a primeira vez em que um “disfarce” assim teria ocorrido em períodos maiores do que a rotação da estrela. Se este realmente for o caso, eles propõem que a comunidade planetária fique alerta com outras observações que venham a render possíveis candidatos a planeta, para evitar possíveis equívocos causados pelos dados da estrela que o abriga.

Mesmo assim, Ribas mantém a descoberta que fez com sua equipe: "acho extremamente saudável que toda a ciência publicada seja analisada por grupos independentes e, portanto, damos as boas-vindas à análise de Lubin e dos demais", disse. Ele acrescenta que sua equipe estava ciente da possibilidade de o período de rotação ter afetado os dados, e viram que isso não era provável de acontecer: “para o nosso estranhamento, o novo estudo parece desconsiderar o fato de termos executado todas essas verificações”, finaliza.

Ribas também discordou da nova análise feita pela equipe de Lubin, que considerou dados coletados durante duas décadas. Para ele, estas informações precisam ser combinadas com muito cuidado para evitar que novos sinais sejam considerados ou que até outros sejam removidos: “os autores realmente não discutem em detalhes como eles lidam com os diferentes pontos zero dos instrumentos”, comentou. De qualquer forma, o debate em relação à existência — ou não — deste planeta precisará de mais dados para ser encerrado: "quanto mais dados coletarmos, mais confiantes ficamos das tendências ou dos sinais", disse Lubin.

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O artigo com os resultados do estudo será publicado na revista The Astrophysical Journal, e pode ser acessado no repositório online arXiv, sem revisão de pares.

Fonte: Sky and Telescope