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Sonda europeia revela segredos de nuvem misteriosa vista em Marte

Por| Editado por Patricia Gnipper | 09 de Março de 2021 às 15h05

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ESA/GCP/UPV/EHU Bilbao
ESA/GCP/UPV/EHU Bilbao

Em 2018, a sonda Mars Express havia flagrado nuvens longas e finas em Marte, acima do já extinto vulcão Arsia Mons. Após analisar as imagens, os cientistas descobriram que as nuvens eram compostas por partículas de gelo. Elas apareceram outra vez no ano passado, também na região do vulcão, mas ainda não estava claro o que estava por trás da formação delas e como era seu ciclo. Agora, novas observações feitas pela câmera que equipa a sonda revelaram os segredos por trás do fenômeno misterioso.

Quando a primavera chega ao sul de Marte, ela traz consigo a nuvem misteriosa que emerge próxima do vulcão, composta por água congelada. A nuvem se estende por alguns quilômetros, e depois desaparece em algumas horas. Assim, a Mars Express observou a formação antes de chegar ao vulcão, enquanto ainda estava na região equatorial do planeta. O mais curioso nisso tudo é que o vulcão Arsia Mons é o único local de baixa latitude de Marte em que essas nuvens são observadas, e é também somente lá que a nuvem ocorre em um momento específico, sendo que há outros vulcões na região.

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Contudo, observar o fenômeno não é nada fácil devido à dinâmica da atmosfera marciana, cujas condições mudam rapidamente. Por isso, os cientistas usaram uma “ferramenta secreta” da Mars Express, que é a Visual Monitoring Camera (VMC), também apelidada de Mars Webcam. Essa câmera tem resolução equivalente à de uma webcam comum de 2003, e foi instalada na sonda para confirmar visualmente a separação do lander Beagle 2, da missão Mars Express. Ela foi desligada depois disso, mas foi reativada há alguns anos para obter imagens de Marte.

Recentemente, a VMC foi "promovida" ao título de câmera científica e, “embora tenha baixa resolução espacial, ela tem um amplo campo de visão”, explica Jorge Hernández Bernal, autor principal do novo estudo. Assim, ela consegue obter imagens amplas em diferentes horários, e permite rastrear a evolução de formações durante longos períodos. Foi exatamente isso que os cientistas fizeram, e usaram a câmera da Mars Express para observar a nuvem crescendo e desaparecendo ao longo de vários ciclos.

Em seguida, eles uniram as observações àquelas de outras naves, como a Mars Atmosphere and Volatile Evolution (MAVEN), Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), entre outras. No fim, as descobertas revelaram que a nuvem mede 1.800 km de comprimento e 150 km de largura, o que a torna a maior nuvem “orográfica” já vista em Marte. Isso significa que ela se forma com o vento sendo forçado para cima de formações topográficas, como montanhas e vulcões — neste caso, a formação é o vulcão Arsia Mons, que causa perturbações na atmosfera, responsáveis por desencadear a formação da nuvem.

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Depois, o ar úmido sobe pelos flancos do vulcão e se condensa quando alcança altitudes mais altas e frias. Esse ciclo ocorre durante as manhãs, e se estende por alguns meses. A nuvem começa a se formar e crescer na direção oeste do vulcão antes de o Sol nascer, e depois se expande na mesma direção por pouco mais de duas horas. Então, ela pára de se expandir, se libera do local em que foi formada e é empurrada por ventos; o ciclo se encerra com a nuvem evaporando no fim da manhã com o nascer do Sol, que aumenta as temperaturas. Entender o mecanismo da nuvem permite que os cientistas tentem replicar a formação dela em modelos, que vão auxiliar na compreensão dos sistemas climáticos da Terra e de Marte.

Dmitrij Titov, cientista de projeto da Mars Express, comenta que essas descobertas demonstram os pontos fortes da sonda, como sua órbita única, qualidade persistente e capacidade de se adaptar conforme enfrenta os desafios científicos. Além disso, a câmera permitiu que a equipe compreendesse a nuvem de um modo que, em outros cenários, não seria possível. “A VMC permite que os cientistas rastreiem nuvens, monitorem tempestades de poeira, sondem nuvens e explorem mudanças nas calotas polares do planeta, e muito mais”, explica. “O uso da VMC não dá apenas suporte ao kit de ferramentas da Mars Express para a exploração, mas também agrega valor à missão de longo prazo, que vem revelando muito sobre o Planeta Vermelho desde 2003”.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Journal of Geophysical Research.

Fonte: ESA